Na tarde da última quarta-feira (13), uma fonte (que prefere ficar anônima) encaminhou à redação da ContilNet fotos de uma aula da saudade do curso de Medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac).
O que chamou a atenção nos registros foi a fantasia escolhida pelo homenageado da turma, o docente Giovanni Casseb, conhecido por se fantasiar durante eventos da universidade, Casseb gerou polêmica nas redes sociais pela escolha da “fantasia”: uma imagem que circula no WhatsApp conhecida como “Negão do WhatsApp”.
Pintando o corpo inteiro para simular o “meme”, Giovanni (que é branco) inflamou postagens de grupos e estudantes da Ufac ao reproduzir uma prática conhecida como blackface.
O QUE É BLACKFACE?
É uma técnica de maquiagem teatral, na qual pessoas brancas se pintam de negras para imitá-las de forma caricata, o que reforça características físicas, estereotipando-as com o intuito de fazer piadas.
A técnica foi usada em shows de menestréis estadunidenses do início do século XIX, passando do teatro ao cinema. Na segunda metade do século XX, o blackface caiu em desuso e se transformou em instrumento de combate ao racismo.
O tema, e outros assuntos ligados às questões raciais, também chegou a ser abordado na série “Cara Gente Branca”, disponível na plataforma de streaming Netflix.
“ERA UM PERSONAGEM”
Em resposta à equipe da ContilNet, Giovanni afirmou que “era um personagem” e que “a brincadeira não tem nada a ver com a cor”, mas com “o fato de abrir o arquivo e, na verdade, aparecer a montagem com o pênis avantajado”.
Ainda de acordo o docente, a aula da saudade não era para “pessoas de fora”, e que haviam alunos negros na aula. “Tenho absoluta certeza que não se sentiram ofendidos”, disse na resposta.
“MINHA COR NÃO É FANTASIA”
Entretanto, junto com as fotos do evento, foi divulgado um print de uma conversa em um grupo de WhastApp, onde o docente solicitou que não fossem tiradas fotos suas na aula da saudade para que “os politicamente corretos” não “surtassem”.
As fotos vazaram na internet e os comentários e postagens inflamaram as redes sociais. Em um post da página “Periferia Antifascista”, o ato foi destacado como um ato de racismo que contribui para a desumanização da população negra.
“Utilizam pessoas negras como escárnio, para serem ridicularizadas, ao mesmo tempo em que legitimam violência”, afirma a postagem.
Os comentários foram divergentes. De um lado, internautas declarando que “era um personagem” e que “o problema de hoje é que tudo é racismo”. Muitos se mostraram indignados, e um dos internautas declarou: “Minha cor não é fantasia, negro não é personagem. É difícil entender?”
Giovanny Kley Trindade, acadêmico de Saúde Coletiva da Ufac, solicitou uma posição sobre o assunto do Diretório Central dos Estudantes da Ufac. No post, Trindade discorre que se trata de um “humor sem graça” que “objetifica o negro apenas ao fator sexo” e que “minimiza os negros”.
Procurado pela equipe da ContilNet, o coordenador do curso de Medicina, Rodrigo Silveira, explicou que não houve reclamação de alunos que estiveram na aula. Entretanto, ex-alunos de Medicina da Ufac e estudantes de outros cursos repudiaram a escolha do docente para a aula da saudade.
“A coordenação deve emitir uma nota nos próximos dias sobre o assunto. Repudiamos qualquer tipo de ato discriminatório, não importa de qual natureza seja”, disse Silveira.