Lula e Copa do Mundo: a verdade sobre o último fim de semana

O último fim de semana, que bem poderia ser chamado de “o Brasil numa casca de noz”, diz muito sobre nossa essência enquanto povo e nação.

O Brasil perdeu o jogo na sexta-feira contra a Bélgica, sendo eliminado da copa do mundo na Rússia. Logicamente, o país entristeceu. Já no domingo (hoje), a liberdade do ex-presidente Lula vai e vem ao compasso de uma intrincada disputa hierárquica no poder judiciário. Os ânimos exaltaram-se por todo o país, em especial no território virtual, de maneira similar a um pênalti apontado erroneamente pelo juiz. Esses dois eventos, aparentemente desconexos, complementam-se e são de natureza semelhante.

Nós, os brasileiros, fracassamos na copa. Disso todos sabemos. O que talvez não se mostre evidente de maneira tão imediata é que não fracassamos por haver perdido o jogo para a Bélgica. Nada disso. Fracassamos por acreditar que, se houvéssemos sido campeões do mundo, nos redimiríamos do fato de sermos incapazes de constituir uma nação civilizada a um padrão internacional.

Nós, os brasileiros, novamente voltamos a fracassar no domingo. Não fracassamos por nos ser tão difícil conseguir manter o Lula preso (e nem por nos ser tão difícil conseguir soltá-lo). Fracassamos por acreditar que, com o Lula preso (ou solto), nos redimiríamos do fato de sermos incapazes de constituir uma nação em que a justiça esteja acima da corrupção, do apadrinhamento e do coronelismo.

Tanto o futebol quanto a política revelam, sutilmente, a incapacidade do povo brasileiro. Fala-se infantilmente, tanto de jogadores quanto de políticos, como heróis e vilões. Torcedores, tanto de times rivais quanto de partidos rivais, chegam ao absurdo de se atacar com violência verbal e física, em honra a seus respectivos “clubes”. Tanto no jogo esportivo quanto no jogo eleitoral, esta massa de torcedores pensa que, com a substituição de jogadores/políticos, o seu time/partido chegará à glória. Como isso quase nunca ocorre (e quando ocorre é uma glória absolutamente efêmera), geralmente se põe a culpa no juiz (neste caso, a palavra serve para ambos os jogos). Apesar de serem os grandes beneficiários dessa lógica patética, nenhum dos atores do jogo (jogadores, políticos, juízes etc.) criou este cenário. Foram os torcedores que o criaram… É o povo quem acredita no jogo. É o povo quem acredita que o futebol vai redimir e salvar, e também é ele quem deposita a exata mesma esperança na política.

Se você também acredita no jogo, então não se preocupe com o Neymar estar numa fase boa ou ruim, e nem com o Lula estar livre ou preso… Pode ficar bem tranquilo, porque a cada quatro anos haverão outras dessas figurinhas saindo do forno especialmente pra você, pois é exatamente isso que você merece. Por outro lado, se este cenário lhe perturba, então não lute por ser representado por este ou aquele jogador/político e nem por este ou aquele time/partido…

Lute por um jogo que lhe represente.

* Mark de Lima é Filósofo

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