Encerrando os debates da sexta edição da Quinzena da Mulher Negra, que homenageou a vereadora Marielle Franco, assassinada este ano no Rio de Janeiro, será realizado nesta terça-feira (31), às 19h, na sala de cinema do Sesc Centro, o debate intitulado “Violência de Gênero: Um olhar interseccional sobre a mulher amazônica”.
A mediadora será a estudante de jornalismo Hellen Lirtêz, e o debate acontece com a participação de Aquésia Maciel, mestra em literatura comparada pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), e Jaycelene Brasil, militante dos Direitos Humanos, feminista interseccional e pesquisadora das questões de gênero e da promoção da igualdade racial.
Em entrevista ao site ContilNet, Aquésia destacou que os diálogos no debate terão muitos elementos da dissertação intitulada “Boto Cor-de-Rosa: Uma narrativa sobre gênero, raça e violência”, trabalho de conclusão do mestrado feito por Aquésia.
“Tudo o que a gente vive hoje, dentro das questões de gênero e raça, são consequências da invasão na América Latina, que introduziu a ideia de raça e o preconceito de gênero. Dentro desse contexto, analisei em meu trabalho a lenda do boto tendo como foco a mulher amazônica, fazendo um percurso sobre as questões da colonização na América Latina. A lenda do boto traz uma metáfora sobre a violência de gênero na realidade amazônica”, explicou Aquésia.
Este debate também terá como pontos de discussão a exotização e a erotização das mulheres negras, indígenas e latinoamericanas, inseridas em um contexto de subjugação completamente diferente das mulheres brancas (europeias e americanas).
“Peguemos, por exemplo, o mito das Amazonas. Essa lenda tem origem na Grécia, porém, devido às caractéristicas dessas mulheres – bravura, habilidade em batalha, liderança -, tiveram uma projeção voltada para a realidade da América Latina. Dentro da minha pesquisa, fiz os recortes das mulheres ‘de cor’ (indígenas e negras) que, pra Europa e Estados Unidos no contexto ocidental, são as mais exotizadas e, consequentemente, são as que mais sofrem com esse abuso”, detalhou a mestra.
MILITANTES SEPARADAS DO TEMPO
Jaycelene Brasil destacou que dentro da Quinzena, são homenageadas diversas figuras do feminismo negro e da militância de direitos humanos, incluindo a vereadora Marielle Franco e Teresa de Benguela, líder quilombola que viveu no atual estado de Mato Grosso, no Brasil, durante o século XVIII.
“A Quinzena é uma ferramenta pedagógica afrobetizadora, onde conseguimos juntar as gestões municipal e estadual à sociedade civil. Isso estimula a promoção da igualdade racial nos espaços de poder. Embora separadas no tempo, [Marielle e Teresa] lutavam por questões semelhantes”, destacou Brasil.
“Esse olhar mais interseccional é pra tentarmos enxergar essa especificidade da mulher amazônida, que abrange mulheres negras e indígenas. Toda essa complexidade pré-fundamentada, que vem do peso do racismo, gera um problema de enquadramento. Por exemplo: a mulher negra tem que carregar o peso do machismo e do racismo em sua vida. Através desse diálogo, queremos traçar quais as reivindicações certas a fazer, queremos saber quais as barreiras que precisamos quebrar”, afirmou a militante.