Pedro Vicente Costa Sobrinho é autor de um livro que aborda o modelo de desenvolvimento do Estado do Acre, sob o título “Comunicação Alternativa e Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental”, em segunda edição, esta última pela M.M. Paim, 2011. O autor fundamenta sua tese (doutoramento), em uma bibliografia, basicamente, socialista. Autores socialistas citados, dentre outros: Adorno, Althusser, Bobbio, Boff, Fernando Henrique Cardoso, Chauí, Gramsci, Lenin, Lukács, Marx e Engels.
O autor parte do pressuposto de que “…na década de 1970, verificou-se um intenso movimento de expansão da frente agropastoril. Essa expansão, na direção da fronteira ocidental, foi decorrente do conjunto de políticas e de medidas estratégicas, de forte conteúdo geopolítico, implementado pelos governos militares no pós-64, cujo objetivo era a integração do espaço amazônico à economia e à sociedade nacional”. Para o autor, essa opção de desenvolvimento do Acre estava errada. Certos estariam os teóricos da Teologia da Libertação que, revestidos de autoridade religiosa, usavam a estrutura humana e o respaldo da Igreja Católica para se opor a esse modelo, apontando outro, abaixo descrito.
Esse modelo de integração da Amazônia Ocidental (aí incluindo o Estado do Acre) na economia Nacional pelo Governo Federal da época, aqui no Estado foi implementado (pelo menos tentado), no Governo de Francisco Wanderley Dantas (1971/1975). Para o autor do livro, Francisco Wanderley Dantas era “um político afinado com as diretrizes de modernização autoritária do Governo Federal e adepto inconteste da política ‘Brasil Grande Potência’.
Na visão do autor, “Dantinha”, como era chamado o governador, cometia um equívoco ao executar um modelo de desenvolvimento (capitalista) assim descrito no livro comentado: “Por iniciativa do Govenador Dantas, desfechou-se uma ampla campanha publicitária no Sul do país, com vistas a divulgar para os empresários as vantagens de investir seus capitais no Acre. O slogan da campanha era bem sugestivo: “Acre, a nova Canaã./Um Nordeste sem seca. Um Sul sem geadas./Invista no Acre e exporte pelo Pacífico”. Essa política atraiu os produtores rurais do Sul (e de outras partes do Brasil), aqui chamados pejorativamente de “Paulistas”. Para o autor do livro uma horda que tentava impor o processo civilizatório do Acre de forma predatória.
A resistência a esse modelo (predatório, segundo o autor) tem início logo após a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Medellin no ano de 1968, que foi – na visão do autor – o acontecimento histórico mais relevante para o redirecionamento das práticas sociais da Igreja no continente. Nessa conferência a Igreja Católica faz sua opção preferencial pelos pobres. Pobres aqui tem sentido sociológico.
Resistindo ao modelo de desenvolvimento da Amazônia Legal indicado pelo Governo Federal, com o qual se harmonizava o Governo de Francisco Wanderly Dantas para o desenvolvimento do Estado do Estado do Estado, autoridades religiosas da alta hierarquia Católica no Acre (leia-se esquerda Católica), apontou outro projeto, diametralmente oposto ao das autoridades federais e estaduais. Esta ala progressista da Igreja Católica no Acre, que declara fazer a “opção pelos pobres”, sugere, em oposição ao modelo desenvolvimentista (de livre iniciativa) empregado por Dantinha, o modelo socialista. Que era o correto, na visão do autor do livro.
O autor transcreve o pensamento de autoridades eclesiásticas do Acre, que em nome da Igreja Católica assumem um posicionamento em que fica claríssimo que, após a II Conferência Geral do Episcopado Latino – Americano, o Clero no Estado do Acre, ao fazer a “opção preferencial pelos pobres”, no plano político, fazia também uma opção pelo socialismo. Frise-se que o modelo de Dantinha era o capitalista, transformando o Acre numa economia agropastoril, integrada à economia nacional. Dois projetos antagônicos: o de Dantinha (capitalista), e o da hierarquia Católica local (socialista).
Para fazer sua opção socialista como modelo de desenvolvimento do Acre, lideranças da esquerda-católica se baseavam num documento intitulado Decálogo da Pastoral Partidária, que resultou de um curso de teologia promovido pela Prelazia Acre-puruense em 1979.
Eis o que dizia o documento que orientou os cristãos do Acre para sua opção político- partidária (socialista), em oposição ao projeto que no Estado (capitalista), era apregoado por “Dantinha”. Dizia o documento da Pastoral Partidária: “A participação partidária não é simplesmente livre, mas boa e necessária para o cristão. Nota-se, porém, que esta participação pode se dar em diferentes graus: pelo voto, pela militância ou pela liderança. Os membros das comunidades manifestam sua preferência por partidos: que sejam populares mesmo, isto é, que deem oportunidade ao povo de participar de forma crescente até nos postos de liderança; que defendam o direito dos oprimidos; que visem a mudança social e não a sua própria manutenção; que combatam a ditadura e todo poder opressor; que lutem pela independência econômica do Brasil; que tenham uma orientação socialista, isto é, que visem colocar o poder e a economia nas mãos do povo organizado”.
As autoridades da alta hierarquia da Igreja Católica do Acre (em 1979) acreditavam num modelo socialista para o Estado. Fez não só uma opção política pelo socialismo, mas, apontou um partido, que veio a ser o Partido dos Trabalhadores (PT). Resistiram ao Governo de “Dantinha” porque era de viés capitalista. Esse magistério (socialista da hierarquia Católica do Acre), contrariava o Magistério da Igreja Católica, que entende socialismo incompatível com o Catolicismo (princípio da subsidiariedade, contido na Encíclica Mater et Magistra).
Esse modelo (socialista) foi implantado, definitivamente no Acre, com o primeiro governo do PT, em 1999. Já estamos sob esse referido modelo há 20 (vinte) anos. O projeto socialista do governo atual, remonta ao caminho apontado pelas autoridades eclesiásticas Católicas, lá no início dos anos 70.
Diga você mesmo se aquele modelo proposto lá nos idos de 1971 para o Acre estava certo! Se “Dantinha” é mesmo o “Vilão” como foi pintado por seus opositores, inclusive pelo autor do livro!
Os autores deste artigo já têm suas convicções. Acreditam num modelo capitalista/liberal para o Acre, com produtividade que gera emprego e renda. Num projeto que seja liderado por Gladson Cameli, Marcio Bittar, Alan Rick, Rodrigo Pires, Tião Bocalom, Coronel Ulysses e João Correia, que já se declararam (publicamente) liberais conservadores.
Fernando Lage é empresário
Valdir Perazzo é advogado
Ambos são os inspiradores do Instituto Liberal Acreano – ILAC