Morre aos 91 anos o filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman morreu nesta segunda-feira, 9, aos 91 anos. Ele vivia em Leeds, na Inglaterra, há décadas, e foi o criador do conceito “modernidade líquida”.
Bauman foi um dos intelectuais chaves do século 20 e se manteve ativo até os seus últimos dias. De acordo com uma amiga da família e professora de filosofia em Varsóvia, Bauman morreu em casa, cercado pela família.

Sua obra, que inclui mais de 50 livros e ganhou proeminência nos anos 1960, foi reconhecida com diversos prêmios, entre eles o Príncipe de Asturias de comunicação e humanidades, em 2010.

Zygmunt Bauman presenciou os principais acontecimentos do século 20 e na virada do milênio criou uma teoria — a liquidez do nosso tempo — que levaria seu nome para além do campo da sociologia e o tornaria um escritor best seller.


No Brasil, sua obra era amplamente publicada pela Editora Zahar, que antes da notícia já planejava para janeiro uma nova obra, Estranhos À Nossa Porta, uma reflexão sobre a crise migratória na Europa. Segundo a editora, Bauman analisa neste livro as origens, os contornos e o impacto desse “pânico moral” que os refugiados despertam em algumas pessoas.

Em uma entrevista à reporter Maria Fernanda Rodrigues, do Estado, em agosto de 2016, Bauman comentou justamente esse livro. “O problema não é o número crescente, em vários países, de pretendentes a regimes autoritários, mas do ainda mais rápido crescimento de seus devotados apoiadores”, disse Bauman na ocasião. “Não é uma questão sobre os que querem o poder (eles sempre serão muitos, já que a demanda popular por eles é abundante), mas sobre a ampliação da demanda pelos serviços que eles falsamente prometem que constitui indiscutivelmente o mais perigoso dos desafios futuros que enfrentaremos”.

Clique aqui para ler a entrevista.

Entre seus trabalhos mais célebres, está também Modernidade e Holocausto, de 1989, livro em que ele discorda da maioria dos pensadores que consideram o Holocausto uma ruptura na modernidade. Para Bauman, o extermínio em massa dos judeus era exatamente um resultado de pilares da modernidade, como industrialização e a burocracia racionalizada.
“Foi o mundo racional da civilização moderna que tornou o Holocausto palpável”, escreveu.

Na década de 1990, ele forjou o termo “modernidade líquida” para descrever um mundo contemporâneo em tal fluxo que os indivíduos são deixados sem raízes e desamparados de quaisquer parâmetros previsíveis. Seus trabalhos também exploram a fragilidade das conexões humanas nos tempos modernos e a insegurança gerada por um mundo em constante transformação.

Na Polônia, ele era frequentemente uma figura controversa. Em 2006, um historiador identificado com a direita revelou documentos mostrando que Bauman serviu como oficial numa organização militar na época de Stalin, a Internal Security Corps, que estava ajudando a impor o comunismo na nação ao assassinar opositores ao regime.
Bauman reconheceu pertencer àquela instituição, mas ele insistiu que tinha apenas um trabalho de escritório. Nenhuma evidência apareceu conectando o filósofo a qualquer morte.

Nacionalistas também o enxergavam como inimigo do país. Em 2013, apoiadores de uma organização de extrema-direita interromperam um debate público com Bauman na cidade de Breslávia, assobiando e com gritos de “vergonha” e “abaixo o comunismo”, portando fotos de resistentes poloneses mortos pelos comunistas.
Depois disso, ele parou de visitar a Polônia.

As teorias de Bauman foram uma grande influência no movimento antiglobalização. Ele focou nos excluídos e marginalizados, descrevendo quantas pessoas viram suas chances de uma vida digna destruídas pelo novo mundo sem fronteiras. Como resultado, ele encontrou um séquito de seguidores na Espanha e na Itália, onde jovens adultos sofreram muito com os deslocamentos econômicos nos últimos anos.

Bauman nasceu na Polônia em 1925, e quando criança teve que fugir com a família por conta do Nazismo. Em seguida, ele foi também exilado da URSS, expulso pelo Partido Comunista, em uma confusão marcada pelo anti-semitismo envolvendo conflitos em Israel. Ele se mudou para Tel Aviv, e mais tarde se instalou na Universidade de Leeds, na Inglaterra, onde permaneceu a maior parte da sua carreira.

A Universidade criou o Instituto Bauman em sua homenagem, dedicado a muitas de suas preocupações, como ética, consumismo, globalização e modernidade. A esposa de Bauman durante 62 anos, Janina Bauman, morreu em 2009. Ele deixa sua segunda esposa, Aleksandra Jasinska-Kania, três filhas e vários netos.

Com informações da AP (Associated Press)

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