Ainda é muito cedo para se afirmar que o vereador Emerson Jarude, de 27 anos, é um político diferente, mesmo porque ele é um neófito no exercício de cargos públicos. No entanto, já deixou algumas marcas que o caracterizam: elegeu-se vereador sem esquemas, nomeou assessores por critérios técnicos, não quis vínculos com o prefeito para manter independência, votou a favor da população rio-branquense e renunciou benefícios que considerava desnecessários.
Essa postura ética e coerente causou a ira de aliados do prefeito Marcus Alexandre, principalmente depois que assinou a Comissão Especial de Investigação (CEI), que investigou o transporte coletivo na Capital. Achavam eles que Jarude iria aderir à nefasta política franciscana do dando que se recebe. “O transporte coletivo em Rio Branco é irregular”, garante o parlamentar, que tem por base o relatório da Comissão.
Mas os ventos foram favoráveis a Jarude. A resolução da direção nacional do PSL de não apoiar o PT levou a saída dos dirigentes no Acre e a ascensão dele como novo presidente da executiva municipal. “Não temos afinidades com a Frente Popular nem com a oposição”, ressaltou o político, que defende uma chapa alternativa para concorrer às eleições do próximo ano.
Nono vereador mais bem votado, Jarude, que é bacharel em Direito pela Universidade Federal do Acre (Ufac), foi o candidato mais jovem eleito em 2016. Antes, trabalhou nos Correios, Detran, Procuradoria Geral do Estado, Defensoria Pública, Sebrae e Tribunal de Justiça.
Também foi fundador do Movimento Geração Atitude no Acre, que busca unir jovens cansados da forma atual de fazer política e que anseiam por novas e boas práticas na administração pública.
Como ele se elegeu? Jarude combinou a participação ativa nas redes sociais, com o diálogo direto com a população, fazendo dos semáforos de Rio Branco o seu palanque durante os 45 dias de campanha. “Abri mão da ajuda financeira do partido e fiz uma campanha simples, com o objetivo de conhecer as necessidades da população”, explicou ele.
Na Câmara Municipal de Rio Branco foi eleito por unanimidade presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. Além desta comissão, Jarude faz parte também da Comissão de Orçamento, Finanças e Tributação; e da Comissão de Urbanismo, Infraestrutura, Trânsito e Transporte Municipal.
Em seis meses de mandato, Emerson Jarude apresentou indicações de melhorias, propôs projetos de lei e resoluções, emendas, moções, convocações que juntos somam 627 proposições.
Convidado para uma entrevista, o vereador foi à redação da ContilNet Notícias e falou da vida simples de um filho de funcionários públicos, do gosto pelos estudos, do exercício do mandato e da política partidária. “Apesar de estar demonizada, a política ainda é a forma mais apropriada para servir a população”, destacou.
Vejam os principais trechos da entrevista:
ContilNet – Como a política partidária entrou na sua vida?
Jarude – Eu nunca havia me envolvido com política. Eu sempre fui concurseiro, buscando um caminho diferente do que estou hoje. Com 18 anos fui aprovado no vestibular para Direito e logo em seguida passei num concurso do Sebrae. Trabalhava de dia e estudava à noite. Quando me formei, aos 23 anos, fui acometido por um sentimento de revolta com cenário nacional. Muita gente despreparada e apenas com o intuito de se locupletar.
Então, juntamente com alguns amigos, concluímos que não tinha ninguém que nos representasse. Não cabe mais dizer que é oposição ou situação, mas ser a favor da população. Quando eu aceitei ser candidato, os meus pais foram contra. Como funcionários públicos, eles conhecem os bastidores da política e seus expedientes nada republicanos. Se pensarmos assim, só vai entrar quem não tem nada a perder. A política hoje está criminalizada.
ContilNet – Em nenhum momento, na eleição do ano passado, o seu nome apareceu entre os favoritos. Como o senhor conseguiu se eleger?
