CAP ajuda moradores de rua a resgatar dignidade social

Provavelmente você já viu essa tirinha: um homem, em vestes sujas, explica para outro morador de rua que descobriu a fórmula da invisibilidade. Quando o amigo, curioso, pergunta qual o segredo, mostra-se uma placa com os dizeres “Preciso de ajuda”. O amigo, então, começa a gritar: “Cadê você?!”

Parece bobagem, mas é o cotidiano de milhões de pessoas no mundo, à margem da sociedade, taxadas de “lixo humano”, sem contar com o apoio até do próprio governo. Felizmente, em Rio Branco, as ações de uma equipe dedicada vêm mudando a realidade de muitos moradores de rua.

Inaugurado em 2002, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD III) realiza, atualmente, uma média de 30 a 60 atendimentos diários, podendo chegar a mais de 800 atendimentos por mês.

CAPSAD tem ajudado a reintegrar moradores de rua à sociedade /Foto: Astorige Carneiro/ContilNet

Conveniado com as redes de saúde, o CAPS trabalha com atendimentos diurnos e noturnos, recebendo moradores de rua que, muitas vezes, também estão em situação de dependência química.

Após acolhimento, recebem auxílio para se alimentarem, leitos para dormirem e apoio para receberem consultas médicas, pois muitos estão com problemas de saúde em decorrência da falta de higiene e de hábitos nocivos para o organismo.

“Acreditar que o chamado ‘lixo humano’ nada mais é do que um grupo de pessoas que passaram por uma série de infortúnios. Quem passa na rua e observa a situação deplorável delas não imagina que ali está um pai ou a irmã de alguém, por exemplo, que isso pode acontecer com alguém próximo de nós”, explica Joelma Silva, psicóloga e gerente geral do CAPS.

Para Fagner, enfermeiro e responsável pela gerência de assistência à saúde, o trabalho nada mais é do que gratificante: “Muitos chegam no pior momento de suas vidas. Levá-los a um novo patamar, onde as pessoas em situação de vulnerabilidade social tornam-se os gerenciadores de suas próprias vidas, é uma situação muito recompensadora. Como profissional da Saúde, é um privilégio poder exercer a função para a qual me preparei, que é zelar pela saúde de quem mais precisa”.

Quem passa na rua e observa a situação deplorável delas não imagina que ali está um pai ou a irmã de alguém”, disse Joelma

“Existem muitos Nelsons por aí”

Entre os beneficiados pelas ações do CAPS, está Nelson Gomes Araújo. Cearense de 37 anos, ele enfrentou por 13 anos a batalha contra o vício em crack. Durante esses anos, Nelson passou elas cidades de Ariquemes e Porto Velho, ambas no Estado de Rondônia, antes de chegar ao Acre.

“Muitos precisam apenas de uma mão amiga para começar uma jornada de renovação”, desabafou Nelson

“Perambulava pelo centro da cidade, próximo ao Quartel da Polícia Militar. Quando você mora na rua, vira invisível, vítima de desprezo. Aqui no CAPS encontrei exatamente o que faltava para que pudesse me reerguer: afeto”, relatou Nelson.

Após o atendimento do Centro e uma vontade de mudar a própria vida, Nelson participou das atividades propostas pelo CAPS, aceitou as boas intenções da equipe e encontrou a força interior com as palestras e a religiosidade para iniciar sua reabilitação, afastando o vício do crack de sua vida.

Com o apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semcas), Nelson ganhou uma passagem para retornar à cidade de Fortaleza e encarar um novo desafio: reconciliar-se com a família que deixou para trás.

“Tenho cinco irmãos e dois sobrinhos, mas o que me entristece mais é a dor que causei aos meus três filhos quando os abandonei. Quis sair da sujeira em que eu me encontrava para ter uma nova chance com eles antes que fosse tarde demais. Ou você morre pela droga, ou morre pelos outros drogados”, revelou.

O ex-dependente químico também pede que a sociedade tenha mais clemência para quem precisa de ajuda: “Existem muitos Nelsons por aí. Muitos precisam apenas de uma mão amiga para começar uma jornada de renovação”.

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