Pelo menos três regiões da França investigam os motivos que teriam provocado um elevado número de casos de malformações inexplicadas em bebês.
Um relatório divulgado nesta quinta-feira (4) pela Agência de Saúde Pública do país confirma que o Morbihan, departamento localizado na região da Bretanha, e o Loire-Atlantique, no oeste do país, apresentaram “um excesso de casos” de crianças nascidas sem mãos ou braços, porém não avançou nas explicações para o problema.
Uma investigação epidemiológica foi realizada após o relato de vários nascimentos de crianças com deformidades em diferentes regiões da França, entre 2007 e 2014.
“Chorei e meu marido desmaiou”, conta Mélanie Vitry, mãe que deu à luz, em 2010, a um menino nascido sem a mão direita. O caso exibido no canal de TV França 2 está longe de ser uma exceção na região onde a família mora.
Nas proximidades da mesma cidade, Druillat, no departamento de Ain, sete bebês nasceram sem braços ou mãos, entre 2009 e 2014.
A análise dos casos notificados na região da Auvergne-Rhône-Alpes para crianças nascidas nesse período “não mostrou um excesso de casos”. Tampouco foi identificada “uma exposição comum à ocorrência dessas malformações”, o que impediu orientar novas investigações.
Porém, as investigações sobre três casos em Loire-Atlantique, ocorridos entre 2007 e 2008, e quatro casos na Bretanha, entre 2011 e 2013, configuram “um número excessivo de casos” em relação à média nacional.
Contudo, segundo o relatório da Agência de Saúde Pública, “nenhuma exposição comum foi identificada” que pudesse justificar essas ocorrências. Mesmo assim, “a Agência está atenta ao surgimento de novos casos nestas regiões e no resto da França.”
Investigações “complexas”
O monitoramento sobre defeitos de nascimentos é algo complicado, particularmente devido à raridade dos acontecimentos.
Para realizar este relatório, o Serviço de Saúde Pública francês aplica um protocolo complexo. Uma primeira verificação é feita para saber se os casos são idênticos e se eles compartilham a mesma definição clínica.
Em seguida, a pesquisa compara a frequência de casos notificados em uma determinada área com a média nacional. Finalmente, um trabalho de campo é realizado com as mães para perguntar sobre a gestação, o que se chama de “busca de uma possível exposição conjunta”.
Existe algo em comum entre essas grávidas?
Em cada departamento envolvido, as mães receberam questionários sobre seu estilo de vida durante a gravidez. Nos três departamentos, nenhum fator determinante, como uso de medicamentos, drogas ou relatos de malformações nas famílias, pôde ser identificado que pudesse explicar esses casos. Além disso, todas as gestações não tinham anormalidades.
Então o que poderia explicar o problema?
Na ausência de uma história e de fatores claramente estabelecidos, surge a questão do ambiente. Para o epidemiologista Emmanuelle Amar, existe uma chance considerável dessas malformações serem causadas pela exposição de mães a produtos fitossanitários, como por exemplo pesticidas, durante a gravidez.
“Estamos diante de um possível escândalo de saúde pública”, disse a especialista ao canal FranceInfo.
Até o momento, não há provas suficientes para atestar a relação entre deformidades e esse tipo de produtos, segundo a Agência de Saúde Pública francesa.