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Psicólogo cria associação sem fins lucrativos para cuidar de idosos em Rio Branco

Por EVERTON DAMASCENO, DA CONTILNET

Uma projeção realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) dá conta de que uma em cada 9 pessoas no mundo tem 60 anos ou mais. O estudo aponta, ainda, que, em 2050, pela primeira vez, haverá mais idosos que crianças menores de 15 anos.

A Amirb funciona desde 2016/Foto: Reprodução

A população idosa totaliza 23,5 milhões de pessoas no Brasil.

A partir do interesse pelo envelhecimento, o psicólogo e docente da Faculdade da Amazônia Ocidental, Mychael Douglas Souza, a partir de um projeto social sem fins lucrativos e sem vínculo político-partidário, montou em 2016 a Associação de Arte em Movimento do Idoso de Rio Branco (Amirb), no intuito de oferecer cuidados à pessoa idosa através da oferta de atividades recreativas e de acompanhamento psicossocial.

“O interesse pela Pessoa Idosa sempre habitou dentro de mim, pois sempre tive um contato afetuosamente amoroso com meus avós e bisavós”, comentou.

Mychael conta que o interesse foi despertado quando ainda cursava psicologia e realizava projetos para o público que denominou “sênior”.

“Trabalhar com a Pessoa Idosa, hoje, se faz de extrema necessidade a fim de tornar a vida social destes a mais ativa possível, com mais investimento em saúde, lazer, educação, segurança, transporte, moradia e etc”, acrescentou.

Mychael em contato com as participantes da associação/Foto: Reprodução

Em 03 de março de 2016, Raimundinha (uma amiga do psicólogo) e Mychael reuniram-se com alguns idosos com o objetivo de fundar a Associação do Idoso, passando, deste modo, a utilizar um espaço cedido pela Associação de Moradores do Bairro Bahia Velha, localizado na Baixada da Sobral. A AMIRB funcionou neste espaço até a data de 23 de março de 2017, quando, a partir de articulações, a associação conseguiu a liberação do Teatro Barracão, localizado na estrada da Sobral (rua principal), com melhores condições de convivência e ofertando mais acessibilidade aos idosos.

A Amirb é composta por mais de 100 idosos/Foto: Reprodução

Posteriormente, a associação foi vinculada no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), em 18 de abril de 2017.

Em virtude de reformas no Teatro, as atividades foram transferidas para a Sede da Regional VI da Baixada da Sobral, rua Oswald de Andrade, s/n, bairro Palheiral, onde funciona atualmente.

“Cuidar do idoso de hoje implica em cuidar de nosso próprio futuro”, disse Mychael/Foto: Reprodução

Douglas também falou a respeito dos tipos de violência contra a pessoa idosa e os sofrimentos vividos atualmente.

Atividades: “Resgatar a autonomia dos idosos”

A Amirb realiza atividades culturais e sociais nas comunidades de Rio Branco com o objetivo de promover a qualidade de vida da pessoa idosa e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários por meio de atividades individuais, em grupo e em comunidade.

Além disso, oferece Arteterapia, Plantão Psicológico, Exercícios físicos orientados por profissional em educação física, café da manhã, atividades psicoeducativas e o tradicional forró, que coloca os idosos em festa.

O psicólogo e uma participante comemorando a conquista do CNPJ/Foto: Reprodução

“Objetiva-se resgatar a autonomia, autoestima dos idosos que estão em situação de fragilização de laços familiares ou mesmo passando por dificuldades financeiras, emocionais e físicas”, destacou.
Atualmente, a AMIRB desenvolve atividades com 120 idosos participantes (cadastrados), semanalmente, às quintas-feiras, das 8h às 11h.

“Cuidar do idoso de hoje implica em cuidar de nosso próprio futuro”, afirmou.

Confira na íntegra a entrevista:

ContilNet: Quando você percebeu o interesse por estudar o envelhecimento e trabalhar com grupos de pessoas idosas?

O interesse pela Pessoa Idosa/cidadão sênior sempre habitou dentro de mim, pois sempre tive um contato afetuosamente amoroso com meus avós e bisavós. Desde criança, sempre durante às férias escolares, passava boa parte desse tempo na companhia de meus avós maternos (Maria e João) e paternos (Auria e Pedro). Entretanto, para além do contato com a Pessoa Idosa na figura de meus avós, somente pude me relacionar com os idosos de maneira mais profunda e ampla, quando realizei um projeto de intervenção. De 2012 para cá, já se passaram 06 anos desde esse encontro de almas. E a cada dia, percebo que fiz a escolha feliz de trabalhar, mesmo que voluntariamente, com a Pessoa Idosa, utilizando para isso os conhecimentos de Psicologia do Envelhecimento, Psicologia Humanista Existencial e Psicologia Comunitária, além de um tempero nominado amor.

