O pré-candidato a senador Marcio Bittar, do MDB, é o que pode se chamar de homem corajoso. Ele acaba de chamar para o debate fazendo apontamentos e acusações duríssimas a ninguém menos que o senador Jorge Viana do PT, um dos homens mais temidos do Acre nos últimos tempos. O Viana precursor da era PT, artífice da florestania, só não assombra tanto como no começo em razão do fracasso colossal de seu partido no país e aqui no estado. Maioria dos projetos iniciados por iniciativa dele faliram. Mais que isso: explodiram denúncias de corrupção e o impensado aconteceu: gestores petistas foram presos, inclusive o semideus do bolivarianismo tupiniquim, Lula da Silva. O Acre, claro, foi à bancarrota.
Mesmo assim há quem ainda tema o ex-governador, o que não parece ser o caso de Bittar. O prenúncio do fim dessa era é profético e já tem até o mordomo, aquele que levará maior culpa, escalado para apagar a luz, o atual chefe da Casa Rosada. Espécie de gerente do cafezinho da copa, o atual governador, irmão e seguidor do senador Jorge, atua esforçadamente para bancar apaniguados, apenas. Não há investimento algum, não se faz obras há muito tempo e muitas que foram realizadas ainda não foram pagas. Falta hospital e remédio, falta delegacia e segurança. Tião Viana tende a encerrar o período bufão da forma mais melancólica possível. E é nessa nuvem de desesperança que surge o ex-deputado federal mais votado da história do Acre. Ele parte para cima dos adversários sem medo e sem segredo, mas tudo dentro do limite da democracia, segundo ele mesmo.
Em entrevista concedida à ContilNet ele aponta o dedo nas feridas. Diz que a “esquerda é fora da lei”, para sintetizar o antagonismo entre o que ele, um liberal, pensa, e o que os petistas defendem, por exemplo, em relação a prisão de corruptos e o tratamento com bandidos comuns. Em quase uma hora de conversa, Marcio Miguel Bittar, um paulista nascido em Franca, com 55 anos de idade previstos para serem completados no próximo dia 28 de junho, chegado em Sena Madureira, no Acre, aos nove anos de idade, discorre sobre quase todo assunto pertinente à política nos últimos 30 anos. Marcio é um liberal conservador, sem pena de defender suas bandeiras. Bittar não abre mão da família tradicional e é absolutamente contra o aborto, uma afronta às ideias de seus oponentes.
Veja todos os detalhes a seguir:
Evandro Cordeiro – O senador Jorge Viana fez uma declaração esses dias dizendo que se os índios votarem na oposição, isso será um retrocesso. O que o senhor acha dessa declaração?
Marcio Bittar – Acho que o senador Jorge Viana, mais uma vez, perdeu uma grande oportunidade de ficar calado. Ele dizer que se a oposição vencer as eleições, encerrando vinte anos de autoritarismo na economia, na política, na democracia, nos negócios do Acre, que eles quebraram o Estado, isso seria um retrocesso para comunidade indígena, como se nos vinte anos deles tivessem feito com que os índios evoluíssem, tivessem mais oportunidades? Ele tá de brincadeira. Ou ele não anda no Acre, ou ele não está enxergando o Acre. Há poucos anos não havia um índio na cadeia, hoje você tem comunidades indígenas em que muitos na cadeia. É só andar nos municípios e você vai encontrar grupos de índios alcoolizados, drogados… a situação nas aldeias indígenas, tirando alguns que o governo do PT escolheu para ter privilégios e apresentar ao mundo, a grande maioria vive em situação famélica, prova disso é que a taxa de sobrevivência indígena é muito menor que a nossa. Os índios vivem segregados em reservas onde nem mesmo eles podem explorar, é isso que o senador Jorge Viana apresenta como um grande avanço? Nós queremos que as aldeias indígenas tenham a capacidade de se emancipar, é nisso que deve mirar a nossa vista. O PT se utilizou nesses vinte anos de alguns indígenas pra arrecadar dinheiro, falando de uma política mentirosa, porque a realidade é terrível.
Evandro – Então o senhor está dizendo que a Florestania não ajudou em nada na implementação de políticas avançadas para os indígenas?
Marcio Bittar – Eu sempre declarei que essa propaganda não iria dar certo. Foi uma ideia fantasiosa vendida para ganhar eleições ao longo dos anos. O Jorge Viana pregava que iriamos ficar ricos com a venda de produtos da floresta e assim resolveríamos os problemas graves de saúde, educação… escondendo uma realidade nua e crua. Muitas plantas da Amazônia inteira podem ser reproduzidas em qualquer lugar do mundo pra combater Alzheimer e outros tipos de doenças. É impossível fiscalizar toda a Amazônia brasileira, tanto que levaram a seringueira daqui para a Malásia.
