Para receber a família do presidente da República, Michel Temer, o Palácio da Alvorada passou por pequenas reformas e mudanças na decoração interna, constatou o G1 na última quarta-feira (22), dia em que a visitação pública foi reaberta após quase um ano. Os passeios guiados tinham sido suspensos em março do ano passado por “medidas de segurança”.
Michel Temer, a primeira-dama, Marcela Temer e o filho do casal, Michelzinho, se mudaram para o Alvorada no último final de semana. Antes, estavam no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República.
Uma das mudanças nas dependências do Alvorada foi a instalação de uma tela de proteção que alcança até o teto da sacada do primeiro andar do prédio, onde fica a área residencial, com o quarto de Michelzinho. A finalidade foi evitar uma queda do menino da sacada. A decoração do palácio ficou mais suave, com cores neutras, como bege, creme, branco, azul e preto.
A família Temer se mudou pouco mais de cinco meses após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que deixou de morar no Alvorada em 6 de setembro. Desde então, Temer usava o palácio somente para reuniões e jantares com políticos e Marcela, para atividades do programa Criança Feliz, do qual é embaixadora. Nesse intervalo, mesmo com Temer já como presidente, o casal continuou morando no Jaburu.
Antes da chegada da famíla Temer, parte das instalações internas do palácio passou por pintura e foram executados reparos no mobiliário.
De acordo com o diretor do Departamento de Documentação Histórica da Presidência, Antônio Lessa, não houve mudanças na estrutura do prédio porque o imóvel é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Somente parte do mobiliário e de objetos decorativos foram trocados de lugar, sem prejuízo para o acervo presidencial, informou.
A preparação do Alvorada para receber a família Temer custou R$20.279,65, segundo informou o G1 com base em informações obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação.
Mudanças no Alvorada
O Palácio da Alvorada tem três pavimentos: térreo, primeiro andar e subsolo. A mudança mais visível é a instalação da rede de proteção na sacada do piso superior, com quatro suítes e outros aposentos íntimos (veja no vídeo abaixo a área dos jardins, os pavimentos e a tela de proteção na sacada).
Segundo assessores informaram ao G1, a rede foi um pedido de Marcela, como medida de segurança para evitar uma possível queda de Michelzinho. De acordo com Antônio Lessa, o objeto é móvel, preso por ganchos, e a instalação teve o consentimento do Iphan.
No térreo, ficam salões usados pelo presidente da República para compromissos oficiais. Somente nessas salas, Lessa estima que há cerca de dez jogos de sofás.
A maioria agora é nas cores branca, creme e preta, além das cadeiras no tom de azul-marinho no salão de banquetes. Até a permanência da ex-presidente Dilma Rousseff no palácio, havia conjuntos vermelhos e em tons terrosos.
Segundo Lessa, alguns sofás ganharam novos estofamentos devido à sujeira e ao desgaste do tempo – há peças com até 50 anos. Um que era vermelho, por exemplo, virou bege. Outros de cores mais fortes foram realocados para ambientes diferentes e substituídos pelos de cores mais claras.
Houve mudanças também nos tapetes, que não chegaram a ser trocados, mas deslocados de sala para preservar o piso de jacarandá do palácio, uniformizado e encerado.
Embora grande parte das peças continue com detalhes em vermelho vivo pelo fato de a maioria ser de origem oriental, é possível perceber que os de tons mais claros ou vinho predominam.
As modificações, porém, não foram motivadas somente pelas restaurações necessárias. Como os novos moradores do palácio, o gosto pessoal da família Temer foi decisivo para a troca na paleta da decoração, admite o diretor.
“Nesse caso, especificamente, foi uma troca para que nós readaptássemos o palácio à vida do casal presidencial. O palácio ficou desocupado durante um período. Pode-se dizer que sim, [houve] uma alteração ou outra em função de gosto”, afirmou Lessa.
Na entrada do palácio, não houve mudanças. Ao passar pelo espelhos d’água projetados para refletir os traços do prédio e pela escultura “As Iaras”, de Alfredo Ceschiatti, o visitante é recebido pelo tapete vermelho da rampa entre paredes douradas de latão ionizado.
Durante a visitação pública, também foi possível observar detalhes do cotidiano da família presidencial. No imenso jardim do palácio, ao lado do campo de futebol e debaixo de uma árvore, por exemplo, foi colocado um pula-pula azul para o filho do casal presidencial, Michelzinho.
No momento em que o G1 participava da visita, na área do jardim um funcionário levava os dois cachorros da família para passear – um Golden Retriever chamado Thor e um Jack Russell chamado Piculy (veja no vídeo abaixo).
Funcionário passeia com cachorros no jardim do Palácio da Alvorada
Obras de arte devolvidas
A Presidência da República devolveu em dezembro e janeiro ao Museu Nacional de Belas Artes (MnBA), no Rio de Janeiro, 48 obras de arte, entre quadros e mobílias, que estavam expostas em dependências do Alvorada e também do Palácio do Planalto (sede do Poder Executivo, onde o presidente despacha).
Entre as peças que retornaram ao museu, estão trabalhos de artistas como Cândido Portinari, Eliseu Visconti, Alberto da Veiga Guignard, Djanira e Rodolfo Amoedo.
Essas obras de arte haviam sido cedidas à Presidência em regime de comodato (espécie de empréstimo gratuito) e uma parcela delas precisava passar por restauração. Segundo a Presidência, essas obras foram substituídas por outras com o mesmo peso artístico e histórico.
Na visita ao Alvorada, o G1 constatou que uma tapeçaria de Kennedy Bahia e um quadro de Alfredo Volpi, ambos em tons avermelhados, continuam no salão de Estado, assim como a tapeçaria “Músicos”, de Di Cavalcanti, na biblioteca presidencial – com acervo de cerca de 3,4 mil livros (veja no vídeo abaixo).
Palácio da Alvorada
Assim como outros edifícios públicos de Brasília, o Palácio da Alvorada foi projetado pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer e inaugurado em 30 de junho de 1958.
O terreno de todo o complexo, que inclui uma capela, se localiza em uma península que divide o lago Paranoá nos bairros do Lago Sul e Lago Norte.
No subsolo, há sala de jogos, auditório com capacidade para 30 pessoas, almoxarifado, despensa, cozinha, lavanderia e a administração do local.
O jardim do palácio tem diversas espécies da flora brasileira, plantadas pelo jardineiro do Palácio Imperial do Japão, Yoichi Aikawa, um lago artificial, emas e papagaios.
A segurança de toda a área é feita pelo Batalhão da Guarda Presidencial e por guardas sob responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Visitação pública
A visitação pública e gratuita ao Palácio da Alvorada foi reaberta em 8 de fevereiro, somente às quartas-feiras, a partir das 14h30, com 20 minutos de duração e mediante retirada de senha. Os visitantes são acompanhados por um guia.
Os tours haviam sido suspensos em março do ano passado por “medida de segurança e prevenção de danos ao patrimônio público, devido ao conturbado momento político à época”, informou a Presidência.
* Colaborou Roniara Castilhos, da TV Globo