O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio do Centro de Atendimento à Vítima (CAV) e do Centro de Especialidades em Saúde (CES), promoveu, na tarde desta quarta-feira (23), uma roda de conversa com o tema “O direito à vida e o papel do Estado e da imprensa na disseminação da informação: o caso dos suicídios no Acre”.
Iniciativa do procurador-geral de Justiça, Oswaldo D’Albuquerque Lima Neto, o debate reuniu membros e servidores do MPAC, além de profissionais da imprensa. O evento contou com as palestras da coordenadora do Núcleo de Prevenção de Suicídios do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), psicóloga Andreia Vilas Boas, que apresentou estatísticas históricas dos casos de suicídios consumados e tentados no Acre, bem como suas possíveis motivações e consequências; e da jornalista Juliana Lôfego, que discorreu sobre o tema “O fato, a notícia, os impactos na sociedade e seus direitos na defesa do direito fundamental à vida”.
A procuradora de Justiça e coordenadora do CAV, Patrícia Rêgo, explicou que a motivação para a promoção do debate foram casos recentes de suicídio que comoveram a sociedade acreana. “É uma questão que nos aflige e causa dor. Fizemos uma reflexão no MPAC que deveríamos iniciar um trabalho relacionado a isso, já que o suicídio é uma questão de saúde pública”, ressaltou.
“O debate é uma primeira atividade, onde queremos discutir como trabalhar essa informação de forma adequada e como podemos ser úteis na busca pela prevenção”, completou.
Números crescentes
A psicóloga Andreia Vilas Boas apresentou dados preocupantes sobre o tema, mostrando que somente neste ano foram registradas 148 tentativas de suicídio. Ela ressaltou que os dados são incompletos, já que muitos casos não são registrados como suicídios e tentativas. Na apresentação, ela também demonstrou que os números tendem a crescer conforme casos de maior impacto são divulgados sem o devido cuidado pela imprensa e por meio de redes sociais.
“A imprensa é importante na prevenção do suicídio, no tratamento da notícia que vai ser veiculada. A OMS e Associação Brasileira de Psiquiatria criaram cartilhas para os profissionais de comunicação explicando que não é aconselhável que se noticie o método e que não se dê um alarme grande para os casos, porque isso pode aumentar o número de suicídios”, explicou.
Responsabilidade
A jornalista Juliana Lôfego, professora da Universidade Federal do Acre (Ufac), destacou que é papel da imprensa trabalhar em conjunto com autoridades de saúde na preservação dos fatos. Ela também deu detalhes sobre a forma como o suicídio deve ser tratado pela imprensa, que deve evitar manchetes sobre casos, mostrar indicadores de risco e sinais de alerta de comportamento suicida, entre outros aspectos.
Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Acre (Sinjac), Victor Augusto, a conscientização sobre o tema é um trabalho fomentado pelo sindicato. “A imprensa tem essa responsabilidade de informar de uma forma que não influencie outras pessoas, procurando orientar para evitar a ocorrência de fatos similares. Temos transmitido isso a todos os profissionais que atuam na área e também aos acadêmicos”.
Ações do MPAC
Durante o debate, a procuradora de Justiça Patrícia Rêgo anunciou que será criada, dentro do Prêmio de Jornalismo do MPAC, uma categoria com foco na prevenção do suicídio. “Pretendemos estimular a imprensa a pensar e a divulgar o assunto, com a responsabilidade necessária”.
A corregedora-geral do MPAC, Kátia Rejane de Araújo Rodrigues, que representou o procurador-geral de Justiça na ocasião, falou sobre as as ações que são realizadas dentro da instituição. “Intensificamos, junto ao procurador-geral de Justiça, o cuidado com nossos membros e servidores. A corregedoria já havia implementado um serviço de acompanhamento psicológico direcionado aos nossos membros, diante do estresse causado pela profissão. Além disso, temos o mesmo serviço oferecido no CES, abrangendo o atendimento aos servidores”, ressaltou.
Por ocasião do Setembro Amarelo, mês de enfrentamento à depressão, o MPAC vai realizar, nos dias 13 e 14, um seminário sobre saúde mental. “Nosso tema central está voltado para um olhar personalizado e humanizado para a depressão e o suicídio, pensando também na família das vítimas”, explicou a coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde, Pessoa Idosa e Pessoa com Deficiência do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), procuradora de Justiça Gilcely Evangelista.
O procurador de Justiça Sammy Barbosa chamou a atenção para a importância da realização de debates como esse. “Essa tem sido uma estratégia muito profícua que o MP tem adotado, de abrir suas portas e impulsionar a discussão sobre estes temas que são importantes para a sociedade, recebendo os representantes da sociedade civil”.