Em pelo menos sete Estados, “outsiders” tentam viabilizar candidaturas aos governos locais, mas enfrentam resistência diante de alianças firmadas pelos partidos com mais representatividade no Congresso e dificuldade em conseguir melhorar índices de intenção de voto.
Levantamento feito pelo Estadão/Broadcast aponta que, a dez meses da eleição, pré-candidatos vindos da área empresarial e do Judiciário buscam espaço em Minas, Rio, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Tocantins e São Paulo.
A iniciativa de lançar nomes de fora da política para a disputa estadual em 2018 parte, principalmente, de siglas menores ou criadas recentemente.
O partido Novo, registrado em setembro de 2015, é a principal legenda dos outsiders: são três pré-candidatos já lançados e outras duas em negociação.
Criada no mesmo ano pela ex-ministra Marina Silva, a Rede Sustentabilidade busca nomes na Justiça. “A única forma de oxigenar o sistema político é trazendo novos nomes e ideias, não só de jovens, mas pessoas experientes de outras áreas que poderiam ser candidatas”, disse o porta-voz da Rede, Zé Gustavo.
Donos das maiores bancadas no Congresso, partidos como PSDB, PT e MDB não têm investido nesse perfil. “A renovação por renovação não diz nada. Tem de renovar com qualidade e valorizar a experiência”, afirmou o secretário-geral do PSDB, Marcus Pestana.
Perfil novo
Conhecido como um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, o juiz aposentado Márlon Reis vai disputar o governo do Tocantins pela Rede.
Em 2012, foi o primeiro juiz a exigir que os candidatos divulgassem antecipadamente os doadores de campanha, o que se tornou lei nacional.
“Sou um outsider porque não fazia parte dos mecanismos partidários. Só recentemente cheguei para esse tipo de atuação, mas sempre estive na política. São poucos (outsiders) disputando cargos majoritários pela dificuldade de mobilizar grandes contingentes eleitorais”, disse Reis.
Mato Grosso do Sul é outro Estado em que um outsider do Judiciário pode disputar o cargo de governador.
O juiz aposentado Odilon de Oliveira, que se filiou ao PDT, ficou conhecido por combater o narcotráfico na fronteira com o Paraguai.
Aos 68 anos, está aposentado desde outubro. Uma semana antes de deixar o cargo, decretou a prisão do italiano Cesare Battisti – revogada posteriormente.
Em Minas, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, os outsiders são filiados ao Novo e da área empresarial.
“Nossa maior dificuldade foi encontrar pessoas dispostas a participar e abrir mão da atividade profissional para se dedicar a um possível mandato”, explicou Moisés Jardim, presidente do partido.
O Novo cogita lançar o líder do movimento Vem Pra Rua, Rogério Chequer, para disputar o governo de São Paulo.
Já o ex-técnico da seleção brasileira de vôlei Bernardinho pode ser candidato no Rio.
No Rio Grande do Sul, o partido estuda Mateus Bandeira, ex-presidente do Banrisul. Em Minas, o escolhido foi o empresário Romeu Zema Neto, do Grupo Zema.
No Distrito Federal, o pré-candidato é Alexandre Guerra, presidente da rede de restaurantes Giraffas. Para ele, partidos tradicionais tentam firmar candidaturas com base em “coalizões e distribuição de cargos”, enquanto o Novo busca “mérito”.
Dificuldades
Representantes de partidos com as maiores bancadas no Congresso avaliam que candidaturas “outsiders” terão dificuldade para crescer nas pesquisas eleitorais nos Estados.
Para o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), os políticos tradicionais “têm mais visibilidade e serviços prestados” para mostrar aos eleitores.
“No meu Estado, os outsiders que apareceram nunca saíram de um dígito (de intenção de votos), é sempre muito pouco: 1%, 2%, não sai disso nunca”, afirmou Agripino.
O senador citou a possibilidade de candidatura do desembargador Cláudio Santos no Rio Grande do Norte. Santos foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado e tem sido cortejado por partidos como o Avante!.
O secretário-geral do PSDB, Marcus Pestana, disse que é preciso ter “uma mescla de oxigenação do sistema político com experiência”.
Ele afirmou que é importante atrair novos nomes por causa do “abismo que separa a sociedade da política”, mas ponderou que “isso não é um valor absoluto”.
Para o presidente do PDT, Carlos Lupi, que aposta no nome do juiz Odilon de Oliveira para o governo de Mato Grosso do Sul, é obrigatório que o candidato tenha “alguma experiência exitosa na vida privada” como condição para alcançar viabilidade eleitoral.
“Nós (do PDT) julgamos que o principal de qualquer candidatura que não esteja na política tradicional tem de ter alguma experiência em lidar com a população. O que não dá é pegar um artista, só porque tem fama, e lançar como candidato”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.