A decisão judicial que determinou a prisão da pastora Juliana Sales, diz que ela sabia dos “supostos abusos sexuais” sofridos pelos filhos, Kauã e Joaquim, que morreram carbonizados em um incêndio em Linhares, e que ela e o marido, o pastor Georgeval Alves, tinham planos de usar a morte dos filhos como forma de ganhar notoriedade e ascensão religiosa.
A defesa de Juliana informou que ainda não vai se manifestar porque não teve acesso a essas informações.
A ordem de prender a pastora partiu do juiz André Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares. De acordo com a decisão, Juliana sabia dos desvios de caráter do marido, e mesmo assim apoiava os planos dele de se promover na igreja.
Para o Ministério Público, assassinar os próprios filhos estava nos planos do casal. Seria uma tragédia a ser usada pelo pastor para se promover na igreja.
“O pastor George, em parceria com a pastora Juliana, buscava uma ascensão religiosa e aumento expressivo de arrecadação de valores por fiéis e, para esta finalidade, ceifou a vida dos menores Kauã e Joaquim para se utilizar da tragédia em seu favor”, diz a decisão.
Juliana também estava ciente sobre as diferenças de tratamento que George dava para os filhos e o enteado. A decisão diz que George deixava faltar alimento, medicamento e atendimento médico para as crianças.
Troca de mensagens
Para o juiz, Juliana também tinha ciência do comportamento sexual incompatível com a pregação do marido. Em uma troca de mensagens pelo celular, a pastora dizia ter ‘nojo’ e o pastor dizia se sentir ‘imundo’ e um ‘lixo’ por seus comportamentos.
Já em uma mensagem que enviou para a mãe, a pastora afirma que dormiu bem após a morte das crianças. Em outra troca de mensagens com o pastor George, Juliana diz: “eu não estou preparada para dar errado”.
E em uma conversa com outros pastores, ela afirma: “não sei se vou conseguir ser forte até o final”.
Irmãos relataram abusos
De acordo com a decisão, os irmãos Kauã e Joaquim já haviam relatado, na escola, os abusos sexuais que sofreram.
Em certas ocasiões, Kauã chorava desesperadamente, mas alegava aos seus professores que não podia contar o motivo.
Joaquim, também na escola, relatava que sofria abusos sexuais. Os pais compareceram no estabelecimento de ensino afirmando que os abusos não eram praticados no âmbito doméstico e familiar.
O Ministério Público diz que o casal se defendia afirmando que a culpa pelos abusos era de uma outra criança, de 5 anos.
Além disso, a decisão diz que Juliana e George não tomaram nenhuma providência após Kauã ter “sofrido ‘maldades’ por parte de dois ‘caras’ na piscina”.
Pastores mexeram na cena do crime
A decisão da Justiça traz outra revelação. Há relatos de que após a morte dos irmãos o pastor e a pastora foram até a casa, jogaram vários objetos no quarto das crianças e retiraram quase todos os objetos depois, inclusive lençóis e roupas de cama, entregando-os a terceiros para serem lavados.