A arma é o voto

O momento que a Nação vive sugere uma necessária e correta reação, nas urnas, diante de erros que comprometem a administração pública. Há muita desesperanças e a luz no fundo do túnel estaria cada vez mais sutil. E distanciada dos nossos anseios. Algo como o alumiar de lamparina.

Márcia Cavallari, diretora do Ibope Inteligência, declarou-se sensibilizada pelo fato de ter ouvido de eleitores entrevistados pelo instituto de pesquisa que, para eles, zero seria a perspectiva de melhora nos quadros dirigentes do País. É verdade, é desanimador.

O facho de lamparina pode igualar-se ao das modernas lâmpadas de LED se o objetivo é derrubar a frustração entalada na garganta dos brasileiros. Recordo-me dos anos de minha infância e juventude, com a saudosa lamparina a me ajudar nos deveres escolares ou a andar, pelas mãos de dona Marieta (minha mãe), de um cômodo para outro de nossa casa de madeira.

Da lamparina ao mundo digital de hoje, o País evoluiu, inclusive quanto às práticas da política partidária. No interior, como na minha Santo Antônio da Platina ou em Jacarezinho, o voto era conquistado com churrasco e farofa, em arraiais eleiçoeiros cercados com arame farpado e para os quais eram os eleitores conduzidos e, à saída, recebiam a cédula com o nome dos candidatos, uma disfunção, felizmente, já inexistente, substituída por transporte e alimentação gratuitos criados por lei. Como repórter do Estado, acompanhei sua aplicação em Unaí, então o maior município de Minas Gerais. O juiz eleitoral confirmou-me o êxito da iniciativa, mesmo ante resistências que o levaram a requisitar ônibus e caminhões.

Como esse, testemunhei tantos outros avanços resultantes da boa gestão de governantes. Conservo na lembrança, sem que se possa delir, o título de matéria que registrou a implantação de micro-ondas da Embratel na telefonia, inicialmente entre São Paulo e a capital do Paraná: Acredite, você está falando com Curitiba.

Em Brasília, na equipe precursora do jornal, as matérias eram transmitidas por telefone para a redação em São Paulo. Hoje usamos computadores e as notícias viajam pela internet, como as fotos, que antes iam de Brasília para São Paulo em envelopes entregues ao comandante do voo Vasp das 15 horas.

No dia em que um senador de Alagoas sacou o revólver para atingir um desafeto, errou o alvo e as balas perdidas mataram um modesto senador do Acre, José Kairala, levei o filme, ainda não revelado, ao aeroporto e o entreguei pessoalmente ao comandante do Viscount da Vasp. Raymond Frajmund, autor da foto, ganhou o Prêmio Esso de Fotografia.

O Congresso Nacional daqueles anos apresentava as mesmas falhas dos dias de hoje. Foi então convocada uma Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição vigente. Aquela que Ulysses Guimarães veio a denominar de Constituição cidadã, infelizmente, com pouco de cidadania e muito de aberraria.

Como repórter, convivi com as atividades do Senado e da Câmara dos Deputados. No governo de Itamar Franco, catapultado ao posto pela defenestração de Fernando Collor, o então presidente do Congresso me confidenciou sua preocupação diante da grave crise de então, como a atual. A seu ver, seria necessário mostrar ao povo que o Legislativo tentaria buscar uma solução. A mim e a João Emílio Falcão, também jornalista, foi além, ao admitir que sabia de antemão que de nada adiantaria promover reuniões a pretexto de costurar algo como uma versão brasileira do Pacto de Moncloa.

O Legislativo terá piorado, embora sejam visíveis os passos iniciais para que o Brasil logre extinguir a mácula de país da impunidade. A Justiça, sob o empuxo de ações da Polícia Federal e do Ministério Público, conseguiu julgar, afastar e encarcerar alguns agentes públicos comprometidos com o desvario da corrupção praticada pelos que usaram o poder público para institucionalizar o pagamento de propinas. Aí está a exemplar ação da Lava Jato, com o juiz Sergio Moro incansavelmente à frente.

Traduzo a frase de Márcia Cavallari, a de que os eleitores estão sem perspectivas, presas fáceis para a proliferação da apatia, propensas a votar nulo em outubro. É bom notar que, pela força da veiculação informativa da mídia, o povo já identifica ao menos dois pontos. A escolha de nome que realmente detenha formação, dignidade e capacidade para conduzir as reformas necessárias ao País. E informações para que se possam expungir do Parlamento candidatos à reeleição que denotem incapacidade ou, o que é pior, alguma simpatia pelos mesmos métodos de ação até aqui praticados. No caso, renovar seria o melhor caminho, sabedores que somos – para lembrar Drummond – de que no meio da estrada tinha, e ainda tem, uma pedra. É fácil acessar os sites da Câmara e do Senado Federal para levantar a atuação dos atuais legisladores, indispensável a uma “operação renovação”. Dessa forma, a Carta Magna poderá deixar de ser meramente uma Constituição cidadã, para se tornar a Constituição do cidadão. Afinal, somos todos cidadãos de um país de forte potencial, até para cortar pela raiz a iminente apatia. Só assim será possível resgatar o Brasil que queremos.

Iniciei o artigo com um pouco de minha atividade jornalística. Para renovar, completo com o que diz Luiz Prado, no Jornal da USP, no site do Estado: “Saí da Igreja do Rosário, andei por São Paulo e tropecei na história… a revelar desconhecimento sobre a cidade”. Aqui substituo a palavra cidade por País, que clama por reformas amplas a partir de 2019. Que os candidatos digam a que vieram. Sabemos todos que são urgentes a renovação e a modernização. Que venham as plataformas dos que querem o nosso voto. Não tropecemos na História. Corram, candidatos, corram!

*JORNALISTA. E-MAIL: [email protected]

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