Captura de filhotes de peixes-bois da Amazônia preocupa pesquisadores

Se o filhote de peixe-boi, vítima de captura incidental em redes de pesca, estiver em boas condições e não houver histórico recente de morte de uma fêmea no local, ele deve ser devolvido à natureza. Não importa se a mãe do animal não é vista na hora, ela está nas redondezas e o encontrará. Resgatar este bicho e entregar aos órgãos competentes, por mais que seja uma conduta louvável, também é uma atitude inconsequente para a espécie. A observação é do veterinário Anselmo D’Affonseca, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).

A manifestação sobre o assunto veio à tona em função de que, nos últimos 15 dias, o Inpa recebeu cinco filhotes de peixes-bois-da-Amazônia, o que representa quase metade da quantidade que a instituição recebe durante um ano – 10 a 12 animais, cuja espécie está ameaçada de extinção. Para os pesquisadores, a captura de um número grande de filhotes, praticamente recém-nascidos, em período curto causa preocupação, já que poderiam estar com suas mães. “Na natureza, eles têm maior chance de sobreviver”, ressalta D’Affonseca.

De 31 de março a 02 de abril deste ano, o instituto fez a maior reintrodução de peixes-bois da história (Foto: Andrea Reis/Ipaam)

O veterinário, que atua no Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Inpa, explica que quando o animal é retirado de seu habitat natural e levado ao cativeiro ele passa por todo um processo de reabilitação, que gera alto custo aos cofres públicos e tem taxa de sobrevivência de 80%, e ainda corre o risco de nunca mais poder voltar à natureza. Se não bastasse, caso o bicho tenha condições de ser solto aos rios da Amazônia, isso só acontecerá após seis anos de recuperação, e ainda tem a incerteza sobre sua readaptação ao ambiente.

D’Affonseca evidencia que é recomendado o resgate de filhote de peixe em três situações: se o animal for encontrado sozinho e estiver magro; com ferimento grave; ou se houver histórico de que uma fêmea foi caçada e morta na região no mesmo período. Caso contrário, a orientação é que o bicho seja devolvido ao rio, no local onde foi capturado, para viver a sua vida. “Provavelmente, o filhote se perdeu da mãe, não está correndo riscos. Ele vai achar ela ou ela vai achar ele em algum momento. O que temos notado, pelos relatos, é que o pessoal não vê, na ocasião, nenhum peixe-boi pela área, mas ninguém vai vê mesmo. A espécie é muito difícil de ser vista em seu habitat”, apontou.

Há mais de 40 anos, o Inpa trabalha com os peixes-bois. O órgão reabilita os animais e prepara para que eles, após alguns anos, retornem à natureza. De 31 de março a 02 de abril deste ano, o instituto fez a maior reintrodução de peixes-bois da história, com a devolução aos rios da Amazônia de dez animais. Os cinco filhotes que a instituição recebeu nos últimos 15 dias foram resgatados nos municípios de Itacoatiara (dois), Urucará, Tefé e Careiro da Várzea.

Saiba mais

Para reduzir as capturas incidentais, o Inpa/MCTIC em parceria com o Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa) está trabalhando para desenvolver uma campanha de conscientização junto a comunitários e pescadores. Nesta segunda-feira (18), às 10h, a instituição promove uma atividade no Laboratório de Mamíferos Aquáticos, próximo aos tanques dos peixes-bois, no Bosque da Ciência.

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