Evandro Cordeiro – A Florestania falhou, então?
Marcio Bittar – A Florestania foi um engodo. O senador Jorge Viana foi o maior responsável por trazer para o Acre a perseguição, a criação de leis e burocracias que praticamente impediram o homem do campo de trabalhar. O PT foi o partido responsável por criar toda essa teia que controlou a área rural, impedindo a produção e o desenvolvimento do Acre. A florestania foi uma ideia que embalou o sonho de muitas pessoas e quando acordamos do pesadelo percebemos a situação do nosso Estado. Óbvio que isso ia dar em fracasso, a exemplo do governo do irmão dele, que já mudou o foco sem fazer nenhuma autocrítica ao fracasso anterior.
Evandro Cordeiro – Quando o senhor critica duramente os governos do PT por sua política ambiental, isso não tem a ver com a sua posição de fazendeiro e de amigo de grandes produtores rurais?
Marcio Bittar – Eu prefiro ser amigo de fazendeiros, como era meu pai, do que ser amigo do Lula, que está preso e condenado. A vida do trabalhador rural é uma vida de muita labuta, eu mesmo passei anos da minha vida nesse trabalho, ao lado do meu pai. O Brasil deve muito ao agronegócio. Aqui no Acre onde a esquerda dominou durante esses 20 anos, o agronegócio praticamente inexiste. Eles são inimigos da iniciativa privada e da produção.
Evandro Cordeiro – E quando o PT declara apoio ao Lula e diz que ele é um preso político?
Marcio Bittar – Aí confirma algo que venho dizendo: eles falam que acreditam em Deus só para enganar as pessoas. Na prática, eles vivem contrariando os valores cristãos. Dar importância à família, por exemplo, que é um valor cristão fundamental, eles, na prática, não cumprem. A base familiar justa colabora para a justiça e para o estado democrático e direito. O Lula é condenado em primeira e segunda instância, porque recebeu propina e roubou dinheiro público. Quando os irmãos Viana vêm a público afirmar que Lula é inocente eles estão afrontando a Justiça e prestando um desserviço às crianças que estamos querendo educar para que respeitem a lei. Eles prestam um desserviço e deseducam as pessoas quando fazem apologia a um condenado. A esquerda é isso. Eles são fora da lei. A lei só serve se for conveniente a eles.
Evandro Cordeiro – O Acre e o Brasil vivem um caos na segurança. Os cidadãos foram desarmados e o senhor é um crítico desses temas…
Marcio Bittar – Evidentemente que esse caos tem muito a ver com a concepção esquerdista difundida nos últimos anos. A esquerda trata o bandido como se ele fosse uma vítima da sociedade, como se a contravenção justificasse os erros do bandido. Mas todo esse caos é possível ser revertido.
Evandro Cordeiro – Como?
Marcio Bittar – Primeiro nossas leis são frouxas e precisam mudar. Eu, por exemplo, sou a favor da prisão perpétua. Sou a favor do direito de autodefesa ao cidadão de bem. Quanto mais a esquerda desarmou as pessoas mais a violência cresceu. Sou a favor da redução da maioridade penal. Não há cabimento a pessoa que rouba, mata e sequestra não pagar pelo crime por ser menor. Se ele praticou o crime, tem que ser punido duramente, independentemente da idade. Tenho um compromisso com um projeto de lei em tramitação que diz prevê que o criminoso comece a pagar a pena já na cadeia, em regime fechado. Sou a favor que o presídio de segurança máxima não possa dar ao bandido o direito de receber dezenas de visitas durante o mês, porque vai contra os direitos humanos, pela ideologia da esquerda. O presídio, realmente de segurança máxima, tem que garantir o isolamento do criminoso, com raros recebimentos de visitas para evitar que continue dando ordens e comandando o crime de dentro da cadeia. Defendo também leis que protegem a vida do agente da lei: policiais, delegados, juízes… Em caso de um crime contra autoridade da lei, é preciso que a punição seja mais rigorosa ainda, porque o bandido, nesse caso, além de atentar contra a vida do agente, está agindo contra o Estado. Então é preciso endurecer as leis nesse sentido. Tenho compromisso com esse tipo de causa. Aqui no Acre e no Brasil tem gente que matou e com dois anos já estava na rua, então precisamos enrijecer as leis. O primeiro combate a violência é a punição. Outra necessidade é priorizar a segurança pública, que não foi priorizada nem pelo governo federal, muito menos pelos governos do PT aqui no Acre. Defendo que o orçamento da segurança pública não possa ser contingenciado. Aqui no Acre, sugeri ao Gladson Cameli, meu pré-candidato ao governo, que possa diminuir o tamanho do Estado. É um absurdo gastar mais com publicidade do que com a Polícia Militar! O dinheiro da segurança foi sugado pelas campanhas políticas e para apadrinhar aliados políticos. Então sugeri ao Gladson essa prioridade com a segurança pública. O fracasso do PT no Acre gerou o maior percentual de jovens desempregados, ultrapassa 25%, é quem mais sofre e isso reflete diretamente na violência que estamos sofrendo diariamente.