ContilNet: Qual a importância de se trabalhar com a pessoa idosa?

Conforme temos assistido o fenômeno mundial do envelhecimento populacional, sendo promovido, segundo alguns estudiosos, por melhores condições de vida, avanços na medicina e diminuição na taxa de mortalidade infantil, cresce também a necessidade de mais investimento público, privado e da sociedade civil organizada no sentido de proporcionar melhores condições de vida para a Pessoa Idosa.Nesse sentido, trabalhar com a Pessoa Idosa, hoje, se faz de extrema necessidade a fim de tornar a vida social destes a mais ativa possível, com mais investimento em saúde, lazer, educação, segurança, transporte, moradia e etc. Digo isto, porque o público idoso é um público diferenciado e que necessita de condições de sociabilidade mais acessíveis possível. E quando, hoje, buscamos melhor qualidade de vida para a Pessoa Idosa também estamos preparando o nosso futuro enquanto futuros idosos. Não é à toa que sempre digo: “Cuidar do idoso de hoje implica em cuidar de nosso próprio futuro”.

Idosos durante o tradicional forró/Foto: Reprodução

ContilNet: Como você considera o avanço de políticas públicas voltadas para o cuidado dos idosos?

Percebo que o Brasil, em se tratando de leis e, em específico de políticas públicas voltadas ao cidadão sênior, se apresenta muito bem contemplado. Entretanto, as diversas políticas públicas voltadas a esse público, isto é, soluções às necessidades do idoso precisam ser implementadas, efetivadas em todas as esferas governamentais. Como sempre, vejo que na teoria tudo é muito lindo, mas na prática a realidade é outra: há pouco investimento para manter e aprimorar os serviços voltados aos idosos e profissionais que acreditam e possuem ‘brilho nos olhos’ pela política pública do idoso, mas que lutam, em mínimas condições de atuação, para efetivá-la.

ContilNet: A partir das suas experiências, quais os maiores desafios ou sofrimentos vivenciados por quem está nessa fase do desenvolvimento?

Se eu pudesse resumir minha fala em uma única resposta para me referir ao sofrimento vivido por grande parte dos idosos eu resumiria em uma única palavra: abandono. Abandono por parte da família, por parte do poder público, abandono por parte da própria sociedade que se cala diante das violações aos direitos da Pessoa Idosa. Ao longo desses quase 5 anos em que atuo junto à realidade do idoso, tenho me deparado com realidades muito diferentes daquela esperada para uma vida dita normal: idosos que são violentados por parte de seus familiares (filhos e netos, principalmente) – o que confirma as pesquisas realizadas nos últimos anos; idosos que sofrem com a morosidade da saúde mantida pelo poder público, como por exemplo, esperar anos para uma intervenção cirúrgica de remoção de um cisto na região pélvica que pode estourar a qualquer momento, mas que não fora realizada por dificuldades em realizar exames pré-operatórios; idosos que se calam diante da violência intrafamiliar por medo, por amor, por insegurança – nesses casos, a maior dificuldade de lidar com idosos em situação de violência é que eles não conseguem se identificar como vítimas e, se o conseguem, por uma questão vínculo afetivo, preferem sofrer calados com a velha frase utilizada: “o meu filho me bate. Mas se eu denunciá-lo eu vou perder o meu único filho que tenho”. Realidades como essas existem aos montes. E digo, de certeza, que não entram nas estatísticas. Estão ocultas na sociedade.

ContilNet: De que forma a psicologia pode contribuir para a promoção de saúde durante o envelhecimento?

Como pessoa e psicólogo interessado e apaixonado pelo público sênior, sinto que a psicologia, enquanto ciência e profissão, pode contribuir e muito para a saúde mental dos nossos idosos. E falar de saúde mental na terceira idade implica diretamente em favorecer o bem estar emocional de cada idoso a fim de que este possa ter o mínimo de sintomas incapacitantes e, a partir disso, possuir a capacidade de ter relacionamentos e de lidar com os problemas da vida da forma mais leve possível.

“Amo cuidar da pessoa idosa”/Foto: Reprodução

FALA LIVRE

E, encerrando a minha fala, agradeço de coração o espaço cedido pela ContilNet Notícias e, se me permitem, despeço-me com um pensamento de minha querida avó Maria Bernadete, de 74 anos: “Meu filho. A gente nasce e vive feito cego ou como alguém no escuro sem saber o que vem pela frente, mas a gente não pode parar”. Então, sigamos em frente realizando com atitude aquilo que acreditamos.

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