“O governo do Acre perdeu a guerra para o crime há muito tempo”, diz presidente do Sindicato de agepens

O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários no Acre (sindapen), Lucas Bolzoni, concedeu uma entrevista exclusiva à ContilNet onde fez revelações antes não divulgadas em relação a existência do crime organizado no estado, como funciona e, o mais grave, tanto o governador Tião Viana quanto o ex-secretário de segurança pública que hoje é pré-candidato ao governo do estado Emylson Farias, já sabiam de tudo antes da “bomba explodir” e nada foi feito.

Bolzoni contou que a reportagem exibida no Fantástico no domingo (10) mostrou apenas “um pouco” da realidade enfrentada pelos agentes penitenciários nos presídios acreanos dominadas pelas Facções PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), mas que nem tudo foi dito.

Segundo o representante dos agentes, tanto a reportagem do Fantástico quanto o governo, afirmam que a expansão das facções criminosas tiveram início em 2015, quando na verdade, diz Lucas Bolzoni, tanto Viana quanto Farias foram alertados do problema pelo menos dois anos antes, em 2013, portanto há 5 anos trás.

Confira a entrevista:

Contilnet: Você diz que o controle dessa facções criminosas que funcionam de dentro dos presídios já existia bem antes de 2015?

Lucas Bolzoni: Eu não sei se por “estratégia” ou por questões políticas o crescimento delas (organizações) foi “desmentido”; o que sei é que enquanto o estado negava essas organizações elas se consolidavam debaixo do nariz das autoridades. Nós, os agentes penitenciários, que trabalhamos diariamente lá dentro dos complexos já havíamos alertado tanto o governador Tião Viana, quanto o, na época secretário de Segurança Pública Emylson Farias. Eles fizeram vista grossa para o problema e a bomba agora explodiu.

Contilnet: Em que época vocês alertaram o estado sobre a presença do PCC e do CV nos complexos prisionais do Acre?

Lucas Bolzoni: Ontem no Fantástico e o próprio governo, dizem que essas facções criminosas começaram a atuar no Acre há 3 anos. Na verdade, elas existem e atuam fortemente fora e dentro dos presídios acreanos desde 2013 e nós alertamos bem antes.

ContilNet: Vocês que trabalham diretamente com os presos, fazem ideia de como eles se comunicam? Os bloqueadores de celular funcionam?

Lucas Bolzoni: Os bloqueadores só existem no complexo FOC (Francisco de Oliveira Conde). Ainda assim, há registros de várias ações por parte dos bandidos para causarem pane elétrica e apagão, o que desliga os aparelhos que demoram novamente a religar. Nesses intervalos eles ligam e fazemos comandos para o mundo externo. Houve, por muito tempo, aparelhos que conseguiam burlar o bloqueio e desconfiamos que ainda consigam. Porém, com visitas íntimas às quartas e familiares aos domingos, os presos também conseguem mandar e receber informações para o mundo externo, o que inclui ordens para cometimento de crimes, execuções e outros delitos aqui do lado de fora.

 

“Hoje os presídios, devido à ausência do Estado, funcionam como escritórios do crime”

 

ContilNet: Então na verdade os presídios funcionam como um escritório do crime? É isso?

Lucas Bolzoni: Exatamente isso. Hoje os presídios, devido à ausência do Estado, funcionam como escritórios do crime. Os grupos criminosos se retroalimentam nas unidades prisionais com o investimento estatal de cerca de R$ 1.700 por preso. Hoje todos os presídios do Acre são divididos de acordo com as facções criminosas. Como a proporção de um Agente Penitenciário para cerca de 100 presos não tem como interferir na rotina do apenado e nem lhe impor disciplina ou algum horizonte que lhe dê uma oportunidade de reintegração. Ao chegarem aos presídios, até os presos primários já são automaticamente cooptados pelas organizações criminosos e passam a integrar esse exército paralelo que cresce dentro e fora dos presídios. Senão se integrar a um grupo qualquer lá dentro, esse preso primário é executado. Não tem jeito e eles só aumentam os seus exércitos.

ContilNet: Que alternativas você, enquanto agente penitenciário e representante dessa categoria, vê para que haja uma diminuição e, quem sabe, até o fim dessas organizações dentro dos complexos prisionais no Acre. Não querendo ser dramático, mas seria explodir com todos dentro? (risos)

Lucas Bolzini: Haha. Nós rimos para não chorar (risos). Mas é bem isso mesmo. Seria uma opção. Mas temos outras alternativas. Como produção. Trabalho. Mais responsabilização e menos regalias. Os presídios precisam ser locais de correção dominados pelo Estado e não os escritórios do crime dominados pelas organizações criminosas como acontece hoje. O governo do Acre já perdeu a guerra para o crime há muito tempo. Só não admitiu ainda.

ContilNet: Muito obrigado pela entrevista e boa sorte!

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