Evandro Cordeiro – Como o senhor pretende trabalhar junto ao eleitor acreano para convencê-lo de que o Marcio Bittar merece ser senador, ante a todo esse descrédito das pessoas com a classe política?
Marcio Bittar – Eu acho que a fala do candidato deve coincidir com o seu histórico de vida. A história pode comprovar ou não o que ele fala. Eu adquiri a honradez na minha vida política. Já fui deputado estadual e federal por duas vezes. Na última, exerci o cargo de primeiro-secretário da Câmara Federal, um cargo muito importante e que administra o orçamento da Câmara, que é equivalente ao orçamento do estado do Acre. O cargo que ocupei, do ponto de vista do poder interno da Câmara, é o mais importante ao lado do cargo de presidente e eu exerci uma gestão limpa e transparente. A ficha limpa das pessoas é uma garantia da vida política delas. Quanto ao conteúdo, é só ver o meu plano de governo de 2014, quando fui candidato a governador. Antes de falar dos problemas estruturantes do Estado, procurei falar de valores, porque são eles que norteiam nossas vidas, principalmente na política. São os valores que dizem se você tem caráter, são eles que dizem se você pode ou não cumprir o seu plano de governo. Veja as campanhas do PT, o engodo da florestania e depois da industrialização, só farsa. Eu venho defendendo esse caminho, o da ética, de valores e posturas republicanas. Eu adquiri de berço, de família. Então meu pai foi um exemplo em minha vida e meus valores devo a ele, pois sempre me ensinou a andar no caminho correto.
Evandro Cordeiro – O senhor é criticado pelo PT nas redes sociais e taxado de político “sumido”, que só aparece em época de eleição…
Marcio Bittar – Eles não têm nem criatividade. Eu falo sobre os temas importantes e faço o debate da agenda do estado do Acre, mesmo estando sem mandato e com todas as dificuldades de andar o Estado inteiro e debater os problemas reais. É falta de algo mais sério para me criticar e ficam inventando isso. Eu moro em Sena Madureira desde os nove anos de idade, não há o que falar a meu respeito. Eles estão vivendo há vinte anos de dinheiro público. Eles não terão vida fácil nesta eleição. A alta taxa de desemprego e os altos índices de violência virão à tona nesta eleição. Eles culpam o governo federal com desculpa pela má gestão e isso não convence. Outra desculpa que usam é a situação de fronteira, mas o Mato Grosso também faz fronteira e não tem os índices alarmantes que nós temos. Então está na hora de inauguramos outro modelo de desenvolvimento. Com a iniciativa privada, o agronegócio… Uma parte do Acre é propícia para plantar soja. A China tem interesse com o centro-oeste brasileiro e essa saída é por Cruzeiro do Sul. Abrir mercado com Peru é uma necessidade e é isso é que vai gerar emprego e renda.
Evandro Cordeiro – Quando o senhor faz uma autocritica, o senhor não se ver muito sisudo, muito “duro”, de pouco sorriso?
Marcio Bittar – Eu sou uma pessoa brincalhona, mas na política eu sou mais sério. Já fui bem pior ao início da carreira (risos), mas é porque eu levo muito a sério a vida pública. Eu sou uma pessoa que tenho bom humor e não perdi, até hoje, uma única noite de sono por conta de disputa eleitoral. A Márcia, minha esposa, é que diz que “em véspera de eleição eu durmo como um anjo”. E vou continuar assim. Eu sou um homem de muita sorte. Foi assim com meus pais e agora com meus filhos e minha esposa. Eu sou muito bem casado. Considero dois milagres na minha vida: primeiro eu estar vivo, diante de todas as batalhas vida, e, segundo, ter conhecido a Márcia e ter construído uma bela família com ela. Tenho muito orgulho dos meus filhos também.
Evandro Cordeiro – Quando o senhor diz isso, o senhor não está atingindo as pessoas do meio político que não têm família nesses moldes?
