Celebrando 193 anos de criação nesta quinta-feira (4), o sistema braile foi criado em 1825 pelo francês Louis Braille, que nasceu no dia 4 de janeiro de 1809. A data homenageia o criador deste importante método de comunicação, voltado para as pessoas cegas ou com baixa visão, possibilitando a escrita e a leitura.
Ao longo destes quase 200 anos, a ferramenta se tornou indispensável para a formação (pessoal, acadêmica, social e política) das pessoas cegas ou com baixa visão, possibilitando o processo de alfabetização.
O sistema de escrita tátil é composto de combinações de seis pontos em relevo no papel, representando as letras do alfabeto, números e simbologias variadas, ampliando o acesso ao conhecimento dos deficientes visuais.
IMPORTÂNCIA
Mesmo com o avanço tecnológico, que permite uma maior interação com as plataformas digitais, o braile continua sendo um importante instrumento de comunicação. Regina Oliveira, cega desde os 7 anos de idade, declarou em entrevista à Fundação Odorina, o aprendizado do braile desde cedo estimula a criança a não adquirir uma cultura só “pelo ouvir”.
“Por mais que tenhamos todos os recursos tecnológicos, que também ajudam na formação, ainda é necessário que as pessoas cegas tenham o contato direto com a escrita”, reforça Regina que também é Membro do Conselho Iberoamericano e do Conselho Mundial do Braille.
MIL ALUNOS
Gercineide Maia de Sousa, coordenadora do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual do Acre (CAP-AC), explicou que, atualmente, existem cerca de mil alunos cegos ou com baixa visão na rede pública estadual de ensino do Acre.
“Prezamos pela parceria com escolas e instituições que trabalham a inclusão, sendo esta educacional e social, das pessoas com deficiência visual. Hoje, temos em torno de mil alunos na rede pública, e sempre orientamos que a família também exerce papel fundamental no desenvolvimento da pessoa cega ou com baixa visão”, destacou Gercineide.
SUPERAÇÃO
Natural de Rio Branco, Hisaac Alves de Oliveira, atualmente com 34 anos de idade, é um exemplo de superação das adversidades, tendo como base para tal a educação e o estímulo para sempre buscar novas oportunidades.
Caçula de 10 irmãos, Hisaac nasceu com catarata congênita. “Por um milagre, comecei a enxergar quando tinha 3 anos de idade. Depois, quando eu tinha 7 anos, minhas irmãs mais velhas conseguiram me levar para tratamento e cirurgias fora do Estado. Na época, o Acre ainda não possuía esse tipo de atendimento”, disse.
Foi em Minas Gerais que o jovem Hisaac passou por cirurgias que possibilitaram uma visão entre 10% e 20% do olho esquerdo. “Aos 20 anos, passei por outro procedimento cirúrgico. No Acre, faço o acompanhamento para monitorar a acuidade visual”, explicou Hisaac.
Apesar de ter entrado com idade escolar atrasada, Hisaac se empenhou nos estudos e buscou se aplicar durante todo o percurso nas escolas da Capital: “Aprendi o braile durante meu processo de alfabetização na antiga Escola de Ensino Especial para Pessoas com Deficiência Visual, que ficava localizada no bairro Bosque. O foco foi em letra-tinta, porque conseguia enxergar, mas também me foi ensinado o braile por conta do risco de perder completamente a visão”.
Após concluir o ensino básico através do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), Hisaac foi aprovado em concurso público como assistente administrativo da Universidade Federal do Acre, se tornando o primeiro servidor com deficiência a integrar o quadro efetivo da instituição de ensino.
“Passei alguns períodos no curso de Jornalismo, mas percebi que não era o que eu realmente queria. Então, em 2014, ingressei no curso de Direito na Ufac, me tornando servidor e estudante da universidade. Em 2018 finalizo o curso e me preparo para uma nova etapa”, afirmou Hisaac, que além do trabalho e das aulas, também participa de um estágio supervisionado no escritório de Marcos Vinícius Jardim, presidente da seção acreana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AC).
“A falta de informação é a maior inimiga da harmonia com as diferenças. Inicialmente, quando comecei a trabalhar na Ufac, houve um pouco de preconceito, mas quando mostrei minha capacidade, o processo de participação se tornou mais harmônico. Se trata de adaptação e compreensão de ambos os lados, das pessoas ‘normais’ e das pessoas com necessidades especiais. Me apliquei nos estudos pois o conhecimento é a única coisa que realmente não conseguem tirar da gente”, enfatizou Hisaac.