“Sou uma índia cientista e pesquisadora”, diz indígena que escreveu livro na Ufac

Celebra-se no dia 19 de abril, o Dia Nacional do índio. A partir do decreto-lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943, com assinatura do então presidente Getúlio Vargas, a data surgiu no intuito de lembrar e reforçar a identidade do povo indígena brasileiro e americano na história e cultura atual.

Resgatando os avanços na conquista de direitos civis e lutando contra o preconceito, a indígena da aldeia Apurinã e graduanda do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Acre (Ufac), Xanupa, em entrevista concedida à ContilNet, comentou sobre a data e falou a respeito da identificação indígena no convívio social.

Xanupa foi registrada como Pâmela/Foto: Reprodução

Xanupa, filha de pai ‘branco’ com traços indígenas e mãe indígena, contou à reportagem que não nasceu na aldeia, que está localizada no município de Boca do Acre, mas que sempre esteve envolvida em seu desenvolvimento, traços da cultura e crença no modelo de vida dos nativos. Sua mãe, ao sair muito cedo da aldeia para a cidade, a teve na capital acreana.

“Sempre estive muito presente com meu povo, mesmo às vezes escutando que não era totalmente indígena, por ter no sangue uma influência dos ‘brancos’”, comentou. A indígena foi registrada como Pâmela Hingrede de Souza Freitas Apurinã.

Povo Apurinã em Boca do Acre (AM)/Foto: Reprodução

Xanupa, de início, resolveu fazer o curso de Ciências Sociais na Ufac para estudar os tipos de mitologia, mas, segundo ela, ao final, acabou por aproximar-se do estudo da identidade indígena e os estereótipos sociais construídos a cerca dos primitivos em virtude da sua história.

“Sou uma índia cientista e pesquisadora”

“Há um estereótipo que sempre coloca o indígena na categoria de cor morena, cabelos lisos e poucas roupas, isolado na mata. Esquecem que ser índio vai além disso. Algumas vezes, na aldeia, fui questionada por parecer um pouco com os brancos e, ao mesmo tempo, já fui questionada por pessoas da cidade, que me diziam não parecer indígena. Posso ser o que quiser. “Sou uma índia cientista e pesquisadora”, comentou.

Xanupa e a família Apurinã/Foto: Reprodução

A estudante acrescentou a ideia de que muitos preconceitos precisam ser barrados na sociedade atual, tendo em vista as classificações pejorativas que são feitas. “Somos ‘bonitinhos’ quando cantamos, dançamos, mas quando decidimos protestar contra aquilo que fere o nosso direito, quando lutamos por igualdade, somos tachados de desocupados e outros adjetivos depreciativos. Não me canso de desmistificar isso onde ando”, explicou.

Lançamento de livro sobre a temática

Em parceria com outros indígenas, que também ingressaram na universidade, Xanupa lançará um livro na noite desta quinta-feira (19), sobre as práticas indígenas no ambiente acadêmico, com o título “Atualizar o Mito – Práticas Indígenas”. “É um livro que se trata da síntese de encontros que aconteceram em um ambiente acadêmico”, relatou.

A obra será lançada nesta quinta-feira (19)/Foto: Reprodução

No E-book constam pesquisas de estudantes indígenas escritas em seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e monografias. Dentre os autores, estão Alana Manchineri, Alessandra Manchinery, Celia Collet, Jefferson Saady, Miguel Silva, Soleane Manchineri e Wendel Manchineri.

O livro poderá ser utilizado nas escolas por ter entre os temas abordados a implementação da Lei 11.645, a qual estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática história e cultura afro-brasileira e indígena.

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