23 de abril de 2024

Floresta Amazônica pode se tornar uma savana

A Amazônia conta com 17% da sua área original totalmente desmatada. Caso perca mais de 20% de seu verde, devido a descaracterização, a floresta se transformaria em uma savana, segundo artigo publicado na revista Science Advances.

O artigo foi assinado pelo pesquisador brasileiro Carlos Nobre, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), e pelo americano Thomas Lovejoy, da Universidade George Mason.

“Nós acreditamos que as sinergias negativas entre desmatamento, mudanças climáticas e uso indiscriminado de incêndios florestais indicam um tipping point, um ponto sem volta, para transformar as partes Sul, Leste e central da Amazônia em um ecossistema não florestal se o desmatamento chegar a entre 20% e 25%”, apontaram os cientistas na última quarta-feira, 21.

Para chegarem à conclusão, a dupla usou o conceito de “savanização” da Amazônia, que passou a ser estudado depois de descobrirem que florestas interferem em regime de chuvas. Na Amazônica estima-se que metade das chuvas ocorre em resultado da umidade pela evapotranspiração – a transpiração das árvores – que reaproveita as correntes de ar do Oceano Atlântico.

Sendo assim, caso perca uma grande quantidade de árvores, a floresta recicla menos chuva, com maior chance de incêndios surgirem. Dessa forma, a vegetação acaba sendo alterada. O resultado é que fragmentos de florestas acabam se transformando em savanas ou cerrados, diferente da Amazônica que conhecemos.

Nos últimos 12 anos, a Amazônia passou por cinco eventos extremos (Foto: Wikimedia)

Estudo antigo

Em 2007, chegou-se a conclusão que caso 40% da floresta fosse derrubada, a Amazônia se tornaria uma savana. Porém, segundo o brasileiro Carlos Nobre, o estudo antigo apenas avaliou o desmatamento, não levando em consideração o aquecimento global e incêndios florestais.

“Os focos de incêndio têm aumentado. O aquecimento global já está acontecendo, com um aumento de 1 grau Celsius na temperatura média da Amazônia. Quando olhamos todos esses fatores juntos, o grande impacto acontece na floresta já com um desmatamento acumulado de 20% a 25%, não com os 40% que estimamos antes”, explicou o pesquisador.

Para Nobre, alguns fenômenos de temperatura podem mostrar que o sistema está se desestabilizando. Nos últimos 12 anos, a Amazônia passou por cinco eventos extremos: as enchentes de 2009 e 2012 e as secas de 2005, 2010 e 2015. De acordo com a bióloga Edenise Garcia, especialista em ciência e Amazônia na ONG The Nature Conservancy (TNC), a possibilidade de savanização não pode ser ignorada.

“A floresta amazônica tem resiliência, ela consegue resistir a algum desmatamento. Mas a sua capacidade de se recuperar não é infinita. Pode sim chegar a um ponto que não tem retorno. A Amazônia não é um deserto populacional. É ocupada por gente. A solução é investir na melhoria das condições de produção do pequeno e grande produtor. Produzir mais no mesmo espaço, com sustentabilidade. Isso vai reduzir a pressão na floresta”, explicou a bióloga, que não tem ligação com o artigo.

Uma das ideias apresentadas pelo artigo para evitar que a floresta amazônica seja savanizada é o reflorestamento. Na Conferência da ONU sobre Clima em Paris, de 2015, o Brasil prometeu reflorestar 12 milhões de hectares até 2030. Além de defender o desmatamento zero, Carlos Nobre acredita que os investimentos devam ocorrer no sul e leste da Amazônia. “O que estamos tentando apontar é que não devemos pagar para ver. Nós já estamos muito próximos do limite e deveríamos realmente zerar o desmatamento”, explica.

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