Manifestantes se reuniram em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, na noite desta quarta-feira (17), para protestar contra o presidente Michel Temer. O ato fazia referência às denúncias, reveladas pelo jornal “O Globo” no fim da tarde, de que Temer foi gravado dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Por volta das 22h20, a Polícia Militar contabilizava mais de cem manifestantes no local. Naquele momento, uma pessoa já tinha sido detida por tentar invadir a área privativa do Palácio do Planalto, de acordo com a PM.
Pouco antes das 22h, o grupo que se reunia em frente às grades de proteção do Palácio do Planalto foi “recuado” pela Polícia Militar rumo à Praça dos Três Poderes – do outro lado das seis faixas do Eixo Monumental. Os militares usaram spray de pimenta no momento desse recuo.
Segundo a corporação, o uso do spray ajudou a “impedir a invasão” do prédio. Apesar do cerco policial, por volta das 23h, os manifestantes já tinham voltado a ocupar a calçada em frente às grades de proteção do Palácio do Planalto.
Em razão do protesto, todas as faixas do Eixo Monumental no sentido rodoviária-Congresso foram bloqueadas na altura do Palácio do Itamaraty, antes da Praça dos Três Poderes. O trânsito foi direcionado para a via S2, que passa por trás dos ministérios, no mesmo sentido.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que protocolou um pedido de impeachment contra o presidente Michel Temer após as denúncias, esteve no protesto. Deputados do PT, como Erika Kokay (DF) e Robinson Almeida (BA), também compareceram.
“Os fatos são muito graves, a delação é muito grave, o crime está mais do que comprovado. Portanto, não há como parar esse processo. Espero que o Rodrigo Maia, amanhã, despache o seu ‘de acordo’, mande instalar a comissão, e que a gente casse Michel Temer o quanto antes”, disse Molon.
Dentro do Planalto
Militares do Exército que atuam na segurança do Palácio do Planalto também se posicionaram nos arredores do prédio, para conter o avanço dos manifestantes. No protesto, havia pessoas com bandeiras do PT e do Brasil. O grupo gritava palavras de ordem contra Michel Temer e contra o impeachment de Dilma Rousseff, e também pedia eleições diretas para a presidência da República.
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que Temer se reuniu com o empresário Joesley Batista, dono da JBS, mas “jamais” tentou evitar a delação de Cunha. “Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”, diz trecho.
A denúncia
Segundo o jornal, o empresário Joesley Batista entregou uma gravação feita em março deste ano em que Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Lourdes (PMDB-PR) para resolver assuntos da J&F, uma holding que controla o frigorífico JBS. Posteriormente, Rocha Lourdes foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil, enviados por Joesley.
Ainda não há informação sobre se a delação foi homologada. O Supremo Tribunal Federal (STF) disse que não irá se pronunciar nesta quarta-feira (17) sobre a delação.
Em outra gravação, também de março, o empresário diz a Temer que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para que permanecessem calados na prisão. Diante dessa informação, Temer diz, na gravação: “tem que manter isso, viu?”
Na delação de Joesley, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, é gravado pedindo ao empresário R$ 2 milhões. A entrega do dinheiro foi feita a Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio, e filmada pela Polícia Federal (PF). A PF rastreou o caminho do dinheiro e descobriu que foi depositado numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).