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Yoñlu: filme aborda história de músico gaúcho que morreu aos 16

Por REDAÇÃO CONTILNET

Uma das histórias mais chocantes dos primórdios da internet no Brasil acaba de virar filme. Yoñlu, que estreou na Mostra de Cinema de São Paulo, conta a história do músico gaúcho Vinicius Gageiro Marques que, em 2006, recebeu ajuda de usuários de um fórum na internet para cometer e transmitir o próprio suicídio. O cantor tinha apenas 16 anos e morreu após inalar monóxido de carbono ao acender duas churrasqueiras no banheiro do quarto.

Mas apesar da pouca idade, o adolescente era admirado pelo talento como compositor, ilustrador, crítico cultural e escritor. Na internet, seu trabalho era acessado por pessoas do mundo todo, o que era facilitado pela opção de cantar e escrever em inglês.

Filho de mãe psicanalista e de um ex-funcionário público de alto escalão em Porto Alegre, Yoñlu, pseudônimo do artista, pertencia à classe média alta gaúcha e era considerado um jovem com inteligência acima da média pelos professores. Poliglota, leitor dos clássicos da literatura e multi-instrumentista, ele se destacava pelo talento ao mesmo tempo que chamava atenção pelo perfil introvertido nas relações sociais.

O projeto está em gestação desde 2009/Foto: Reprodução

Segundo o diretor Hique Montanari, essa dualidade do personagem, que vivia na mesma cidade que ele, foi o que o influenciou a criar um roteiro que abordasse a genialidade da obra de Yoñlu, que no filme é interpretado por Thalles Cabral.

A história é praticamente uma “exposição” de toda produção multimídia do cantor, reunindo músicas, ilustrações que foram animadas em 2D e textos inéditos. O projeto está em gestação desde 2009 e contou com aprovação dos pais e do psicanalista de Yoñlu.

— O mais complicado numa história como essa é tomar o máximo de cuidado para não romantizar e nem fazer apologia ao suicídio. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de abordar o assunto, já que ele está presente na obra e na história do músico.

Segundo Montanari, o filme contou com uma assessoria para que o texto não tivesse arestas questionáveis do ponto de vista moral e ético. Não à toa, o roteiro teve 12 versões antes de se tornar definitivo.

Além disso, a abordagem dada à história do músico no longa passa longe do sensacionalismo. Misturando linguagens cinematográficas e recorrendo até ao surrealismo nas cenas, Yoñlu funciona mais como um tributo à obra do jovem.

— Minha abordagem é bem diferente da que é dada em 13 Reasons Why, por exemplo. As músicas funcionam como narrativas da trama para explorar o universo em que Yoñlu vivia, que era amplo em interesses, mas ao mesmo tempo restrito ao quarto dele. Ele era uma criança ainda, apesar de entender bem o mundo. E o filme é uma homenagem ao legado que ele deixou como artista.

Thalles Cabral, escolhido como protagonista do filme, diz que a obra também serve para alertar sobre problemas, como depressão, que muitas vezes passam despercebidos pelos familiares e amigos.

— Muita gente sofre calado e não demonstra. A mensagem do filme é deixar claro que não sabemos o que sofre quem está ao nosso redor. Mas tudo com uma abordagem sensível e que não recorre a clichês.

Yoñlu: glórias tragédias

Logo após o suicídio de Yoñlu, a gravadora norte-americana Luaka Bop, de David Byrne (Talking Heads), lançou o único disco gravado pelo adolescente nos Estados Unidos e Europa.

Durante o período em que se envolveu com produção musical, o cantor buscou de forma frenética a aceitação. Em conversas nos fóruns em que participava, Yoñlu enviava suas composições para que fossem analisadas por outras pessoas.

Antes de se suicidar, inclusive, o músico compôs Suicide Song, uma letra que funcionava como uma espécie de carta de despedida. Existem teorias sobre o que teria levado o jovem a tirar a própria vida. A mais popular, no entanto, era a de que ele sofria por ser rejeitado por uma menina da escola em que estudava.

No momento em que cometeu o ato, Yoñlu passava por consultas em um psicanalista e vivia em internação domiciliar. Durante essa fase, o médico recomendou que ele não fosse deixado só, por já ter demonstrado anteriormente tendências suicidas.

No entanto, ele convenceu os pais que faria um churrasco com os amigos, no intuito de impressionar uma garota na qual ele estava interessado.

Ao ficar só, Yoñlu acessou um fórum de dicas para cometer suicídio na internet que ele vinha visitando há alguns meses. Foi através desse espaço que ele decidiu tirar a própria vida via intoxicação por monóxido de carbono.

Durante seus últimos momentos, o cantor foi influenciado por integrantes do fórum e inclusive por um bombeiro aposentado de Chicago, que deu dicas para ele atingir o resultado com maior eficácia e menor sofrimento. Outro usuário acionou a polícia de Toronto, que entrou em contato com as autoridades de Porto Alegre. A polícia teve dificuldade para entrar no edifício em que ele morava. Quando conseguiu acessar o apartamento, Yoñlu foi encontrado com vida e reanimado algumas vezes. Na porta do banheiro, o aviso: “Não entre. Concentrações letais de monóxido de carbono”.

Após a morte, uma investigação criminal foi aberta no Rio Grande do Sul para apurar o caso. No entanto, ninguém foi responsabilizado pela morte do músico.

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