25 de abril de 2024

Vira-lata com orgulho

André Eppinghaus é publicitário

André Eppinghaus é publicitário

Elá se foram 16 dias, sete medalhas de ouro, quatro milhões de pessoas no Boulevard Olímpico, zilhões de imagens e momentos publicados e compartilhados mundo afora. E lá se foram o desânimo, o mau humor, as previsões catastróficas, que só assustaram mesmo quem não nasceu carioca e sabe que viver na Cidade Maravilhosa não é uma maravilha, mas é a melhor coisa do mundo.

O Rio de Janeiro sempre foi, e continua sendo, a maior vitrine do Brasil. E, por isso mesmo, se acostumou aos dias de vidraça. Morar no Rio é que nem entrar no mar grande: quando você acha que furou uma onda, vem outra enorme para testar seu fôlego e disposição.

A trajetória da cidade olímpica iniciou sua contagem regressiva em 2 de outubro de 2009, em Copenhagen. Foram anos de muito trabalho, dedicação, entrega, críticas, dúvidas, questionamentos, anos de mar grande e, às vezes, revoltado, que fizeram o mundo duvidar de nós, e uma grande parte das pessoas torcer contra.

É mais fácil ser do contra, elogio não vem fácil, e vivemos o tempo em que a raiva, o medo e o pessimismo viralizam muito rápido. Mas, apesar de nossos defeitos, temos que olhar para a cidade e para o país com mais respeito e confiança depois da Olimpíada. Erguer a cabeça para além das nossas belezas, e com a consciência das nossas virtudes. O Rio atravessou a arrebentação e tem um novo horizonte à sua frente.

Vimos o Maracanãzinho cantar Cidade Maravilhosa após a vitória espetacular contra a Itália. Assistimos à seleção de vôlei subir ao pódio. Enxergamos o Brasil, em toda a sua potência, representado ali. No hino nacional cantado a plenos pulmões, na superação de quem também conheceu a derrota no percurso, na quebra de protocolo, na euforia dos que aprenderam com o esporte que nem todo sonho vira conquista.

Viva todos os Serginhos, Bruninhos, Isaquias, Tiagos, Wevertons, Diegos, Martinas, Robsons, Rafaelas, exemplos diversos de um país miscigenado, confuso, cafuso, mulato, onde nascem jabuticaba e tantas coisas únicas e difíceis de explicar. Somos um povo apaixonante e apaixonado, que tem sempre um grito engasgado e uma emoção à flor da pele. E sim, somos todos vira-latas. Com muito orgulho, com muito amor. Heróis e heroínas anônimos em busca das medalhas do dia a dia. Vencedores improváveis que não fogem à luta.

Se a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos encantou o mundo ao revelar o poder da gambiarra, a gente chega ao encerramento dessa jornada mais convicto da nossa capacidade, resiliência e criatividade. Com a certeza de que planejamento e improviso combinam, de que seriedade e alegria podem andar juntas, de que competência e compromisso não são privilégios das raças puras.

Os cães ladram, e a caravana passa. Feliz de todo vira-lata que sabe a dor e a delícia de ser o que é.

*André Eppinghaus é publicitário

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