Líderes indígenas Huni Kuin procuraram nesta quarta-feira (25) a sede do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) com o objetivo de pedir proteção e respeito aos seus saberes ancestrais.
Eles foram recebidos pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e Cultural e Habitação e Urbanismo (Caop/Maphu), procuradora Rita de Cássia Nogueira Lima.
O cacique do Centro Huwã Karu Yuxibu e articulador político da etnia, Mapu Huni Kuin, manifestou preocupação com a utilização indiscriminada de rapé nas cidades. Segundo ele, há preparo, uso e comercialização abusivos que descaracterizam esse pó tradicional consumido em rituais sagrados e de cura por diversos povos originários da Amazônia.
Nas culturas indígenas, em especial para os índios huni kuin, o rapé é considerado uma “medicina de poder” que promove contato com o mundo espiritual. Por isso seu uso deve ser administrado com reverência e em contexto sagrado.
Feito da combinação de ervas, entre elas o tabaco, o pó é geralmente aplicado em rituais xamânicos acompanhado de outras “medicinas da floresta” como ayahuasca e sananga.
O cacique huni kuin relatou que é cada vez mais comum ver o uso de rapé misturado com álcool e até com drogas ilícitas, o que pode causar, em seu entendimento, sérios danos à saúde, além do desvirtuamento dos conhecimentos ancestrais das culturas indígenas.
“A gente está pedindo providência contra a banalização dessa medicina sagrada, que é o rapé, que está sendo mal-usado, com muitas pessoas bebendo cachaça e até ingerindo com outras substâncias químicas, e lá na frente a gente pode ver que o rapé pode ser proibido. Nesse sentido, viemos conversar para a gente pensar em uma regulamentação, para que as pessoas possam comercializar e usar de forma adequada”, declarou o cacique.
Por sua vez, a procuradora afirmou que vai reunir informações sobre o assunto com estudiosos e órgãos públicos ligados à cultura. Recentemente, o Caop/Maphu instaurou um processo administrativo para acompanhar as políticas públicas de proteção ao patrimônio cultural material e imaterial no Estado do Acre, o que pode redundar, a depender dos estudos e informações a serem levantados, na sugestão de declaração do rapé como um patrimônio cultural imaterial, assim como a regulamentação de sua comercialização.
“Tratamos sobre o desvirtuamento dessa medicina tradicional dos povos indígenas, que é o uso do rapé. Foi nos explicado pelos representantes indígenas que tem todo um ritual para preparação e ministração do rapé, que ele é usado para cura dentro de um ritual, mas hoje seu uso está sendo indiscriminado, em contexto recreativo, e não para uso medicinal e dentro do ritual, inclusive há notícias de que, ao invés das raízes e ervas, estão sendo adicionadas drogas ilícitas”, informou a procuradora de Justiça Rita de Cássia Nogueira Lima.
Atuando como intermediador da conversa, o assessor da Procuradoria Geral de Justiça Moisés Alencastro disse que as lideranças indígenas estão preocupadas com a preservação de suas tradições. “Com certeza, vamos ter resultados positivos, através desse estudo sobre o patrimônio cultural, casando com a regulamentação do uso do rapé fora das aldeias.”