ContilNet Notícias

Morre escritora Florentina Esteves, primeira professor graduada do Acre

Por REDAÇÃO CONTILNET

Morreu neste domingo (25), no Rio de janeiro, a escritora acreana Florentina Esteves. Membro da Academia Acreana de Letras, Esteves foi a primeira professora graduada no Estado do Acre. Dedicou parte de sua vida à educação e cultura do Acre, sendo secretária de Educação do Acre, na década de 1960.

A romancista nasceu em Rio Branco, aos 20 se mudou para o Rio de janeiro para estudar, formando-se em Filosofia e professora de Francês.

Em nota, o Governador Tião Viana e a vice governadora Nazareth Araújo lamentaram a morte de Florentina. “Ela Viu de perto parte da formação do Acre, com a convivência dos migrantes sírios e libaneses, ali onde hoje é a Gameleira”. Relembrou em nota.

Leia um de seus contos:

BITO

Florentina Esteves

Onde se visse um ajuntamento, uma rodinha, no centro estaria ele. Garotada do Ginásio, um que outro desocupado, quem fosse passando. Ah! é o Brito… E lá estava ele sentado no banco da praça, perto do Bar Municipal, na hora do costume. Paramentado.

– Por que essa roupa, Bito?
Calado.

– Bito, esses revólveres são de verdade?

Levava as duas mãos aos coldres, rapidamente. Certificava-se: estavam lá. Calado.

E essas botas, e as esporas, cadê o cavalo? Disseram que lá no Papoco tem um bandido que já matou três. Chiquita Peito-Mole mandou te chamar.

Imperturbável. Olhava a assistência, ar superior, alisava o colete franjado, cuidava que o lenço estivesse bem posto, tirava o chapéu, abanava-se. Penteava o cabelo, chapéu de volta. Sorria.

– Onde você comprou essa roupa de caubói, Bito? Vira um pouco, deixa a gente ver. Levantava do banco.

Então conta, Bito. Como foi aquela vez em que você enfrentou “Touro Sentado” e matou todos aqueles índios?

– Foi assim, começava ele: eu fui lá nos campos do Zé Português – ele mandou me chamar, foi o Ilson Ribeiro que trouxe o recado – tinha um touro brabo que ninguém chegava perto, andou dando umas corridas atrás da Libéria, espantando tudo que é vivente. Peguei o bicho, deis três laçadas, derrubei ele, segurei pelo chifre; aí, estava trazendo ele pro curral quando um bando de índios me rodeou. Montei no touro, comecei a atirar, assim (sacou os dois revólveres de plástico, rodou-os nos dedos, a cada estalido seco do gatilho pulava pra esquerda, pra direita). Matei todos eles. E quando chefe “Touro Sentado” partiu pra cima de mim, com esse foi no muque, botei pra correr. Nunca mais voltou.

Todas as tardes herói, mocinho, Bito caubói contava uma nova história. Anos seguidos (ou foram poucos anos?), lá no seu banco de praça, povoava imaginações, criava fantasias, enfeitava a vida.

Um dia não apareceu. Outro dia. Outros. Sumiu. E assim ficamos sem saber sua última aventura.

ESTEVES, Florentina. Enredos da Memória. Rio de Janeiro: Oficina do Livro Ed., 1990. p.73-74

Com informações da Agência de Notícias do Acre

 

Sair da versão mobile