É trágico
Seria cômico, não fosse o tamanho da tragédia. Na altercação protagonizada pelos senadores Sérgio Petecão (PSD) e Jorge Viana (PT), ontem no Senado, enquanto o primeiro discursava, o petista afirmou que não caberia pedir ajuda a um ‘governo golpista’. Sim, eles se recusam a solicitar auxílio de Michel Temer para um setor carcomido pela incompetência deles próprios: o da segurança pública.
Guilhotina
A declaração de Jorge Viana precisa ser analisada com atenção. Pois revela a multifacetada petulância dos que não dão o braço a torcer – não importa se o pescoço de centenas de pessoas jaz na guilhotina.
Palpiteiro
O segundo argumento é menos prosaico: o governador Tião Viana, em nota publicada na rede social Facebook contra Petecão, afirma que a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro não deu resultados. Puro palpite.
Faltou combinar com os cariocas
Tião certamente ignora que uma pesquisa feita pelo instituto Datafolha, em março deste ano, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que 76% dos cariocas apoiam a intervenção. Por que será que ele não encomenda uma pesquisa de opinião popular sobre o que acham os acreanos sobre a intervenção federal na segurança do estado? A resposta é fácil, não é mesmo?
Dúvida cruel
Se até dias desses a turma do PT culpava Temer pelo descalabro na segurança pública do Acre, e o secretário Vanderlei Thomas resolveu acusar a imprensa, Tião Viana voltou ao picadeiro para anunciar que o senador Petecão é quem deve ser responsabilizado pela criminalidade galopante. Haja paciência!
Freud explica
O colunismo político, por mais atento e perspicaz, já não dá mais conta de retratar tantas contradições, asneiras e patuscadas proferidas pelos companheiros. O que essa gente precisa é de psicanálise. Só Freud pra explicar o que se passa na cabeça deles.
Dois momentos memoráveis
Vejamos um exemplo esclarecedor, dividido em dois momentos, com pequeno intervalo de tempo entre eles – mas ambos a mostrar as opiniões conflitantes do senador petista Jorge Viana sobre o mesmo assunto.
Rojões
Assim que recebeu a notícia do arquivamento, no Supremo Tribunal Federal, do inquérito em que figurava como beneficiário de mais de dois milhões de reais, via caixa 2, para a campanha do irmão, Jorge Viana foi ao Facebook para dizer o seguinte: “Justiça seja feita. Podia ser assim a chamada dessa notícia. Sempre tive a consciência tranquila, mas o momento é de agradecer a Deus e a todos que foram solidários comigo e com o Tião. É melhor sofrer uma injustiça que praticar uma… Recebo essa decisão como a manifestação da justiça da mais alta corte do país. Agora a verdade voltou. Sigo ficha limpa. Bola pra frente”.
Dia e hora
A referida publicação data do dia 30 de junho deste ano, e foi registrada às 17 horas e 10 minutos.
De volta ao tema
Nem se havia passado 30 dias das referências elogiosas à justiça, eis que no último dia 8 o senador do PT voltou a falar sobre o Judiciário brasileiro, desta vez motivado pela ciranda que tentava colocar Lula pra fora da carceragem da Polícia Federal.
Chorumela
Esgotadas as tentativas do desembargador Rogério Favreto – aquele que passou 19 anos filiado ao partido da estrela vermelha, e que certamente por isso mandou soltar o ex-presidente –, o senador petista voltou seu canhoneio contra os que elogiara.
Ora, vejam só!
Disse ele: “Lula segue vítima de um jogo de cartas marcadas. Que país é esse? Que justiça é essa?”. E para edulcorar sua irritação com a manutenção da sentença dada ao ladrão-mor do PT, usou uma frase de Rui Barbosa: “A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”.
Na trilha
Mas não pense o leitor que estamos a nos desviar do tema central da coluna de hoje. Muito pelo contrário. Pois se Jorge Viana é capaz de mudar de ideia sobre o Judiciário, passados apenas 28 dias, o que esperar dele e de sua trupe quando o assunto é a segurança pública? Eis o busílis!
Tijolaço
A propósito, o desabafo escrito pelo governador Tião Viana contra o senador Sérgio Petecão é um tijolaço de três laudas. Quanta revolta! Quanto ódio no coração! – como eles gostam de afirmar dos adversários…
Meias-verdades
Na diatribe de Tião, me chamou a atenção a referência às fronteiras abertas ao narcotráfico, um problema que ele atribui ao governo de Michel Temer. Em seguida, vem a referência ao fato de ostentarmos o triste título de segundo maior consumidor de cocaína do mundo. Meias-verdades.
Contraponto
A revelação de que o Brasil se havia tornado, depois dos Estados Unidos, o maior consumidor de cocaína do planeta foi feita em setembro de 2012, no Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). E o que fizeram Lula e Dilma? Continuaram a saquear as estatais brasileiras, em especial a Petrobras.
Conclusão
Resta concluído que não dá pra levar a sério quem diz que Lula é inocente, pendura mais de 2 mil aliados políticos nos cabides do governo (a um custo mensal superior a 8 milhões de reais), enquanto destina R$ 7 milhões ao ano à Polícia Militar… E ainda tem o desplante de culpar Temer e Petecão pelos infortúnios na segurança.
Chega, né?
Bem como não se pode levar a sério um senador que incensa a justiça quando é absolvido, para ouvi-lo, dias depois, achincalhar o Judiciário porque o bandido companheiro vai continuar em cana.
Pra encerrar
“Mostre-me um herói e eu escreverei uma tragédia”, disse o escritor Scott Fitzgerald. Jorge e Tião já foram os heróis do povo acreano. Quanta à tragédia, Fitzgerald não precisa se preocupar: ela já foi escrita pelos irmãos Viana.