Confusão conceitual
O governador Tião Viana criticou ontem (22) o que chamou de ‘desoneração fiscal’ por parte do governo federal. Na verdade, a expressão usada pela equipe econômica de Temer foi ‘reoneração fiscal’, ao contrário do que escreveu em seu microblog Twitter o gestor petista.
Ponto de vista
A questão semântica, porém, é menos importante que a decisão do governo e seu provável impacto sobre a economia do país. E a depender do ângulo pelo qual se avalia a questão, Tião, convenhamos, não está errado.
Desgosto
Enfim, num país em que a carga tributária só tende a subir, ela finalmente deverá baixar – e em produtos que movem a economia nacional. Mas Tão Viana não gostou.
A gente explica
Ocorre que a reoneração das empresas antes beneficiadas pela política de Dilma, e agora com a desoneração dos combustíveis, o governo, em conversa com os presidentes da Câmara e do Senado – respectivamente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (MDB-CE) –, acertou zerar tributos como a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) para derrubar o preço dos combustíveis.
Adendo
Sob a justificativa de alavancar a geração de empregos, Dilma Rousseff beneficiou 56 setores da economia nacional, e com isso inúmeras empresas deixaram de recolher a contribuição previdenciária sobre 20% da folha de pagamento.
Pindaíba
Ocorre que a Cide – repartida entre União, estados e Distrito Federal, na proporção 71%-29% – é destinada à recuperação de estradas. Daí o esperneio de Tião Viana, que ficará com os cofres ainda mais vazios.
Piada pronta
A ironia da história é que a imprensa local destacou ontem (22) o discurso do senador Jorge Viana contra os preços cobrados, sobretudo dos municípios do interior do Acre, pela gasolina e gás da cozinha.
Contramão
Logo depois que o senador petista atribuiu a Temer a culpa pela carestia desses produtos, sobretudo em municípios como Jordão, Porto Walter, Santa Rosa e Marechal Thaumaturgo, o irmão governador se queixou de que a desoneração de impostos teria impacto sobre as contas públicas do Acre.
Marca registrada
A coluna acha desnecessário ir mais longe na demonstração de que nem mesmo a consanguinidade é capaz de estabelecer coerência entre dois filiados do Partido dos Trabalhadores.
Esperneio
Em relação a Tião Viana, que a despeito de todo o aperto financeiro não ‘desonera’ a folha de pagamento do estado, na qual enfiou mais de 2.100 pessoas, a gritaria até faria sentido se tivéssemos, ao menos, vestígios da BR-364, onde foram enterrados tantos milhões de reais que já se falou que eles, juntos, chegam à casa dos 2 bilhões.
Dizer o que, né?
Quanto a Jorge Viana, o que esperar que ele diga agora, que o governo federal resolveu baixar o preço da gasolina – produto que no Acre é comercializado a um preço sem equivalente no resto do Brasil?
O choro revela a hipocrisia
Mas há um detalhe revelador nessa história: o reclame do governador explica a hipocrisia do irmão parlamentar. É que há vinte anos no poder, ambos, que tanto se comovem com a situação dos que precisam pagar até R$ 10 pelo litro da gasolina, e chegam a comprar uma botija de gás por inacreditáveis R$ 250, nunca – nunca mesmo – fizeram uma única menção de reduzir ou isentar, nas regiões mais isoladas, o ICMS que incide sobre esses produtos. Bastaria isso pra provar que eles, de fato, defendem os mais pobres.