Camelô chegou à Câmara Municipal sem gastar com gasolina e nem cabos eleitorais

Na manhã de terça-feira (9), ao retornar à Câmara Municipal de Rio Branco, o vereador Juruna, afastado por quase 36 dias dos trabalhos da Casa, disse em entrevista coletiva ao argumentar inocência da condenação imposta pela Justiça do Acre, que é pobre e que não tem nem “um pneu de bicicleta” como patrimônio.

Depois de fintar a Polícia Judiciária, mantendo-se foragido por quase quarenta dias, a declaração do vereador abriu um novo desafio, desta vez, aos analistas políticos do estado: como Juruna se elegeu com 1.922 votos sem tirar um centavo do bolso?

Vereador Carlos Juruna /Foto: Reprodução

É o que demonstra a Prestação de Contas do vereador aprovada, sem ressalvas, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Acre. Os dados disponíveis através do divulgacandcontas.tse.jus.br, do TSE, mostram que Juruna não precisou gastar nem com pagamento de cabo eleitoral e muito menos com combustível.

A sua campanha recebeu R$ 7.322,58, de investimentos, desse total, R$ 4.722,58 foram doados pelo partido, o PSL. Outros R$ 2.600 foram doações de pessoas físicas, uma delas e mais expressiva, veio do ex-deputado estadual Chico Viga, um total de R$ 2.000.

Outras pequenas doações foram feitas por Francisco Aurélio Rego da Silva, de R$ 300, e Camila Pereira Machado de Lima, também de R$ 300. Na lista de fornecedores estava apenas a JC Gráfica e Editora Ltda.

Os dois maiores gastos do vereador foram em publicidade através da produção de santinhos, um total de R$ 5.417. Com produção de programa de rádio e televisão, segundo a prestação de contas, foram destinados R$ 1.240.

A eleição de Juruna para 16ª vaga da Câmara Municipal não chegou nem aos pés, em termos de investimentos, do último colocado, o vereador Tucano Clézio Moreira. Este declarou gastos no valor de R$ 23.984,10. Na outra ponta, o vereador mais votado, o advogado Roberto Duarte, a eleição teve um custo de R$ 41.459. Nem a eleição do comunista Eduardo Farias, líder do prefeito Marcus Alexandre, foi tão simples, custou R$ 30.257,77.

Qual a mágica feita pelo líder dos Camelôs de Rio Branco? – Juruna não atendeu aos telefonemas feitos pela reportagem para o número informado pela Câmara Municipal.

A direção do partido não soube informar quantas inserções [quantas vezes] o então candidato pela coligação PMB/PSL apareceu na telinha da TV e levou sua mensagem de campanha através dos programas de rádio da aliança.

De fato, Juruna não revelou ao TRE nenhum patrimônio. E embora tenha afirmado que vive de favor na casa do sogro, o vereador disse que é divorciado. A depender do total de aparições durante o horário eleitoral, Juruna, mesmo eleito por média, na rabeta das vagas disponíveis, pode ter sido a grande revelação das eleições de 2016, inaugurando um novo modelo de eleição na capital.

Assunto veio à baila após batalha jurídica em que Juruna luta por inocência

Eleito por média, na 16ª vaga para Câmara Municipal de Rio Branco, em 2016, com 1.922 votos, desde o final de dezembro de 2016, o líder dos Camelos da capital começou a enfrentar problemas com a Justiça ao ser condenado já em segunda instância por peculato e tráfico de influência.

PARA ENTENDER O CASO:

O primeiro pedido de prisão do vereador Juruna foi decretado no dia 15 de fevereiro de 2017, pelo juiz da 1ª Vara Criminal Danniel Gustavo Bomfim da Silva. O vereador condenado saiu pela porta dos fundos da Câmara Municipal para não ser preso dentro do plenário. Começava a primeira negociação entre seu advogado Waldir Perazzo e as autoridades do Judiciário. O vereador se entregou no fim da tarde à Polícia Civil e ficou preso no Quartel do Batalhão Ambiental da Policia Militar, em Rio Branco.

Jurua está de volta à Câmara Municipal /Foto: Reprodução

A primeira vitória na esfera judicial viria 48 horas depois, quando através de liminar, o Superior Tribunal de Justiça determinou a soltura do vereador. Durou menos de três dias a primeira prisão do acusado.

Praticamente um mês depois, Juruna foi derrotado no julgamento de seus recursos junto à Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, que determinou, no dia 23 de março, a prisão imediata do condenado. Viria então o processo mais longo da briga do vereador com a Justiça e a Polícia Judiciária.

Mais uma vez, o vereador se negou a cumprir o mandado de prisão e sumiu. Estranhamente, Juruna conseguiu dois atestados médicos, diagnosticando supostos problemas cardíacos e transtornos depressivos. A estratégia de defesa, visava garantir o recebimento integral do salário pago pela Câmara Municipal, uma vez que, escondido, o vereador não frequentava as sessões ordinárias da Casa Legislativa.

Questionado sobre a validade dos atestados, um deles emitido por um pediatra, Juruna mudou de postura e resolveu pedir afastamento sem ônus do cargo, por 120 dias, para, segundo suas alegações, cuidar exclusivamente da defesa de seu processo. Dos 17 vereadores de Rio Branco, segundo a Câmara, dez votaram a favor do afastamento, outros dois, Emerson Jarude (PSL) e Roberto Duarte (PMDB), votaram contra. A vereadora Lene Petecão (PSD) se absteve e outros três parlamentares não estavam presentes na sessão, Clézio Moreira (PSDB), Célio Gadelha (PSDB) e Railson Correia (PTN).

O vereador condenado já havia sido notificado, via Diário Oficial do Estado (DOE), para apresentar defesa escrita ao Conselho de Ética da Câmara Municipal, no último dia 18 de abril. O pedido de cassação do mandato de Juruna foi representado por seu suplente, Afonso, do PMB.

No dia 3 de maio, por meio de liminar, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, decidiu que o vereador José Carlos Juruna (PSL) deve responder todos os processos na Justiça do Acre em liberdade.

No dia 9 de maio, Juruna voltou ao Plenário da Câmara Municipal e em entrevista coletiva à imprensa disse que é pobre, e que não tem um “pneu de bicicleta” como patrimônio. Segundo o vereador, ele vive de favores na casa do sogro e nunca participou de nenhum esquema de venda ou permuta ilegal de boxes comerciais nos Camelôs de Rio Branco.

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