Rio Branco é a primeira cidade do mundo a contar com o monitoramento dos ovos do Aedes aegypti feito a partir de um aplicativo – o AeTrapp, que proporciona ao poder público a informação correta sobre a infestação predial na cidade. O monitoramento cidadão de focos do Aedes, que usa a nanotecnologia para a contagem dos ovos do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunha, de forma automatizada é utilizada em Rio Branco graças a uma parceria firmada entre a Organização Não Governamental – ONG ambiental WWF e a secretaria Municipal de Saúde – SEMSA.
O monitoramento é feito a partir da instalação de armadilhas montadas em 200 casas – as ovitrampas, que tem uma paleta onde os ovos do mosquito ficam grudados. A cada sete dias, os moradores devidamente capacitados pela WWF, retiram e fotografam as paletas. Aí o aplicativo faz o resto: a contagem automatizada dos ovos e o envio das informações para um banco de dados e para um mapa da cidade com cores diferentes em função do número de ovos encontrados. Com isso, ajuda no combate ao mosquito e no direcionamento das ações de controle de endemias. De posse das informações desse banco de dados, a comunidade e os agentes públicos poderão visualizar os padrões de proliferação, fazer comparativos de quantidades de mosquitos em diferentes localidades, analisar séries históricas e, assim, elaborar estratégias precisas e efetivas para o combate, priorizando as áreas mais críticas.
O analista de conservação da WWF, Flávio Quental, explica que o aplicativo é fruto de um projeto selecionado por meio de concurso realizado pela empresa Google: o Prêmio de Inovação. A cidade de Rio Branco foi escolhida por ser uma capital de médio porte e que registra um alto índice de infestação predial. Segundo Flávio Quental, o projeto possibilita o engajamento de comunidades do Acre no monitoramento de populações de mosquitos Aedes, que é o transmissor de zika, dengue e chikungunya. “A ideia é proporcionar ao poder público essa ferramenta que é precisa. A partir das informações, a secretaria de Saúde de Rio Branco vai ter a cada sete dias o mapa dos focos de infestação do mosquito e, a partir disso, poderá montar sua estratégia de atuação no combate ao mosquito baseada nos dados coletados. A próxima capital a ser beneficiada será Recife”, conclui o analista da WWF.
O projeto vai contemplar 200 residências em 10 bairros de Rio Branco. Inicialmente, 50 armadilhas já estão montadas. Grande parte delas no Conjunto Tucumã, onde há um grande índice de infestação nas casas. Todos os participantes foram capacitados pela WWF sobre a biologia e comportamento do mosquito Aedes, para a confecção das armadilhas de ovos e na instalação e utilização do aplicativo.
Em uma segunda etapa, após avaliações e aprendizados da etapa piloto, o projeto poderá ser estendido para todos os bairros de Rio Branco, bem como para outras cidades do Brasil e do mundo.
Armadilhas econômicas
As armadilhas instaladas nas casas são feitas de garrafas pet pelos próprios participantes do projeto, no caso, os estudantes da Escola Raimundo Gomes no Tucumã e moradores de outros bairros da cidade. A confecção das ovitrampas foi parte da capacitação ministrada pelos técnicos da WWF. Já as armadilhas utilizadas pela SEMSA desde 2015 são industrializadas.
Para o chefe do Departamento de Endemias e Controle de Vetores da secretaria Municipal de Saúde, José Ferreira Neto, o Louro, a ferramenta de monitoramento será um grande reforço nas ações de combate ao Aedes. Ele ressalta que a SEMSA possui duas mil armadilhas – as ovitrampas, cujo monitoramento é feito de forma manual. “A cada sete dias, os agentes retiram as armadilhas, levam a paleta para o laboratório e fazem a contagem manual dos ovos – processo esse que é mais lento. Com o aplicativo tudo é agilizado e nosso poder de resposta é otimizado. Sabendo onde estão os focos, agimos rápido para fazer a eliminação dos riscos com larvicida, o bloqueio químico da área infestada”, disse.
Cidadania
Trinta alunos da Escola Raimundo Gomes, no Tucumã, são participantes do projeto e têm armadilhas instaladas em suas casas. Layssa Souza, de 11 anos, aprendeu todo o processo e sente orgulho de fazer parte do projeto. “Eu mesma fiz minha armadilha com garrafa PET, fotografo tudo e insiro no aplicativo. Sinto que minha ação beneficia minha família, meu bairro e minha cidade e me sinto uma cidadã útil”. A professora Débora dos Santos, que leciona na mesma escola, cita que a direção do colégio incentiva essa participação cidadã. “Eles se envolvem, se sentem fazendo parte de algo importante”.
Ovitrampas
As ovitrampas são armadilhas que ajudam a evitar a proliferação de novos mosquitos. Elas simulam o ambiente perfeito para a procriação do Aedes aegypti: um vaso de planta preto é preenchido com água, que fica parada, atraindo o mosquito. Nele, os pesquisadores inserem uma palheta de madeira, que facilita que a fêmea do Aedes coloque ovos. Dentro do recipiente, é colocada uma substância larvicida. Dessa forma, os vigilantes conseguem observar de maneira mais rápida e eficiente a quantidade de mosquitos naquela região e aceleram as ações de combate, sem que o inseto se desenvolva e ao mesmo tempo há a eliminação dos ovos por meio do larvicida impregnado na paleta da armadilha.
A partir dos dados recolhidos, as secretarias de saúde conseguem definir com mais exatidão quais regiões precisam de ações contra o mosquito com mais urgência.