Em entrevista, Ilderlei Cordeiro avalia gestão e fala sobre investimentos no Juruá

O prefeito de Cruzeiro do Sul, Ilderlei Cordeiro, 40 anos, herdou do pai, o ex-deputado e empresário Idelfonso Cordeiro, morto em desastre aéreo em 2002, aquilo que bem caracteriza o povo juruaense: a simpatia e a espontaneidade. Ele acumulou experiências sendo vice-prefeito, no mandato da ex-prefeita Zila Bezerra (2007/2010), e no exercício de um mandato de deputado federal (2009/ 2012).

Cometeu equívocos que o levaram ao ostracismo, mas subitamente, nas eleições de 2014, recuperou seu prestígio com os quase 14 mil votos conquistados na disputa para tentar reconquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Foi uma votação tão expressiva que lhe reinseriu no cenário político.

Prefeito Ilderlei Cordeiro/Foto: reprodução

Apesar do carisma e da tradição familiar, o principal articulador da sua eleição foi o ex-prefeito Vagner Sales (MDB), apontado como o “último coronel de barranco” da política local. Uma das principais características de Sales é a política do compadrio, aquela baseada no clientelismo e na formação de currais eleitorais. Em 2014, ele conseguiu eleger a filha, Jéssica Sales, deputada federal, mesmo sem ela morar no Acre.

E foi justamente por causa dessa forma de fazer política que o alcaide rompeu com o seu mentor, herdando, do próprio “coronel”, uma administração praticamente inviabilizada: “foi preciso tomar medidas drásticas porque a folha de pagamento comprometia praticamente tudo”, explicou Ilderlei, acrescentando que a gestão anterior também criou uma desnecessária logística nas secretarias.

O prefeito sofreu revesses da vida, mas fez das adversidades portais para ser um “novo homem”, agora mais maduro, seguro, de fé e com propósitos bem definidos. “Quero economizar, fazer obras bem feitas e resolver os problemas da nossa população”, afirmar ele.

Mas nem tudo são flores. Em meio à crise econômica, que reduziu em R$ 8 milhões anuais o Fundo de Participação do Município (FPM), e as dívidas previdenciárias, trabalhistas e precatórios, o prefeito tenta imprimir uma gestão austera, transparente, eficiente e participativa. “O nosso mandato é para fazer retornar às pessoas aquilo que é delas”, destaca.

Mesmo com o descrédito da classe política, Ilderlei convida a população para opinar porque, a seu ver, além de legitimar a sua gestão, as novas ações se pautarão nas discussões e elaborações coletivas. “As políticas públicas precisam ser mais ousadas, criando, principalmente, oportunidades de emprego e renda”, assim concebe Cordeiro, que nos concedeu a seguinte entrevista.

Repórter – Passados um ano e três meses, como o senhor avalia a sua gestão?

Ilderlei – Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus por administrar o município onde nasci e cresci. Para mim é uma honra e um orgulho ser prefeito desta cidade tão querida e amada. São muitos os desafios. Estou pedindo a Deus sabedoria e saúde para cuidar da nossa cidade, buscando soluções para as demandas. Tivemos um ano atípico, inclusive enfrentamos a maior alagação de todos os tempos. Recebi o município com muitas pendências, principalmente no que se refere à pavimentação.

Poucos prefeitos se preocuparam com os serviços de qualidade e recapeamentos. Recebi um município com uma estrutura muito grande. Isso requer gastos com manutenção e pagamento de servidores. Tivemos que fazer manutenção em praticamente todas as máquinas e equipamentos. Tivemos que trocar pneus de todos os veículos, por exemplo. Não temos caixa para manter aquela estrutura e investir na cidade. Foi preciso enxugar a folha de pagamento, inclusive reduzindo o meu salário e de todos os nomeados em mais de 20%. Mas agora estamos colocando a gestão nos trilhos. Já avançamos muito, graças a Deus.

Repórter– A população tem reclamado muito, notadamente quando o assunto é buracos, recolhimento de lixo e iluminação pública. O que o senhor tem a comentar sobre isso?