Marcio Bittar – Não, absolutamente. Não é esse o meu objetivo. Eu tenho a minha fé cristã. Eu concebo que a mulher nasceu para o homem e o homem para a mulher. Até na mitologia grega tem um exemplo disso: Zeus separou o macho da fêmea e por isso eles passam a vida querendo se encontrar. É natural. Mas eu sou tolerante com quem pensa diferente de mim.
Evandro Cordeiro – E a ideologia de gênero?…
Marcio Bittar – Considero doentia e equivocada, mas respeito quem acredita nela. A ideologia diz que a opção do sexo é uma concepção social e eu não acredito nisso. Mas respeito e amo quem tem a outra opção que não é a minha. O MEC não pode ensinar aos nossos filhos a ideologia de gênero, isso é uma questão de foro pessoal e não dever ser ensinada nas escolas. Isso é um absurdo. Eu vejo que o que está por traz disso é um desejo de destruição da família. E eu não posso concordar com isso. Até mesmo nas antigas civilizações, a instituição mais sólida era a família.
Evandro Cordeiro – Pelo cenário desenhado o seu principal adversário, num confronto direto, é o senador Jorge Viana, que é tido como o mentor da FPA, qual a avaliação o senhor faz dessa disputa?
Marcio Bittar – A campanha é pra confrontar ideias e projetos, e eu vou fazer isso na campanha. Não é nada pessoal. Mas ele é o responsável por colocar o Acre onde está, com suas políticas equivocadas. A florestania e a industrialização, dele e do seu irmão, foram um fracasso. A pobreza salta à vista. Rondônia, no mesmo tempo buscou outro caminho, o da produção, e é só ver os indicadores. Enquanto Rondônia abateu 1,6 mi de cabeças de gado, no ano assado, nós abatemos algo em torno de 400 mil. Esse é o dado. A burocracia não facilita a vida do produtor e do empresário, as empresas estão fechando. O saldo desses vinte anos é negativo, e o Jorge é o grande mentor disso. Pra quê ele quer mais oito anos? Ele teve todo o tempo e apoio necessário e fecha esses vinte anos de PT com um estado falido.
Evandro Cordeiro – Então o senador Jorge Viana é o responsável, inclusive, pela buraqueira de Rio Branco?
Marcio Bittar – Ele é o maior responsável por todos os problemas, ele e o seu grupo. O prefeito que renunciou faz parte do seu grupo. Ele é o grande responsável. Eles são responsáveis porque empregaram um modelo equivocado. Eu defendo um modelo liberal na economia. O estado não é uma empresa. O Acre precisa ser aberto para a iniciativa privada. Para terminar, desmitifico dois mitos da esquerda, um deles é dizer que a falta de oportunidade é a grande responsável pelo alto índice de violência no nosso Estado e não é bem assim. Muitas pessoas estão desempregadas e nem por isso viraram assassinas, muitos pais de família estão se virando pra ganhar a vida honestamente, então não é a falta de oportunidade que faz as pessoas trilharem pelo caminho do mal. Outro mito é o da educação. A China gasta menos que o Brasil na educação per capita e é uma potência mundial. Nas eleições nós vamos questionar e debater. O meu adversário não é o Petecão, ele é meu aliado, meu adversário é o senador Jorge Viana.
Evandro Cordeiro – O senhor vai participar de todos os debates?
Marcio Bittar – Eu vou participar de todos. Entendo que num debate entre eu e o Jorge Viana quem ganha é a sociedade. Porque ele tem uma visão sobre os temas e eu tenho outra, professamos valores diferentes. E a campanha é pra fazer esse contraponto. Então a população é quem ganha com isso. Um exemplo: sou contra o aborto, o PT é a favor; eu defendo a economia de mercado, o PT defende o Estado na economia. Então vamos fazer esse debate e o Acre é quem vai ganhar e o eleitor poderá fazer a sua escolha. São dois modelos diferentes.
Evandro Cordeiro – Pré-candidato, muito obrigado e boa sorte!
Marcio Bittar – Eu que agradeço a você e ao seu blog, que tem feito o maior sucesso. Eu estou em paz com a minha consciência. Acho importante dizer que impossível não criticar a situação em que estamos vivendo. Uma das funções que nos cabe é essa, fiscalizar mesmo. Não é uma questão pessoal, mas não posso me omitir. Tenho que apontar os problemas crônicos que os acreanos enfrentam na vida cotidiana. Por isso repito, quero saber a posição do Jorge Viana sobre os assuntos que interessam ao nosso estado. Ele teve vinte anos, pede mais oito pra fazer o quê afinal?