O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), 63, não esperou a primeira pergunta. Foi logo reclamando da hostilidade no ambiente político. “Há um excesso de poder de órgãos fiscalizadores. Inviabiliza o Executivo”, protestou.
Aliado do ex-governador Sergio Cabral (MDB), condenado a mais de cem anos de prisão, delatado ele próprio por suposto recebimento de propina, com mandato cassado no Tribunal Regional Eleitoral e controlando um câncer que o afastou do poder em 2016, Pezão diz que estará fora da política a partir de janeiro. “Quero entrar nessa fase de dar palpite.”
Declara voto em Eduardo Paes (DEM) para sua sucessão e brinca com Marcelo Crivella (PRB), prefeito do Rio que ele derrotou na eleição estadual de 2014. “Falei, ‘Crivella, te livrei de uma, hein, cara, imagina você no meio disso aqui?’ Ele falou: ‘ô, Pezão, como Deus é bom comigo.'”*
Como está o clima político no país?
– Muito ruim. Joga todo mundo na vala comum, parece que o mal é só na política, pô. Quem vai resolver os problemas são os políticos. Não se faz política sem político.
Onde está o mal?
– Um dos males é que a gente criou um excesso de poder desses órgãos fiscalizadores, e são muitos hoje. Você tem que prestar conta a tantos órgãos que ficou inviabilizado você ser Executivo. Você pendura seu CPF para trabalhar, pô. TCU, TCE, CGU, MP Federal, MP estadual, TRE, TJ, não sei. Tem tanto órgão a que você é submetido que você fica mais tempo respondendo a ação.
Diante de tanto escândalo, não é necessário prestar contas?
– Claro, não sou contra a transparência. Acho que tem que ser tudo demonstrado. Agora, é muita gente para fazer a mesma coisa.
O sr. acha que foi posto na mesma vala que a do Sérgio Cabral?
– Não estou falando isso. Em relação às obras, estou aberto a qualquer fiscalização. É um absurdo, três domingos seguidos o TCE deu três matérias para o Globo totalmente inverídicas. Superfaturamento do metrô de R$ 3 bilhões. Você acha possível?
O sr. acha que não?
– Humanamente impossível.
Hoje não tem mais superfaturamento?
– Não, não estou questionando isso. Mas prove. Agora você é julgado, condenado antes e depois você tem tempo para se explicar. Essas coisas de delação premiada, o cara chega lá e fala e depois você é quem tem que provar? Igual no meu caso. O Paulo Roberto [Costa, ex-diretor da Petrobras] foi lá e falou que eu assisti a uma conversa onde o Sergio pediu R$ 30 milhões para a campanha, nunca teve essa conversa. Fiquei três dias no Jornal Nacional, uns dois na primeira página do Globo, da Folha, de tudo que é jornal. Fui absolvido por unanimidade, sai lá na página de obituário, numa tirinha desse tamanho assim. Você acha isso justo?
Depois o delator Carlos Miranda voltou a acusar o sr. Recebeu mesada de R$ 150 mil?
– Não, pô. Vê a evolução patrimonial, sempre publico meu Imposto de Renda no Diário Oficial.
Pode-se guardar o dinheiro de forma que dificulte a fiscalização.
– Tinha que aprender, pô, eu não tenho. Estou saindo de 36 anos de vida pública, hoje dei entrada na minha aposentadoria do INSS, é o que eu vou sair.
De quanto é?
– R$ 5.100, acho. Acho muito cruel a vida do político. Não estou me queixando, mas vou dar um exemplo. Só com esse dinheiro e o dela [sua mulher], não dá para a gente viver. Se em janeiro eu arranjar um emprego numa empresa para a qual dei um benefício fiscal, vou apanhar. Se for para um cargo público, você apanha de tudo que é jeito.
Na sua sucessão, em quem o sr. aposta?
– Estou trabalhando tanto que nem tenho de ficar olhando muito eleição.
Quem é seu candidato?
– Não tenho, não. O PMDB ontem tirou que vai apoiar o Eduardo [Paes].
O sr. vota no Eduardo?
– Voto.
O sr. votando nele ajuda ou atrapalha?
– Não sei. Estou confessando aqui meu voto, não tenho tempo de trabalhar, não vou para a rua.
Para presidente vai apoiar quem?
– Não sei.
Em quem vai votar?
– Se o PMDB mantiver a candidatura do Meirelles, vou votar nele. Apesar de achar que não é o momento dele, sempre briguei para o PMDB ter candidato. Não sei se ele vai ter tempo de se mostrar ao país.
O que acha da situação de Cabral, com a condenação a mais de cem anos de cadeia?
– Para mim particularmente é muito sofrida. Sou amigo dele, dos filhos, da família. Sinto pela situação dele muito, sofro junto.
Seu mandato foi cassado…
[Interrompe] Em uma instância.
O sr. recorreu ao TSE. A acusação diz que o sr. recebeu doação de empresas que tinham sido beneficiadas por isenção fiscal e fornecedoras do estado. O sr. teve preocupação de separar governo e campanha?
– Tentei muito, agora eu tinha que governar, tinha que fazer campanha e tinha que gravar televisão. É humanamente impossível, quase 20 horas por dia. Não tinha como ficar tomando conta da minha campanha.
Com a intervenção, a segurança pública não está na sua alçada. Com a saúde financeira gravíssima, não tem dinheiro para fazer investimento. De que o sr. tem se ocupado?
– Tenho feito muita obra, toda sexta inauguro obras. Estou fazendo o maior investimento de saneamento do Brasil, botando água na Baixada Fluminense inteira. De 15 em 15 dias inauguro obra.
A impressão é que o sr. sumiu.
– Toda sexta inauguro obra, estou na rua, estou na Baixada. Estou aí, pô.
O sr. tratou um câncer, ficou meses afastado, teve seu mandato pendurado no TSE, seu antecessor e amigo foi para a cadeia. Esses anos não devem ter sido triviais.
– Não, imagina. Já tive ótimos momentos na política, de realizações. E tive esse caos que está o Brasil. Não é o Rio de Janeiro. Você pega 8% de decréscimo do PIB, é uma crise nacional. [Quando acabar o governo] vou descansar e procurar emprego.
Luiz Fernando Pezão, 63, Economista, foi vice-governador do Rio por dois mandatos, na chapa de Sérgio Cabral. Assumiu o governo em abril de 2014, quando Cabral renunciou, e em outubro do mesmo ano foi reeleito. Com informações da Folhapress.