Ilderlei – Com relação aos buracos, as gestões anteriores não se preocuparam em recapear as ruas. Nos já fizemos esse trabalho na Boulevard Thaumaturgo, na rua principal do Morro da Glória, nas ruas próximas ao Instituto Santa Terezinha e nas imediações da garagem da prefeitura. Também iniciamos uma operação tapa-buracos que ainda não parou. Infelizmente, com as proximidades do final do ano, não podíamos mais comprar asfalto porque a prioridade era pagar o funcionalismo. As gestões anteriores jogavam barro e restos de construção, que eram levados com as primeiras chuvas. Com o apoio de um empresário da cidade, decidimos fazer uma mistura e passamos a tapar os buracos com concreto, o que tem se mostrado bastante eficaz. Também abrimos novas ruas em locais onde só existiam trapiches, principalmente no bairro Miritizal. O mesmo serviço também foi feito no projeto Santa Luzia, nas proximidades do Cruzeirão e no Saboeiro. Quanto ao recolhimento do lixo, priorizamos a educação ambiental para que a população pudesse fazer a sua parte. Infelizmente, algumas pessoas não têm a paciência de acondicionar o lixo para ser recolhido nos dias certos. Por causa disso, mudamos a lei de resíduos sólidos e, a partir deste mês, aquelas pessoas serão autuadas, caso insistam em não colaborar com a prefeitura. Quanto à iluminação pública, nós não temos parado. Nossa equipe está todo dia nas ruas trocando lâmpadas, que, infelizmente, têm pouca durabilidade. Iremos trocar todas por led que trará economia para o município. Ampliamos ainda redes que não existiam, como é o caso de alguns bairros e vilas do nosso município, bem como a estrada que dá acesso ao aeroporto.

Repórter – O senhor aumentou ou criou uma taxa de recolhimento de lixo?

Ilderlei – A arrecadação antiga, que era cobrada junto com o IPTU, estava defasada e o valor não chegava a R$ 800 mil. Esso quantia é irrisória para custear o serviço no município. Detalhe: esse valor é para coletar o lixo doméstico. Fizemos um reajuste na tabela e o retiramos da cobrança junto com o IPTU. Agora, cada residência cadastrada, já temos 11 mil, terá o seu imposto específico. Também faremos o recadastramento imobiliário, o que aumentará significativamente o número de residências. No ano passado, infelizmente, apenas 30% desses contribuintes pagaram a taxa, que gerou um valor um pouco acima de R$ 200 mil. E aí vem aquela pergunta que não quer calar: cobram do gestor uma cidade limpa e organizada, mas não colaboram como cidadãos e munícipes. A nossa despesa mensal com esse serviço gira em torno de R$ 450 mil. Como fechar essa conta? É muito fácil criticar ou cobrar.

Ilderlei fala de planos para sua gestão/Foto: reprodução

Repórter – O município já aprovou o plano de saneamento básico e resíduos sólidos?

Ilderlei – Isso foi um desafio muito grande. Esse tema é urgentíssimo e de grande importância, mas não priorizado pelas gestões anteriores. Tivemos que organizar a nossa equipe e dotá-la de condições para a execução dos trabalhos. Talvez sejamos o único município do Brasil que teve a ousadia de fazer os dois planos juntos. Aprovamos o de resíduos sólidos e estamos finalizando o de saneamento básico, que deve ser aprovado agora em maio. Devido a esse diagnóstico e apontamento de soluções, acredito que teremos uma cidade mais limpa, organizada e sustentável. Firmamos uma parceria com a organização não- governamental CBCN, uma entidade da Universidade de Viçosa que tem uma larga experiência nesta área.

Repórter – Quais foram as intervenções que a prefeitura fez na zona rural?

Ilderlei – Nos ramais fizemos algo que nunca existiu em gestões anteriores. Reunimo-nos com as organizações sindicais, com o governo do Estado e o Incra e traçarmos um plano de intervenção nos ramais. As gestões anteriores recuperavam, no máximo, cerca de 100 quilômetros. No ano passado, para a glória de Deus, atingimos 320 quilômetros de ramais. Ficamos responsáveis pelo Ramal 2 e alguns fundiários, além da sede do projeto Santa Luzia e do acesso à Praia Grande, Olivença e fomos até o São Luiz que fica no município de Guajará. Depois, o Badejo do Meio, Badejo de Cima, BR 307, Santa Luzia do Pentecoste, Japãozinho, Buritirana, Mariana, Ramal dos Paulinos e estrada do Canela Fina. Também tivemos a preocupação de qualificar os nossos produtores, oferecendo-lhes cursos técnicos e de boas práticas de pimenta-do-reino, cana-de-açúcar, produção de guaraná, café, piscicultura, açaí, entre outras culturas. Neste ano, vamos dar prosseguimento a outras qualificações e fazer outras etapas dos cursos já realizados. Temos uma emenda parlamentar do deputado Alan Rick para comprar equipamentos para os produtores de cana e farinha. Temos inúmeros parceiros e entidades nos apoiando nestes projetos. Eu creio que até o final da nossa gestão estaremos colhendo os frutos, ou seja, gerando emprego e renda para a nossa população. Este ano mesmo eu coloquei uma emenda para comprar roçadeiras para os agricultores.

