Degradação recorde

Com aproximadamente 272 mil focos de incêndios florestais nos últimos 12 meses, o Brasil encerra 2017 com número recorde de queimadas desde 1999, quando começou a série histórica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A análise sobre a devastação pelo fogo evidencia enorme retrocesso, ao revelar que, neste ano, as chamas avançaram sobre unidades de conservação, terras indígenas e áreas de floresta natural, atingindo regiões até então preservadas.

Estabelecer estrutura de fiscalização rigorosa é medida importante para prevenir e debelar qualquer ação que represente ameaça ao meio ambiente. No entanto, é preciso também pôr em execução um programa educacional com a finalidade de expurgar práticas ultrapassadas, que colocam sob ameaça a fauna e a flora nativas, e proibir atividades retrógradas que prejudicam o solo.

A destruição das florestas é, às vezes, consequência da falta de conhecimento do infrator. Para o produtor rural, a limpeza do terreno com a queimada, para prepará-lo afim de o plantio, é a alternativa mais barata e pode ser feita de forma controlada. A maioria, porém, realiza tal procedimento sem ter nenhum conhecimento técnico. Embora seja possível solicitar auxílio aos órgãos competentes para o meio ambiente e questionar quais são os terrenos em que a prática é possível, raramente tais premissas são obedecidas, o que leva os focos de incêndio a afetarem áreas protegidas por lei ou degradadas. As queimadas também são decorrentes da limpeza de pastos, disputa por terras e protestos sociais.

Os dados de 2017 extrapolam em 46% o desfecho de 2016 e superaram o recorde de 2004, quando foram detectados 270 mil pontos de calor no monitoramento do Inpe. Neste ano, incêndios criminosos destruíram 986 mil hectares de unidades de conservação e ultrapassaram 7 mil hectares de terras indígenas.

Com cerca de 3,4 mil focos até a metade de dezembro, o total de queimadas no Ceará deve ficar abaixo da soma do ano passado (4.431). Na lista entre os estados, quem aparece na parte de cima são Pará (64,9 mil), Mato Grosso (43,9 mil), Maranhão (33,6 mil), Tocantins (22,5 mil) e Amazonas (15,1 mil).

Entre os biomas, apesar de o Cerrado ter apresentado, proporcionalmente, maior número de unidades de conservação atingidas, a Amazônia concentrou mais da metade das queimadas em 2017, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Estudiosos alertam que o combate a incêndios na Floresta Amazônica se tornou mais complexo devido à mudança no microclima da região. As chamas, que avançavam anteriormente por um ou dois quilômetros, têm agora se alastrado, em média, por aproximadamente 100 quilômetros.

O recorde negativo reflete o atraso nas políticas climáticas e os compromissos assumidos pelo governo brasileiro no Acordo de Paris não deverão ser cumpridos nos prazos estabelecidos. Uma das metas estipuladas define que as emissões de carbono devem recuar em 37% até 2025 e 43% até 2030, mas os caminhos para tanto não têm sido abertos. No ano passado, as emissões de gases do efeito estufa no Brasil foram de 2,091 para 2,278 bilhões de toneladas.

O mundo clama por medidas de proteção à natureza e as nações mudam hábitos para se adequarem à nova realidade. Enquanto isso, os incêndios florestais se alastram no Brasil, e os discursos acerca da preservação do seu patrimônio ambiental não se traduzem em instrumentos e ações mais eficientes.

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