Na primeira noite, um barulho grave acorda os visitantes da casa flutuante, base de pesquisa e moradia dos cientistas do Instituto Mamirauá e da WWF-Brasil na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Rio Jarauá, a mais de 500 km de Manaus, capital do Amazonas.
A época é de cheia e as águas se espalham por toda a Floresta Amazônica. Comunidades ribeirinhas estão alagadas e o vizinho mais próximo é um jacaré chamado Dominique, que insiste em passar o dia nos fundos da casa.
“Relaxa! São apenas os botos respirando. Assusta no meio da noite, não?”, pergunta, ao mesmo tempo em que explica André Coelho, um biólogo do Mato Grosso, a mais de 2000 km dali, que perdeu a conta de quantas viagens fez até a reserva.
No dia seguinte, cientistas se dividem em dois barcos, que avançam lentamente através de uma paisagem infinita de água e mata. Aqueles que vão em um deles observam a superfície cuidadosamente; do outro, dois biólogos pilotam um drone, o novo aliado da pesquisa sobre os botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis).
Um repórter da AFP acompanhou esta expedição, a última do projeto EcoDrones, que monitora as populações de botos da Reserva. Duas espécies vivem na região: o Boto-Cor-De-Rosa e o Tucuxi(Sotalia fluviatilis).
“Precisamos entender o comportamento e seus hábitos para propor políticas públicas que garantam a preservação dos botos amazônicos”, explica Marcelo Oliveira, especialista em conservação do escritório brasileiro da WWF, uma ONG focada na preservação da natureza.
A expedição busca cruzar dados do avistamento dos botos pelo olho humano e os registros dos drones.
“Temos que pensar [nos drones] como uma ferramenta que vai reduzir custos e o tempo até o resultado da pesquisa”, diz a oceanógrafa do Instituto Mamirauá, Miriam Marmontel.
Nesta expedição, uma nova tecnologia foi testada para trabalhar noite adentro com câmeras térmicas, que detectam calor. “A tecnologia dessas câmeras permitirá acompanhar os animais num momento que era impossível”, diz Marcelo Oliveira.
Parte dos dados será analisada por uma equipe da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, em parceria com a WWF-Brasil. Uma das propostas é trabalhar num algoritmo que consiga analisar e identificar os animais automaticamente. “Assim vamos aprimorar a análise desses dados, automatizando sua execução”, explica Marcelo.
“Há várias amazônias dentro do que chamamos de Floresta Amazônica. Será possível com o resultado desse monitoramento compreender como preservar esses animais em cada região. Quais são suas ameaças e como reagir”, explica a oceanógrafa Miriam.