‘Furacão Ibope’ arrasa feudo do PT, mobiliza imprensa amestrada e faz secretárias de Tião descerem do salto

Ventania

Não há mais o que esconder: a última pesquisa de intenção de voto do Ibope consumou a animosidade entre os companheiros. A ventania que precede a tempestade pode ser vista através de um vídeo gravado pelo candidato ao Senado Ney Amorim (PT), no qual ele denuncia as ‘ordens superiores’ dadas aos militantes da Frente Popular, no sentido de que não peçam votos para ele; Ney deixa subtendido que a decisão carrega as digitais dos irmãos Jorge e Tião Viana.

Mais querela política

Já o deputado federal Raimundo Angelim (PT) faz mira contra o colega de bancada e correligionário Leo de Brito. Alardeia sofrer boicote do próprio partido, que joga todas as fichas na reeleição de Leo. Chegou a ouvir de um comissionado da Secretaria de Educação que gostaria de engrossar o grupo de cabos-eleitorais do ex-prefeito de Rio Branco, mas a ordem por lá é que todos trabalhem pela reeleição de Brito.

socorristas nas redações

Enquanto os tubarões petistas distribuem dentadas, e com isso se encarregam de abrir ainda mais as feridas sangrentas, a imprensa amestrada tenta influenciar seus poucos leitores com manchetes questionáveis.

Miopia

Um dos jornalistas que defende o governo petista com unhas e dentes publicou um texto com o título: “Calma! Pesquisa exalta Gladson, mas ruas enxergam Marcus Alexandre!”.

Haja cinismo

Filiado ao PCdoB, ele diz, do alto de sua presumida sapiência: “Assimilado o impacto dos números da pesquisa do Ibope (que agora a oposição, claro, vai dizer que é certa, porque Gladson está à frente) o passo seguinte é entender que pesquisa é pesquisa e, por si só, não define uma eleição para o governo”.

Impreciso

O trecho sugere que a sondagem não merece crédito – e, é claro, porque o petista Marcus Alexandre amarga o segundo lugar –, mas sob o argumento de que a tendência do eleitorado está sempre sujeita mudanças – o que pode ser uma possibilidade. Ademais, a limitação, imposta pelo termo ‘pesquisa’, no singular, só concorre para o descrédito da publicação. Afinal, como foram quatro as sondagens eleitorais divulgadas nos últimos dias, todas elas a darem vantagem ao senador do Progressistas, a opinião do articulista já começa toldada pela imprecisão do enunciado.

Raciocínio chinfrim

Há outras ‘teses’ duvidosas no artigo mencionado. E uma delas diz respeito ao que, supostamente, seria determinante para o resultado de uma eleição majoritária. Do alto de sua erudição, o escriba afirma que o desfecho de uma eleição decorre “do corpo a corpo, da conversa com as pessoas” – e isso, sim, faz a diferença no resultado aferido nas urnas, segundo asseverou.

Como é que é?

Como a proposição foi exposta em termos genéricos, cabe ressaltar que em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais é impossível a um candidato majoritário vencer o pleito a partir de uma campanha corpo a corpo. Em se tratando do Acre, onde esse expediente ainda é viável, não obstante os seus mais de 800 mil habitantes, a questão é outra – e bem mais grave que supõe a vã filosofia do escriba vermelho.

Massa encefálica

As pesquisas mostram não só o candidato ao governo petista em desvantagem em relação ao seu oponente mais competitivo, como também a liderar as sondagens eleitorais somente quando o quesito avaliado é a ‘rejeição’. Somados, esses dois aspectos expõem o declínio das forças petistas após 20 anos no comando do estado. E sugerem que não haveria corpo a corpo capaz de revertê-los. Além do mais, convenhamos, o cálculo feito aí acima é tão simplório que até mesmo um comunista seria capaz de o conceber.

Acredite se quiser

Enquanto os escribas chapa-branca tentam apaziguar os ânimos da militância da Frente Popular, que em alguns municípios já enrolou as bandeiras vermelhas por pressentir o pior, um site do Juruá veio a público com um texto em que desmente a briga entre Ney Amorim e Jorge Viana. O redator assegura, de pés juntos, que o vídeo que circula nas redes sociais com o desabafo feito pelo próprio Ney não passa de uma montagem. Como disse certa vez o humorista Millôr Fernandes, “o pior cego é aquele que não quer ouvir”.

Questão de ordem

Sobre os resultados do Ibope, que colocam Gladson com ampla vantagem sobre o adversário do PT, e Jorge Viana em terceiro na disputa para o Senado, atrás de Sérgio Petecão (PSD) e Marcio (MDB), não vi uma linha sequer nos sites oficiais. É que dias atrás, um site do Juruá, na intenção de fustigar um instituto local, correu a exaltar o Ibope, instituto em que ele diz acreditar como ‘idôneo’. Ora, quem cala consente. E como o editor evitou o tema, deve-se considerar que endossa a pesquisa do instituto.

Camisa vermelha

Nem mesmo a elegante secretária de Estado Sawana Carvalho (Gestão Administrativa) se conteve diante dos resultados do Ibope. E ela foi às redes sociais louvaminhar os governos petistas, enquanto detratava os representantes da oposição. Deu rebuliço, é claro. E às muitas respostas irônicas dadas pelos internautas à postagem, Sawana tratou de responder a todas elas. Vai ver não há muito que fazer na administração pública estadual.

Rasteira

Já a secretária Andréa Zílio (Comunicação Social) despiu o figurino chique do cotidiano, trocando os saltos altos pelas rasteirinhas. E, tão rasteirinha quanto as sandálias que calçou, foi ao Facebook publicar o seguinte: “Dizem que o único domicílio que Marcio Bittar tem no Acre é o eleitoral. Será?”.

Regra do comedimento

Cabe ressaltar que secretários de estado não são meros militantes. Ainda que temporários, estão servidores do povo. O cargo que lhes foi franqueado no primeiro escalão do governo deveria vir acompanhado de um manual de instruções. E a primeira das regras é que suas opiniões públicas devem se subordinar ao bom senso e ao comedimento.

Questão de ordem

Se a senhora Andréa Zílio se acha dispensada de demonstrar apreço aos opositores – em especial Marcio Bittar, que como já dissemos está à frente do outrora imbatível Jorge Viana – que manifeste, ao menos, respeito pelo contribuinte que lhe paga salário mensal superior a 22 mil reais.

Cadinho de história

O ex-presidente José Sarney, outrora execrado pelo PT para mais tarde ser redimido por São Lula, certa feita se referiu à necessidade de observância do que chamou de ‘liturgia do cargo’. Ocorreu o seguinte: em 1985, recém-empossado no cargo de presidente, ele foi flagrado por jornalistas enquanto dirigia o próprio carro, tendo ao lado a primeira-dama Marli Sarney. Indagado pelos repórteres sobre aquele fato inusitado, o peemedebista respondeu, constrangido, esperar que não estivesse a violar a ‘liturgia do cargo’.

Ecos literários

O escritor Umberto Eco, avesso às transformações sociais impostas pelas novas tecnologias quanto à disseminação de informações, disse em 2015 que os imbecis, outrora, eram calados imediatamente, e agora têm, com a internet, o mesmo direito à palavra de um ganhador do Prêmio Nobel.

Conclusão inevitável

Longe de mim querer suprimir o direito de quem quer que seja de dizer o que pensa – ainda que só o diga por meios tão tortuosos quanto consegue raciocinar. O que deploro atualmente não é a democratização dos meios pelos quais todos podemos opinar – mas a presunção com que alguns alardeiam suas mediocridades como se fossem  detentores do Nobel.

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