O jovem Paulo Vitor, de 17 anos, sobrinho de um dos líderes do Comando Vermelho em Cruzeiro do Sul, o traficante Everton Pereira de Souza, mais conhecido por Cãozinho, morto na semana passada durante um suposto confronto com a polícia, pediu ajuda ao Pastor Arnaldo Barros para se desligar da vida do crime. Ele teme ter o mesmo destino do tio e por isso quer mudar de vida.
Vitor contou, com exclusividade à ContilNet, que a morte de cãozinho foi uma execução e não uma troca de tiros com o Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Após a morte do tio, na companhia do pai e da mãe, Paulo Vitor veio até Rio Branco e gravou um vídeo onde aparece ao lado do Pastor Arnaldo Barros e faz num apelo para que os integrantes do Comando Vermelho compreendam a sua decisão de deixá-los.
Antes da gravação do vídeo, em que se diz arrependido, o jovem conversou com a reportagem e revelou que não faz ideia de quantos membros fazem parte do Comando Vermelho no Acre, mas adiantou que na época em que foi aceito na facção, há três anos atrás, o Comando já havia recrutado mais de 1.200 jovens somente em Rio Branco e o Juruá foi dominado.
Confira alguns trechos da entrevista:
ContilNet: Como você foi recrutado pelo Comando Vermelho?
Paulo Vitor: Eu tinha só 14 anos na época e meu tio, o Cãozinho, já era traficando e eu ví naquilo uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil. Ele me convidou e eu comecei a entrar nessa vida até hoje, com 17 anos, e fui morar lá em Cruzeiro do Sul com ele.
ContilNet: O teu tio foi morto durante um confronto com a polícia na semana passada. Você veio pedir ajuda ao pastor porquê também tem medo e morrer?
Paulo Vitor: Não. Meus pais falaram comigo pra gente vir aqui pra Rio Branco falar com o Pastor, porque ele é um homem de Deus e também pra que meus irmãos do CV compreendam que eu não quero mais viver nessa vida de crime.
“Meu tio não foi morto em confronto com a polícia, ele foi executado à sangue frio. Ele se entregou e deram sete tiros de fuzil nele à queima roupa. Ele estava deitado no chão já e atiraram”
Contilnet: Mas havia uma arma (revólver) ao lado do corpo de Cãozinho, supostamente a arma que ele atirou na polícia também.
Paulo Vitor: Meu tio não usava um revólver daquele. Meu tio tinha armamento pesado. Metralhadora, Fuzil e outras armas de calibre pesado. Ele tava em casa com a mulher dele e o filho. Ele se entregou. Tava tranquilo. Um policial que é lá de Cruzeiro do Sul deu vários tiros de fuzil nele deitado no chão pra se entregar. A mulher do meu tio com o filho nos braços pedindo pra parar de atirar e o policial atirando. Foi uma execução e não uma troca de tiros como eles dizem.
ContilNet: Lá em Cruzeiro do Sul, o Comando Vermelho já recrutou muitos jovens?
Paulo Vitor: Eu só posso dizer que lá tá dominado e também só posso dizer número lá do bairro da Cohab onde a gente morava. Tem uns 30 só lá.
ContilNet: A Polícia, após a morte do teu tio, só encontrou um revolver com ele e você diz que o cãozinho só usava armamento pesado. Como essa sua acusação pode ter fundamento?
Paulo Vitor: Meu tio estava em casa com a mulher dele e o filho. Lá ele não usava as armas. Tem um lugar pra guardar. Aquele revólver que tava do lado do corpo dele, foi a polícia que plantou lá pra dizer que era dele e ele tava atirando também. Tudo mentira. Ele foi morto à sangue frio. Ele já tinha se entregado e atiraram nele de fuzil várias vezes.
ContilNet: O que você espera da sua vida agora?
Paulo Vitor: Quero servir a Deus e pedir mais uma vez aos meus irmãos do CV que não quero mais continuar. Que me compreendam e aceitem minha decisão de querer viver em paz.
ContilNet: Boa sorte Paulo!
Confira vídeo gravado com o pastor Arnaldo Barros:
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