Jarude – Foi uma surpresa até para mim. Em janeiro do ano passado, dez meses antes da eleição, eu trabalhava como advogado e conciliador no Tribunal de Justiça. O meu tempo era pouco, mas já conversava com as pessoas e mostrava as minhas ideias e propostas para fazer um mandato sem amarras. Eu até tentei entrar nos bairros, mas os líderes comunitários queriam alguma coisa em troca. Então me restaram as redes sociais e os semáforos. Entregando o meu material, os amigos se solidarizaram e começaram a me ajudar.
Mesmo com as reuniões, eu precisava ir para ruas, ficar frente a frente com as pessoas. Aquilo me motivava. Eu não tinha pessoas pagas para levantar bandeiras, não tinha banner, placas, carros de som, gasolina e tempo na TV. No meu material de campanha não tinha nada relacionado ao prefeito. Não que eu fosse contra o então candidato à reeleição, Marcus Alexandre, mas porque eu queria independência. Eu tive votos em quase 90% das urnas de Rio Branco.
ContilNet – Mas o seu partido era da base de sustentação do prefeito? O que aconteceu naquele episódio da CPI dos transportes coletivos?
Jarude – É verdade, mas eu não. Eu nunca rompi com o prefeito porque nunca fui seu aliado. Sempre tive uma relação cordial com ele. Sempre conversei e fui até para os atos solenes. Mas aí houve um caso emblemático, que foi o divisor dessa relação. O meu partido, quando soube que eu assinei a CPI, tentou me pressionar. Eu disse que não iria retirar a assinatura e a direção tinha todo o direito de adotar uma posição sobre esse fato. Eu preferi que cassassem o meu mandato a não ficar do lado da população. Havia indícios e a CPI tinha um papel a cumprir.
ContilNet – Qual é a sua opinião sobre os trabalhos da CPI dos transportes coletivos?
Jarude – Eu já trabalhei com licitações. Contratos não podem ser renovados sem as devidas certidões negativas. Não tinham e nem têm até hoje. As certidões são todas positivas e a CPI e o PT assumem isso. Mas o que relatório alega? Devido ao princípio da proporcionalidade, que não existem dentro da administração pública, ou seja, eles alegam que era melhor manter as empresas, mesmo com a irregularmente, mas funcionando, do que mandá-las embora e criar um caos no transporte coletivo. Todas as empresas estão endividadas com o Estado o Município e a União. O transporte coletivo em Rio Branco é irregular. O relatório maquiou a realidade ao afirmar que o transporte público é bom.
ContilNet – Qual é a avaliação que o senhor faz do seu mandato? Está frustrado ou gostando de ser vereador?
Jarude – Eu estou gostando. É uma grata surpresa, embora seja tudo novo para mim. Estou atuando a favor da população. O vereador tem duas funções básicas, que é legislar e fiscalizar. No tocante a esta, fazemos diariamente, inclusive lançamos a caravana da fiscalização com o objetivo de verificar a infraestrutura dos mais de 220 bairros de Rio Branco. Estamos indo de comunidade em comunidade observando tudo aquilo que compete ao município. Fizemos também uma redução de gastos no nosso gabinete, que, ao todo, somam mais de 400 mil reais.
ContilNet – Para que serve a política?
Jarude – A política é uma forma de você transformar a realidade das pessoas. Este é intuito dela, todavia, o que se faz hoje é a politicagem. Por isso que dizemos: não desista da política. A maioria dos políticos quer apenas beneficiar o seu bolso
ContilNet – O que está acontecendo no Brasil?
Jarude – Já está provado que estamos vivendo uma crise institucional, mas a demonização da política não é o caminho. Não se pode jogar todos os políticos numa vala. É preciso enaltecer os bons para que os ruins saiam. Esse é o caminho, essa á saída para este momento de confluências de crises. O estado está apertando os cidadãos, que não aguentam mais pagar tantos impostos, que não retornam para a população em forma de benefícios. Isso gera uma revolta, que é natural, pois quase tudo que os políticos fazem é para se beneficiar. Não é apenas o Executivo e o Legislativo. Também precisamos rever o judiciário. O teto constitucional de salários, por exemplo, não é respeitado.
