Brasil e OMS investigam risco de terapia anti-HIV em gestantes

Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a Organização Mundial de Saúde investigam uma possível associação entre o uso do antirretroviral dolutegravir na gravidez e um defeito no tubo neural em fetos. O tubo neural é a estrutura que dará origem à medula espinhal e ao cérebro. A associação foi identificada em um estudo independente feito em Botswuana, na África.

As entidades frisam que até esse momento a relação é apenas uma observação — sem nenhuma relação de causa e efeito. Normalmente, a má-formação ocorre em 0,1% dos nascidos vivos; o que o estudo identificou foi um aumento para 0,9% da prevalência.

Dolutegravir está sob investigação para uso em gestantes. Não há informações suficientes nesse momento, diz OMS/Foto: Divulgação

Agora, será necessário identificar o porquê desse aumento. No entanto, como essas mulheres utilizavam o medicamento e o incremento foi encontrado nesse grupo, a suspeita é de uma relação com o antirretroviral. Outras causas precisam ser investigadas. A pesquisa foi financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH).

“Foram identificados mais três casos em vez de um só”, explica Ésper Kallás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

“O impacto dessa informação que ainda está sendo investigada é que o dolutegravir hoje é o medicamento de primeira linha da OMS. Ele é a primeira opção”, continua.

O estudo seguia 426 mulheres que tomavam o medicamento para evitar a transmissão do HIV ao feto do durante à gravidez. Quando foi observado o aumento, a pesquisa alertou a OMS. O monitoramento deve continuar até fevereiro de 2019, segundo a entidade. “Os dados vão oferecer mais informação sobre a segurança do DTG para mulheres em idade fértil”., disse a nota da OMS.

No Brasil, também foi averta uma investigação e médicos consideram cautela nesse momento.

“O alerta é importante, mas devemos aguardar para estabelecer uma relação de causa e efeito”, diz Jamal Suleiman, infectologista do hospital Emílio Ribas, referência em tratamento do HIV em São Paulo.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu um alerta sobre o caso e diz que há uma investigação aberta no Brasil conduzida pela Gerência de Farmacovigilância da entidade.

O infectologista Esper Kallás diz que não conhece dados sobre o uso em gestantes no Brasil. De qualquer modo, ele explica que o medicamento só é utilizado há um ano no país.

Diretrizes da OMS

Diretrizes da OMS de 2016 alertaram que havia dados insuficientes para o uso do dolutegravir durante a gravidez e amamentação e recomendaram outros medicamentos (efavirenz (EFV) em combinação com tenofovir (TDF)) ou (lamivudina (3TC) ou emtricitabina (FTC)

“A OMS está levando muito a sério essa potencial questão de segurança e está trabalhando de perto com todas as partes interessadas relevantes, incluindo os ministérios da saúde, os investigadores do estudo, o fabricante e as organizações parceiras para investigar essas descobertas preliminares”, disse a entidade.

A OMS recomenda que mulheres que estão utilizando o medicamento conversem com o médico. Não é recomendável a interrupção sem essa conversa, segundo nota de alerta. A entidade diz ainda que o efavirenz (outro antirretroviral) deve ser utilizado como primeira opção no caso de mulheres que vão começar a terapia.

A nota da OMS também recomenda a adoção de suplementação com ácido fólico para evitar a ocorrência da má-formação.

“Até que os dados sejam esclarecidos, a recomendação é de não usar o medicamento no primeiro trimestre”, diz Kallás.

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