De acordo com pesquisa divulgada pela entidade humanitária Oxfam, que combate a pobreza e promove a justiça social, a igualdade salarial entre brancos e negros está há sete décadas de distância do atual cenário socioeconômico mundial.
Por meio dos cálculos da Oxfam, os dois grupos terão renda equivalente apenas em 2089 – 72 anos no futuro. A conta envolvida foi feita com base na média da equiparação salarial entre negros e brancos de 1995 a 2015 (dados mais recentes). Logo em seguida, foi projetado o resultado para saber em quanto tempo, seguindo o ritmo desses 20 anos, se chegaria à igualdade de salários.
“A desigualdade não é natural, ela é produto de políticas públicas. Seja pela proatividade do governo ou por sua ausência em apartar setores da sociedade”, disse Rafael Georges, cientista político da Oxfam Brasil.
NO BRASIL
A pesquisa apontou que, no Brasil, cerca de 67% dos negros recebem até 1,5 salário mínimo. Os brancos são menos de 45% nessa porcentagem. “Cerca de 80% das pessoas negras ganham até dois salários mínimos. Tal como acontece com as mulheres, os negros são menos numerosos em todas as faixas de renda superiores a 1,5 salário mínimo, e para cada negro com rendimentos acima de dez salários mínimos, há quatro brancos”, indica o documento.
Para chegar a estas conclusões, a ONG se baseou na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua do quarto trimestre de 2016, considerando somente a renda do trabalho.
Para comentar sobre estes dados, a equipe da ContilNet entrou em contato com Eudmar Nunes Bastos, psicólogo, professor, historiador e diretor-executivo da ONG acreana Cernegro. Criada em 2005, a Cernegro é o centro de estudo de referência da cultura afro-brasileira no Acre, auxiliando na implementação de políticas públicas voltadas à população negra do Estado.
“A Cernegro trabalha com todos os segmentos da cultura negra, desde música até a religiosidade e gastronomia. Também debatemos e procuramos esclarecer dúvidas quanto à garantia de direitos, implementação do Estatuto da Igualdade Racial, a Lei nº 10.639, que torna obrigatório o estudo da África e dos afrodescendentes nas escolas públicas e privadas”, explicou Bastos.
Sobre a pesquisa da Oxfam, Eudmar afirma que, para que a igualdade (não apenas econômica) possa acontecer, as políticas públicas de ação afirmativa precisam estar todas implementadas: “Vivemos em um mundo capitalista que sobrevive da miséria. Ou seja, quanto maior a miséria, mais fortalecido está o capital. O atual governo federal está pautado em abrir a entrada do neoliberalismo de forma evidente, priorizando as privatizações”.
Ainda de acordo com Eudmar, mesmo que pareça longe, o quadro atual aponta para um ano ainda mais distante. “As ações atuais não estão funcionando como deviam funcionar. Se formos pensar através da História, incluindo a do Brasil, os negros foram sempre colocados em quinto, até sexto plano, em relação ao bem-estar e aos cuidados com educação e saúde”, destacou Bastos.