Pela primeira vez desde que desistiu de concorrer na disputa de cargo majoritário nas eleições no Acre, Tião Bocalom, o então pré-candidato ao cargo de deputado federal pelo Democratas (DEM) no Estado, falou com exclusividade ao site ContilNet sobre as razões que o levaram a desistir de concorrer ao governo.
Em uma longa conversa com o jornalista Salomão Matos, Bocalom falou sobre sua decepção com a Frente Popular do Acre (FPA) quando fez parte do governo, então como secretário de agricultura, e de não aceitar “propostas escusas” para fraudar licitações e empenhos fraudulentos na gestão do ex-governador Jorge Viana (PT) em 1998, hoje Senador da República.
Bocalom encontra-se hoje no Estado de Minas Gerais, onde acompanha a esposa que passa por tratamento de saúde há 2 anos.
Ainda na entrevista, Bocalom falou do futuro do Acre e de como, na avaliação dele, o Estado parou no tempo do progresso e de como o Partido dos Trabalhadores deixou o Estado acreano afundado em dívidas, com empréstimos que só serviram, de acordo com Bocalom, para financiamento das campanhas políticas da FPA.
CONTILNET: Desde que deixou a prefeitura de Acrelândia, você sempre concorreu, seja ao cargo de governo do Acre ou à prefeitura de Rio Branco. Porque agora deputado federal?
BOCALOM: O meu momento era agora! Mas sou esposo e pai de família. Minha mulher está há dois anos num leito de UTI, e eu como pai e marido não poderia abandoná-la jamais no momento que mais precisa de mim. Eu amo o Acre, mas não teria tempo de cuidar da minha esposa em Minas Gerais e tocar uma campanha majoritária para governo ao mesmo tempo. Mas de uma coisa fiquem certos: amo o Acre e também não vou virar as costas para uma gente que me recebeu tão bem e que eu amo. Por isso, decidi sair para deputado federal.
C: O seu lema de camapanha sempre foi produzir para empregar. Como o senhor avalia o atual governo que recentemente multou um produtor rural por querer plantar soja aqui no Acre?
B: Isso é uma vergonha! Um absurdo sem tamanho. Foi por essas atitudes do governo da Frente Popular que deixei essa cambada. Em 1998, quando eu fui convidado pelo Jorge Viana (PT), que concorria ao governo na época, escrevi o programa de crescimento do Estado por meio da agricultura e pecuária. No projeto, está escrito que iríamos plantar soja, café, milho, algodão e fomentar a bacia leiteira. No dia seguinte à vitória do Jorge, ele me chamou e disse: ‘Olha, Tião (…), vamos esquecer esse negócio de agricultura porque, você sabe… Tem a Marina, o Sibá, o Nilson Mourão e o Cartaxo, e eles querem é o nosso modelo de florestania’. Fiquei indignado. Eu disse pro Jorge: ‘Quer dizer que tudo que prometemos na campanha foi tudo mentira pra enganar o eleitor? Desse jeito eu não trabalho’. Um homem, acima de tudo, tem que ter palavra. Saí da FPA e como troca sempre fui muito perseguido por esse governo até hoje.
C: Como o senhor avalia hoje a situação econômica do Acre?
B: Eu vou te dizer uma coisa: quem assumir o governo daqui pra frente vai ter que ter muito sangue no olho para fazer uma auditoria pesada nas finanças desse governo que está no poder há 20 anos. Eles deixaram o Estado só no rombo. O acreano tá endividado até a quinta geração. Eles faliram o nosso Acre com esse modelo fajuto de “Florestania”. O rombo é monstruoso. Eles fazem empréstimos, por exemplo, para saneamento e pavimentação. Se a coisa custa R$ 10 milhões, eles faturam R$ 20 milhões. Por que você acha que esse tipo de serviço só é feito la pelas bandas do Jordão, Santa Rosa ou Marechal Thaumaturgo? É simples, meu filho… Porque lá não vai ninguém pra fiscalizar.
C: O seu partido hoje tem o Coronel Ulysses como pré-candidato ao governo. O que motivou a escolha de um nome, digamos, ‘jovem’ na política?
B: É muito simples. Hoje a situação em que o Estado do Acre se encontra, totalmente entregue à bandidagem e às facções criminosas, as pessoas querem alguém que resolva esse problema. Hoje você sai de casa e não sabe se vai voltar vivo. As pessoas estão com medo, meu filho, e esse governo aí, ao invés de ajudar aparelhando as polícias, faz é cortar o pouco de salário que esses guerreiros militares já ganham. Muitos têm que comprar até munição do próprio bolso pra enfrentar bandido porque o governo simplesmente não existe. Não tenho a mínima dúvida de que o Ulysses vai dar um basta nisso. A sociedade acreana vai poder voltar a viver em paz.
C: Num eventual segundo turno, e caso esse segundo turno seja entre o Progressista e a FPA, como o DEM vai se comportar?
B: Não resta a menor dúvida que vamos abraçar 100% a candidatura do Gladson Cameli. O que queremos é tirar essa cambada de ladrões que está saqueando nosso Acre faz mais de 20 anos. Mas te digo uma coisa, Salomão: no atual cenário político, com o PT arrebentado por causa dos escândalos de corrupção, eu não duvido nada do segundo turno ser entre o Ulysses e o Gladson.
C: Grato pela entrevista e desejamos melhoras à sua esposa.
B: Muito obrigado, eu que agradeço e digo aos meus irmãos acreanos: o momento de dizer chega é agora. Dia 15 de janeiro estarei de volta ao nosso Estado. Vamos ajudar o Acre a crescer novamente e trazer de volta a paz e a esperança de dias melhores para os acreanos que tanto amo. Até logo!