“Era o começo de uma nova vida”, afirma mãe que cursa psicologia após suicídio do filho

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma média de 800 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano. Especificamente no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 11 mil pessoas cometem suicídio anualmente. Para auxiliar as pessoas que enfrentam as idealizações suicidas, o Centro de Valorização da Vida (CVV) criou há três anos a campanha Setembro Amarelo, que traz uma bandeira de conscientização e prevenção ao suicídio.

Suicídio é a quarta causa mais comum de morte entre os jovens/Foto: Reprodução

Mesmo com a campanha e disseminação do assunto, no Brasil, o suicídio ainda é a quarta causa mais comum de morte entre os jovens. Segundo a psicóloga Patricia Coube, é preciso que a sociedade compreenda que as causas ou motivações para atos como este são muito complexas, e que tanto os profissionais de saúde quanto a própria população devem se dedicar a entender melhor o próximo e ter mais empatia.

“Ainda não se tem uma resposta única e muito menos absoluta. O que podemos afirmar é que, independentemente das ‘causas’, o suicídio resulta sempre da consolidação de emoções negativas e de estresse, sobretudo da inabilidade para lidar com determinados graus de frustração”, disse Coube.

Ela acredita que, em grande parte dos casos de suicídio, principalmente entre a população mais jovem, existe ligação direta com a dificuldade de lidar com essas frustrações, como não saber lidar com perdas ou decepções: “Muitas vezes, esse tipo de comportamento surge de uma educação extremamente ‘permissiva'”.

Coube afirma ainda que a pessoa que sofre de depressão não apresenta um perfil específico, ou seja, pode acontecer com qualquer pessoa, de qualquer idade. As situações que as levam a cometer o ato de tirar a própria vida podem ser diversas: divórcio, luto recente, solidão, desemprego, problemas escolares, relações conflituosas com a família, entre outros.

Sobrevivendo após a perda

E foi assim, por conta de diversas dificuldades que Lucas Contreiras, na época com 23 anos de idade, tirou a própria vida. Ele vinha lutando contra a depressão há algum tempo, mas não conseguiu continuar vivendo com a tristeza que o consumia. Esse foi o relato que a equipe do ContilNet ouviu da mãe do jovem, Ofelia Contreiras que esteve ao lado do filho durante todo o processo da doença, até o dia que o encontrou morto na casa onde eles moravam.

Segundo Ofelia, no momento em que encontrou o filho ela não pensou em nada além de tentar salvá-lo. “Não me desesperei, não gritei, não chorei, pois tinha a esperança que ele ainda estivesse com vida”, afirmou a mãe. Entretanto, já era tarde demais para Lucas, e não foi possível salvá-lo. Para a mãe, a partir daquele momento, decidiu que iria se dedicar a ajudar outras pessoas que enfrentam a depressão, para que estas tenham um desfecho diferente do que aconteceu com seu filho.

Ofelia decidiu que precisava ser forte e tentar recomeçar/ Foto: Contilnet

Ofelia decidiu cursar Psicologia para entender melhor o que se passava com seu filho, e até para ajudá-la a conviver com o luto após a perda de um ente tão querido: “Era o começo de uma nova história, talvez um novo recomeço. Foi uma nova oportunidade que agarrei com todas as minhas forças”.

Busque ajuda

Às vezes é difícil admitir que está doente, que aquela tristeza é somente algo passageiro – e por isso é importante a busca por um profissional que ajude nesse processo.

A psicóloga Patricia Coube afirma que alguns sintomas podem ser indícios de um possível quadro de depressão. Entre eles, estão a perda de energia, cansaço constante, irritabilidade, muito sono, dores no corpo, baixa imunidade, isolamento social, tristeza profunda, entre outros.

Ainda de acordo com a profissional, geralmente os sinais de depressão persistem por um período superior a duas semanas, mas alerta que é necessário buscar um profissional para ter certeza do seu quadro: ”O autodiagnóstico e automedicação podem, em muitos casos, agravar ainda mais os problemas”, explicou.

Atendimento gratuito

Há nove anos, na Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO), é prestado o serviço de psicologia clínica, gratuito, e que recebe toda a comunidade.

Segundo Patrícia Coube, que também atua como coordenadora do Serviço de Psicologia da FAAO, são realizados, além dos atendimentos, várias parcerias com diversos órgãos públicos e atendimentos privados, palestras e oficinas.

Ela afirma que a demanda é crescente e como profissional atuante na área, entende que é preciso agir. “Estamos com uma fila de espera para o atendimento de mais de mil pessoas, esse dado é preocupante e precisamos ter mais eficácia quando se trata de saúde mental”, explicou Coube.

Apesar da grande demanda, ela orienta que as pessoas busquem esse tipo de ajuda para evitar que o suicídio se torne a única saída.

O Serviço de Psicologia FAAO fica localizado nas dependências da Faculdade da Amazônia Ocidental e funciona de segunda à sexta nos períodos de 8 às 12 horas e das 14 às 18 horas.

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