Um caminho para a paz

Quando vemos, nas escolas norte-americanas, a ira, a cólera, a falta de respeito e falta de amor ao próximo serem disparadas pelos canos de armas de fogo dentro dos colégios, locais que carregam como missão a promoção da diversidade e da tolerância, se apossa de nós uma grave sensação de vazio, de silêncio. Recentemente, parcela significativa da população americana foi às ruas clamar por leis mais rígidas no controle de armas de fogo. Apesar da comoção, a divisão de opiniões ainda não encontrou o consenso: enquanto esperamos os debates sobre a liberação ou proibição do porte de armas se definirem, o mundo continua a assistir ao massacre diário e recorrente de crianças e adolescentes, causado por armas de fogo.

No Brasil, o cenário não é diferente. Talvez menos chocante, por se camuflar em um cenário de violência urbana constante que extravasa o ambiente escolar. No entanto, os nossos jovens também estão morrendo: de acordo com relatório da Fundação Abrinq sobre a situação das crianças e adolescentes frente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, um em cada seis homicídios vitimou brasileiros com até 19 anos de idade em 2015. Isso significa que, no Brasil, a cada dia, perdemos, em média, a vida de 30 crianças e adolescentes para a violência. “O que poderia ter evitado tantas mortes?”, perguntamo-nos.

Um em cada seis homicídios vitimou brasileiros com até 19 anos de idade em 2015/Foto: Reprodução

Não há respostas simples e medidas únicas para evitar essa perda. O sistema educacional brasileiro, no entanto, deve entrar no debate para oferecer subsídios à luta contra a violência que vitima crianças e adolescentes todos os dias. Uma das frentes mais importantes, mas esquecida, é a consolidação de um sistema de valores no ambiente escolar que ajude nossos estudantes a compreender a vida como o mais precioso bem que já nos foi ofertado. E que, por isso, não deve ser extinto, mas preservado.

Um em cada seis homicídios vitimou brasileiros com até 19 anos de idade em 2015

O ensino religioso, nesse contexto, exerce papel fundamental na construção de uma mentalidade pacífica e protetora. É uma contribuição interdisciplinar do subsídio educacional, no exercício da cidadania e do convívio social, ético e pacífico, que promove o diálogo entre as religiões, o respeito às diferenças, a dignidade do ser humano e o saber diante do desafio de uma sociedade complexa em respeitar o pluralismo cultural e religioso.

O aluno, por meio do ensino religioso, tem a oportunidade de iniciar um caminho no seu entendimento sobre o que é cultura, justiça e paz entre os seres humanos, na convivência social, já que a religião se fundamenta em princípios éticos e filosóficos. A linguagem da dimensão religiosa é uma construção do saber, sobre várias culturas orientais e ocidentais.

Com o advento da República, as Constituições reforçaram a ideia e a importância do ensino religioso laico nas escolas. Na Constituição Federal de 1988, o artigo 210, parágrafo 1.º, deixa claro que o ensino religioso é de matrícula facultativa e constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. Já o artigo 5.º define que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”, e a Lei Federal 9475/97 alterou o artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) para estabelecer que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”.

Além de auxiliar na busca de respostas para várias questões, sejam elas relacionadas à cultura, à convivência ou ao comportamento, o ensino religioso contribui com os valores civilizatórios do ser humano, que não são efêmeros. Apesar do grande avanço da tecnologia, a convivência social demonstra fragilidades, como a violência motivada pela religião, o bullying, a negligência e a corrupção, que se refletem na sociedade.

Os bons princípios promovem um relacionamento respeitoso para com o próximo, o valor da família e a própria importância do indivíduo para a sociedade, em pleno desenvolvimento como cidadão. O aluno consciente da diversidade religiosa e cultural apresentada historicamente, na área do conhecimento acadêmico, apreende as informações e consegue analisar as diferentes manifestações do fenômeno religioso, com respeito ao ser humano pela liberdade e autonomia de expressão.

Não podemos alimentar a ilusão romântica segundo a qual só os discursos promovidos no interior das escolas conseguem mudar o mundo, mas temos certeza de que podem construir caminhos para o convívio respeitoso e o estabelecimento de uma cultura de paz.

Marli Turetti Rabelo Andrade é coordenadora do curso de licenciatura em Ciências da Religião do Centro Universitário Internacional Uninter. Dinamara Pereira Machado é diretora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

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