Desenhar é uma arte que praticamente todo mundo já fez um dia. Até mesmo quem se considera sem talento já desenhou pelo menos uma árvore ou ‘bonequinho palito’ no jardim de infância, mas há quem faça disso uma profissão; é o caso do acreano Daniel Cabral, que aperfeiçoou a arte do desenho e se tornou cartunista, caricaturista, chargista, grafiteiro e o que mais a imaginação e arte permitirem.
Autodidata, Cabral começou a desenhar ainda criança na escola. “Faço charges desde muito pequeno quando estudava no Imaculada Conceição, desde pequenininho eu desenhava meus colegas, a professora, o diretor, eu olhava as características de cada um e desenhava, inclusive tinha um jornalzinho anual onde eu publicava o desenho de todos os alunos da turma, tem gente que tem esses desenhos até hoje”, explicou.
Na adolescência, o jovem foi aprendiz de grandes nomes, como o pintor acreano Hélio Melo, com quem teve aulas e aprendeu algumas técnicas: “No começo fui aprendendo no ‘olhômetro’, ficava observando o jeito de trabalhar do Enilson Amorim, Maxtane, o Din, e outros nomes desse mundo. Além do meu tio Jean Cabral, que foi um dos cartunistas mais antigos no Acre. Eu os via fazer caricaturas e ficava fascinado e fui tentando me aperfeiçoar, fui fazendo uma compilação das técnicas usadas por eles e aprendendo sozinho, depois conheci o Hélio Melo com quem cheguei a desenhar junto e fazer algumas artes”, afirmou Cabral.
Com tanto talento, ainda muito novo Cabral foi contratado por grandes veículos da imprensa acreana e até fora do Estado para desenvolver charges para ilustrar jornais, em especial as políticas. Ele conta que tudo começou no jornal Página 20, depois passou pela revista Outras Palavras, jornal A Tribuna, o extinto Correio do Acre, jornal ‘O Bixo’, Diário da Amazônia e O Alto Madeira, ambos em Rondônia e chegou a trabalhar até em Mato Grosso. “Além desses trabalhos fiz muita coisa underground com Zines, quadrinhos e revistas independentes”, destacou Daniel.
O artista acredita que apesar de ser necessário o dom, desenhar é uma técnica a ser desenvolvida: “Picasso dizia que todo mundo em sua essência sabe desenhar na sua primeira infância e o sistema social, de trabalho, é que vai desconstruindo essa tua relação com o desenho para aprender outras funções e vai deixando esse lado lúdico que está na criança para trás. Depois de um tempo quem se dedica ou faz um curso vai reaprender isso que você já sabia na primeira infância, rabiscar é até um instinto do homem”.
Quem vê Cabral desenhando até acha que é fácil, mas ele mesmo explica que para a imagem esteja ali na parede ou no papel, é necessário um grande esforço: “Não importa a superfície: seja fazer um desenho em uma parede de uma hamburgueria, uma caricatura em um evento ou uma charge política, você precisa estudar. Vai ter que ler muito, vai ter que saber os elementos que envolvem o assunto para montar seu trabalho. Quem vê a foto do trabalho pronto não vê que ali tu começou cedo, teve que traçar aquilo com lápis, rabiscou, fez o esboço pra depois lançar cores e ir tomando forma e antes de tudo o artista teve que pensar, pois ele é o seu próprio diretor, seu próprio produtor”, destacou Daniel Cabral.
Hoje os trabalhos de Cabral ilustram muros na Capital, bares, restaurantes e o artista já é figura carimbada em grandes eventos onde é contratado para desenhar os convidados em forma de caricaturas. As inspirações para seus trabalhos segundo ele é observação, mas suas referências são os quadrinhos tradicionais da Marvel, todavia, os mangás e animes também estão presentes em suas técnicas.
“O artista tem que estar atento e inteirado ao que acontece no agora no mundo inteiro, minha inspiração vem dessas observações, e de mim mesmo afinal, o artista é o poeta de si mesmo”, reflete Cabral.