Imbróglio judicial
Leio que uma colega jornalista recebeu por esses dias notificação judicial para comparecer a uma audiência no Juizado Especial. A ação foi motivada por um texto no qual ela sugere supostas ligações escusas entre pessoas do meio político e empresarial.
Ossos do ofício
Responder a processos faz parte de uma profissão que tende – quando desempenhada com denodo ou com irresponsabilidade – a incomodar gente graúda. Nem sempre os reclamantes têm razão, assim como nós, jornalistas, não somos donos da verdade, e também cometemos erros. Com o agravante de que nossas incorreções podem causar danos morais de difícil reparação.
Responsabilidade acima de tudo
De minha parte, tenho a dizer que já fui acionado duas vezes na justiça. E de ambas saí incólume. Da última vez, tive o imenso prazer de ler a sentença do juiz, na qual, em estilo impecável e texto brilhante, o magistrado defendeu a liberdade de expressão ao mesmo tempo em que exaltou a importância do trabalho da imprensa. Mas jornalistas, óbvio, não são detentores de salvo-conduto para enxovalhar a honra alheia com base em meras especulações.
Tudo muito óbvio
A notícia de que secretários de governo – liderados por Sueli Melo, antiga titular da pasta da Saúde na gestão de Tião Viana – elaboram estratégias para conter a onda de desgaste do senador Jorge Viana (PT), candidato à reeleição, é sintomática. No áudio que vazou do aplicativo WhatsApp, os interlocutores se mostram preocupados com a atuação dos fiscais de trânsito da RBTrans, cujas multas aplicadas a condutores nas ruas estariam a respingar na campanha do parlamentar. E nada se falou do postulante ao Palácio do Governo pelo PT, Marcus Alexandre.
Sinais de fraqueza
Uma vez que a apreensão é com a reeleição de Jorge Viana, que na pesquisa Ibope já amarga o terceiro lugar, atrás de Marcio Bittar (MDB) e Sérgio Petecão (PSD), resta a conclusão de que a cúpula do PT já jogou a toalha quanto a uma possível vitória de Marcus Alexandre no dia 7 de outubro.
Reforço
A reforçar essa hipótese vimos o episódio em que o deputado Ney Amorim, também candidato a senador, faz um desabafo contra o boicote que vem sofrendo por parte dos aliados da Frente Popular.
Um bote para Jorge
Em suma, minha tese é a seguinte: o batelão de Marcus Alexandre faz água e tem tudo pra naufragar. Vendo isso, a turma procura desesperadamente um bote salva-vidas onde possam acomodar o senador petista. Isso porque sua derrota nas urnas diminuiria as chances de o PT armazenar energia para disputar – com Jorge na cabeça, claro – o governo estadual em 2022.
Obrigado, leitor!
A propósito, esta coluna, graças aos leitores – e também aos desafetos do colunista – tem batido consecutivos recordes de audiência. No ranking dos 10 textos mais lidos do portal pelos internautas nos últimos sete dias, estamos em duas colocações. A mais lida figura em 3º lugar da lista, com mais de 7.400 acessos únicos. Reflexo, creio eu, de um trabalho feito com seriedade, muita pesquisa e respeito aos me leem.
Mais agradecimentos
Minha gratidão é extensiva aos internautas que se dão ao trabalho de compartilhar esta Pimenta nas redes sociais, o que aumenta ainda mais o alcance das ideias e informações aqui publicadas. Não posso deixar de mencionar que a publicação anterior, sobre a pensão paga ao senador Jorge Viana como aposentado da Previdência estatal, conta até o momento com mais 1.300 compartilhamentos na rede social Facebook.
Mulher de fibra e profissional brilhante
Aliás, leitores me cobraram o vídeo em que o senador, com cara de poucos amigos, é obrigado a responder à pergunta feita pela destemida jornalista Angélica Paiva – uma das melhores profissionais que atuam na imprensa do Acre –, durante entrevista concedida à TV Gazeta. Assista abaixo ao trecho em que Angélica encurrala o petista com a pergunta que nenhum outro jornalista deste estado teve coragem de fazer até então.
Face to face (cara a cara)
Pois bem, o que mais me chamou a atenção no trecho destacado foi quando a entrevistadora mensurou em cerca de 30.750 reais a pensão do senador, e ele se apressa a dizer que o valor ‘é menor’. Sim, Jorge tem razão. Há quase 12 anos, ele embolsa exatos 30.471,11 – 320 reais a menos do que o montante mencionado por Angélica Paiva.
Falácia
Em seguida, o senador, irritado, diz: “É só você que tá falando”, como se o comentário isolado da jornalista fosse a prova inequívoca de uma inverdade.
A culpa é de quem?
Autor do decreto que elevou para 25% o ICMS sobre combustíveis e gás de cozinha – entre outros bens de consumo que dilapidam o apertado orçamento dos acreanos mais pobres – Jorge Viana teve, há alguns meses, o desplante de discursar no Senado contra o presidente Michel Temer, culpando-o pela carestia da botija de gás na região do Juruá – onde se praticam os preços mais salgados do Brasil.
Natural
Acuado pelas contradições entre o discurso caritativo e as medidas espoliadoras, não me surpreende que o petista agora se sinta atacado por aqueles que enxergam tais discrepâncias.
Adeus, governador
A foto em que o governador Tião Viana jaz parado, sozinho e ignorado pelos presentes na solenidade que marcou a posse de Luís Camolez como desembargador do Tribunal de Justiça do Acre é o retrato mais pungente da sua decadência política. Mas desprezo mesmo ele haverá de sentir após o dia 31 de dezembro. E já terá ido tarde.
