Suspensão de bolsas pode tirar milhares de estudantes do Canadá e afetar atendimento de até 25 mil pacientes

“Eu não sei o que fazer”, lamenta Naseem, uma saudita que tem medo de ter que desistir de seus estudos de medicina em Toronto no próximo mês. Estudantes sauditas e universidades canadenses podem ser as primeiras vítimas da crise diplomática entre Ryad e Ottawa.

A decisão das autoridades sauditas de suspender bolsas de estudo para seus cidadãos que estão no Canadá e enviá-los para outros países, um mês antes da volta às aulas, pegou de surpresa tanto os alunos quanto as universidades. Os primeiros têm medo de ver sua formação ameaçada, as segundas temem ficar com salas de aula vazias e milhões de dólares a menos em seus cofres.

Naseem é mãe de dois filhos e estuda medicina em Toronto. Ela esperou três anos até ser aceita em uma universidade canadense. Apesar da morte de seu pai em 2017, ela se mudou para o Canadá com o marido para realizar seu sonho. A decisão de Ryad de chamar de volta seus alunos a deixou desamparada. “Está tudo acabado”, lamenta a jovem de trinta e poucos anos. “Faltam dois anos para completar meu doutorado e para meu marido se tornar médico. Era o plano perfeito. Agora todos teremos que começar do zero, mas eu não posso. Eu não vou conseguir”, desabafa.

Mulher caminha em frente ao prédio do Parlamento com um arco-íris ao fundo em Ottawa, no Canadá (Foto: Justin Tang/The Canadian Press/AP)

Enorme comunidade estudantil

As universidades canadenses estão esperando mais informações sobre as intenções sauditas, mas elas têm motivos para temer o que está por vir. “Ainda estamos tentando avaliar a situação”, disse Véronique Vallée, porta-voz da Universidade de Ottawa. “Nossa principal preocupação é o bem-estar de nossos alunos”. Esta faculdade, na capital do Canadá, tem 246 estudantes sauditas, a maioria deles futuros médicos, cientistas ou engenheiros.

Segundo dados oficiais, o Canadá conta com quase 8.000 estudantes sauditas, o que representa um dos maiores contingentes estrangeiros junto com a China, a Índia, a Nigéria, os Estados Unidos e a França. Para as universidades, a questão também é financeira. No ano passado, os estudantes estrangeiros contribuíram com mais de C$ 15 bilhões para a economia canadense por meio de mensalidades, moradia e outras despesas.

Questão de saúde pública

Assim como Naseem, outros estudantes de medicina sauditas, que passam por cursos longos e custosos, podem ser particularmente afetados por esta medida. Cerca de 800 deles estão atualmente estudando no Canadá. “Muitos estudantes de medicina e internos estão no meio da sua estadia e qualquer perturbação vai atrasar sua formação”, disse Genevieve Sparrow, da Associação de Faculdades Médicas Canadenses.

De acordo com o Faculdade Real de Médicos e Cirurgiões do Canadá, 25.000 pacientes também poderão ser afetados se os internos sauditas partirem em um mês. “Isso pode ter um impacto na saúde pública do Canadá”, diz Pari Johnston, da Associação de Universidades do Canadá. “Os internos tratam canadenses como parte de seu treinamento. Os sauditas representam um terço das equipes de hospitais universitários.”

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