Repórter– E as ações em saúde?

Ilderlei – Nos fizemos algo importantíssimo que nenhuma outra gestão se preocupou: criamos a central única de medicamentos. Com essa medida, passamos a ter um controle mais rígido e uma equipe técnica que a lei exige. Todos os medicamentos que os médicos prescrevem, que são de responsabilidade da atenção básica, graça a Deus, a gente tem atendido. Melhoramos o nosso centro de diagnósticos, dotando-o de equipamentos modernos. Saímos de 110 mil exames para 220 mil anuais. Isso é uma ação boa? Sim. Mas é um fato negativo porque é a comprovação de que a nossa população está doente. Também assumimos a malária, municipalizando o serviço e estamos fazendo o possível para diminuir os índices. Temos melhorado as condições de trabalho dos profissionais em saúde e levando o serviço com muita frequência para a zona rural. Estamos investindo 20% da nossa arrecadação com esse setor tão essencial para a qualidade da nossa população.

Repórter – E a educação também é uma prioridade?

Ilderlei – Há mais de dez anos, os gestores anteriores não cuidavam com a devida atenção das escolas da zona urbana. Era muito triste a situação. É só ver o depoimento de diretores e professores. Juntamente com o meu vice, o Zequinha Lima, lançamos o programa Escola Dez, que cuida do ambiente de trabalho e da qualidade do ensino. Reformamos, ampliamos e readequamos 17 escolas na cidade e mais algumas na zona rural. Além disso, com recursos do Fundeb, fizemos a cobertura de oito quadras esportivas. Nos próximos meses, mais três serão cobertas com recursos de emendas parlamentares. Isso é compromisso de campanha e com os bens públicos.

Repórter – A violência é uma triste realidade no município. O que a prefeitura está fazendo para evitar que os jovens sejam tragados pelo consumo e tráfico de drogas?

Ilderlei – Esse foi um dos meus principais compromissos de campanha. Estamos dando oportunidades para estagiários nas nossas repartições. Estamos concedendo bolsas remuneradas para mais de 20 jovens. Mas também temos ações no esporte, na cultura e no lazer. Resgatamos o Festival da Farinha, que não era realizado há 17 anos, e que trouxe um movimento cultural e turístico para a nossa cidade. Aumentamos os recursos da Lei de Incentivo à Cultura, incrementando mais projetos em quase as modalidades artísticas, dando oportunidades a novos talentos. No esporte, nenhuma gestão fez um campeonato com o vôlei. Também investimos no MMA, jiu jitsu, corridas pedestre e ciclística. Estamos apoiando as escolinhas de futebol. Tudo isso está tirando a juventude da ociosidade e do mundo das drogas. O esporte, a cultura e o lazer são ações de inclusão social. Também estamos concluindo a revitalização do balneário Igarapé Preto. Estamos com uma parceria com o Sesc para que as pessoas conheçam aquela estrutura. Recentemente, convidamos todos os prefeitos do Acre para vir para o lançamento do programa Internet Para Todos e eles se hospedaram lá. O Crôa também tem um grande potencial turístico. Firmaremos parceira com os moradores e, se Deus quiser, recapearemos aquela entrada para dar melhorar acesso ao local. Também estamos lutando para ter um voo semanal entre Cruzeiro do Sul e os nossos irmãos peruanos, o que vai incrementar o turismo na nossa região.

Jornalista – A administração pretende fazer concursos públicos?

Ilderlei – Gostaríamos muito, inclusive para diversas áreas. No entanto, existe um gargalo que impede isso: nós recebemos o município com 62% da receita comprometida com a folha de pagamento. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) diz que só pode contratar servidores se esse índice estiver abaixo de 52%. Esse é o nosso maior gargalo. Isso trava tudo, inclusive financiamentos para melhorar a nossa cidade. Se administração fizer recapeamentos e obras estruturais bem feitas, pagaríamos o financiamento com o dinheiro do tapa-buracos. Esse é a minha visão de gestor. Quero economizar e resolver os problemas do município.

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