ContilNet – O senhor gosta de trabalhar com pesquisas. Qual é a maior preocupação da população de Rio Branco?
Jarude – Uma pesquisa feita recentemente relevou que para 53% da população a maior preocupação é a Segurança Pública. Somos o ente federativo que mais encarcera jovens. O motivo? Falta de oportunidades. O ensino do Acre não é de qualidade. Refiro-me às condições de trabalho e os salários dos profissionais, bem como das condições estruturais das instituições de ensino. Não existe climatização e as cadeiras não são confortáveis, por exemplo. Menos de 1% do orçamento do município é destinado para o esporte e lazer.
ContilNet – Como o senhor analisa os quase 20 anos dos governos petistas?
Jarude – A gente não pode negar que o PT fez muitas coisas pelo Estado. Mas não querem, digamos assim, largar o osso. A alternância de poder é de fundamental importância para a democracia. O PT só pensa em se perpetuar. Umas das formas de dominação é o aumento e o controle do funcionalismo público, impedindo qualquer possibilidade de instalação da iniciativa privada no estado. Essa ideia de se perpetuar no poder foi onde o PT começou a pecar?
ContilNet – Quais são os pecados capitais do PT?
Jarude – A nossa economia. O nosso PIB e a nossa renda per capta são os menores da Região Norte. Só perdemos para Roraima. No ranking das atividades econômicas quem lidera é a administração pública. Em segundo lugar, vem a agropecuária com 18%. O Acre vive de repasses do Governo Federal. Não produzimos nada e não saímos da economia do funcionalismo público. Outra pesquisa mostra que 50% da população vive com menos de meio salário mínimo. Cerca de 400 mil pessoas no Acre vivem abaixo da linha de pobreza. Consequentemente, o estado não consegue se desenvolver.
ContilNet – Nas eleições do ano passado, o PT praticamente foi varrido das prefeituras Brasil afora. No entanto, em Rio Branco o Marcus Alexandre colocou quase 45 mil votos de diferença para a segunda colocada. Foi maior diferença da história. Como o senhor explica esse fenômeno?
Jarude – O PT no Acre é especialista em ganhar campanhas. Nisso nós temos que tirar o chapéu. A eleição se concentrou na figura do Marcus Alexandre, que é um líder carismático, digamos assim. Ele anda bastante na cidade, cumprimenta as pessoas diariamente. Tomar café nas casas. A população gosta dessa proximidade. O Jorge Viana também tem essa característica. Talvez seja aí que a oposição tenha falhado porque só se aproxima na época das eleições.
ContilNet – Como o senhor analisa a gestão do prefeito Marcus Alexandre?
Jarude – Como toda administração, tem seus acertos e erros. A gente precisa ter responsabilidade em abrir um posto de saúde porque tem que mantê-lo depois. Não basta ter só a escola. Precisa levar um ensino de qualidade. Existem inquéritos no Ministério Público analisando a situação de escolas e creches no município. Cadê o concurso para a área de saúde? Estão faltando médicos especializados e medicamentos.
O pior programa para a população de Rio Branco foi o Ruas do Povo, que aumentou a malha viária da cidade, mas a prefeitura não dá conta e manter. Nem sempre fazer, fazer, fazer é o melhor. O rombo na Emurb foi um grande prejuízo para o município. Agora, eles vão conseguir economizar 24 milhões em um ano. E por que isso não aconteceu na época do Jackson Marinheiro? A Emurb foi saqueada. O prefeito poderia ter feito muito mais. Recentemente, nós denunciamos uma compra de tapetes de R$ 1.400 reais, enquanto isso faltam remédios e profissionais em alguns postos de saúde.