Quem desdenha quer comprar
André Kamai, atual presidente da executiva regional do PT, desdenhou – como era de se esperar – os resultados da pesquisa de intenção de votos feita pelo instituto Data Control. A ‘indiferença’ em relação aos números da sondagem é tamanha, que ele afirma nem ter visto as planilhas de forma detalhada.
Vai um remedinho aí?
Kamai, segundo ele próprio, se fia mais nas aparências do que nos critérios técnicos que embasam o levantamento do instituto. Beleza. Mas daí afirmar não existir a diferença de quase 15 pontos percentuais em favor de Gladson Cameli sobre Marcus Alexandre já é um despautério a requerer uma dose cavalar de bom senso – ou mesmo de risperidona ou olanzapina, fármacos usados no tratamento da esquizofrenia. No caso dele, trata-se, claro, de enfermidade política.
Cada um crê no que quiser
O dirigente petista foi além: afirmou que para ele o melhor diagnóstico é a convenção do partido realizada no último sábado, quando a Frente Popular reuniu – segundo os cálculos dos próprios companheiros – cerca de 30 mil pessoas no evento que ocorreu no Sesi.
Na marra
Mas, a propósito da convicção do dirigente petista, é preciso lembrar um pequeno detalhe: este portal de notícias revelou, em duas matérias – sendo uma delas com a reprodução de áudio – que os servidores comissionados e terceirizados do governo foram pressionados a levar, cada um, no mínimo mais três pessoas à convenção.
Petista e hegeliano
André Kamai, uma vez mais, prova que os petistas são adeptos da teoria de Hegel, aquele filósofo célebre por suas obras, mas cujas teses o tempo fazia questão de não endossar. Aborrecido, Hegel certa feita disse que se os fatos não lhe comprovavam as ideias, pior para os fatos. Kamai, como o filósofo, prefere se agarrar às versões.
Tardo, mas não falho
Com pequeno atraso, a coluna quer se reportar à polêmica aventada pela presidenciável Marina Silva (Rede Sustentabilidade) ao criticar o adversário Jair Bolsonaro, que como ela postula assumir a sala principal do Palácio do Planalto.
Célebre Marina
A acreana Marina, cuja fama mundial nenhum benefício rendeu ao Acre – muito pelo contrário, até hoje tem sido deveras rentável a ela própria –, resolveu condenar o ato protagonizado por Bolsonaro, ao pegar uma criança no colo e, usando-lhe as mãozinhas, simular com os dedos uma arma de fogo.
Quixotesca
O que me espanta na ex-senadora é que ela tende a enxergar gigantes onde há apenas moinhos de vento, ao passo que age como se fossem apenas moinhos de vento os muitos e perniciosos gigantes com os quais se depara. Explico.
Esquiva
Marina Silva evitou o quanto pôde falar com a imprensa à época em que o país se incendiava sob a possibilidade de impeachment da petista Dilma Rousseff. Chegou a passar, se não me engano, uma temporada no Japão. Era contra a deposição da companheira, mas mudou de ideia quando percebeu que o processo estava consumado.
Indignação seletiva
No Acre, todas as semanas, são assassinados inúmeros adolescentes – muitos dos quais nunca pegaram numa arma e outros que lidam com elas como se fossem brinquedos ganhos no natal. Repito: dona Marina Silva não lamenta os jovens acreanos que têm morrido como moscas, mas é célere em se indignar com a cena de Bolsonaro a ensinar uma menininha a imitar uma arma.
Tudo muito normal
Oriunda do seringal Bagaço, de onde saiu para ser empregada doméstica em casas de conhecidos na Capital do Acre, também não ouço dela uma única censura à situação de penúria dos que vivem ainda hoje nos seringais do século 19.
Semelhanças – e nenhuma diferença
Tampouco consigo vislumbrar nela um laivo que seja que me permita diferenciá-la dos antigos companheiros, responsáveis por quebrar o país e, aqui entre nós, transformar o lugar em que vivemos numa terra sem lei.
Simbiose
Por isso as ideias da ex-senadora nunca foram do meu agrado, porque não obstante ter saído do PT, o PT jamais saiu de dentro dela.
Contradições
O sonho de Marina Silva sempre foi herdar o espólio político de Luiz Inácio. Malogrado este seu intento, lhe resta tentar produzir, a partir de uma brincadeira de criança, um fato abominável. Quanto às verdadeiras tragédias – sejam as dos que morrem diariamente no Acre vítimas da violência, sejam as dos que continuam a levar vida miserável nos seringais acreanos, Marina Silva, sempre tão falante, nunca tem uma só palavra a dizer.
Bofetes
O governador Tião Viana, coitado, não dá uma dentro. Mesmo quando surge um motivo qualquer pra que possa comemorar, logo vem a realidade e lhe dá umas bofetadas.
Lanterna
Foi o caso da vibração com os recém-divulgados números do Caged, que mostraram leve incremento de postos de trabalho com carteira assinada no Acre. Na pressa de alardear a conquista, Tião não se deu conta de que o desempenho do estado, comparado aos demais da Região Norte, lhe deixaram com a lanterninha na mão.
Bem longe daqui
E por alguma dessas razões inescrutáveis, acabei de lembrar que o ex-governador Binho Marques, sucessor de Jorge Viana e antecessor de Tião, nunca mais pôs os pés pra morar aqui – mesmo tendo transformado o Acre no melhor lugar da Amazônia para se viver.