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Mãe entra em coma no parto e acorda 23 dias depois ao sentir bebê no peito

Por VEJA

Ao dar à luz em Fortaleza (CE), Amanda Cristina Alves da Silva, de 28 anos, entrou em coma, sem emitir respostas a nenhum tipo de estímulo sensorial ou auditivo. Tudo mudou 23 dias depois, quando a equipe do hospital decidiu colocar mãe e filho em contato físico. Ao sentir o toque da pele do bebê no peito, ela chorou. Em seguida, ela passou a reagir e, em menos de um mês, recebeu alta e pôde ir para casa com o filho, Victor Hugo.

Amanda sofre de epilepsia crônica desde os 7 anos de idade. Diagnosticada ainda na infância, toma dois remédios controlados para manter a doença estável. Mas, quando descobriu a terceira gravidez não planejada, foi orientada pelo médico a interromper o uso de uma das medicações por causa do risco de má formação fetal. Amanda conta que passou a usar só um remédio e, por isso, teve muitas crises convulsivas durante a gravidez. “As mais fracas duravam cerca de cinco segundos e as mais fortes chegavam a durar uma hora”, conta ela, que diz sentir uma forte tontura e o corpo enrijecer antes de acontecer cada crise.

Mãe acorda do coma 23 dias após o parto depois de sentir o bebê no peito/Foto: Reprodução

No dia do parto, Amanda diz se lembrar que teve uma discussão com o marido — o que a deixou muito ansiosa e agitada. Ela acredita que esse tenha sido o fator que desencadeou uma crise epilética tão forte, que ela não foi capaz de acordar e retomar os sentidos como sempre acontecia.

Amanda não se lembra de mais nada desse e dos próximos 23 dias que estavam por vir. Ela foi socorrida desacordada em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), mas, diante da gravidade do seu caso, foi encaminhada à Maternidade-Escola Assis Chateubriand, hospital universitário vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC) e especializado em casos de alto risco.

Ao dar entrada na unidade, a equipe médica primeiro estabilizou a convulsão. Como a jovem já estava com 36 para 37 semanas de gravidez, os médicos decidiram fazer uma cesárea de emergência para evitar mais riscos para o bebê. Amanda recebeu anestesia geral e deu à luz Victor Hugo, que nasceu pesando 2,1 kg e foi imediatamente transferido para a UTI neonatal. A mãe nem viu o bebê.

“A paciente estava totalmente desorientada e não poderia receber outro tipo de anestesia por causa do risco de mais crises convulsivas. Por causa do excesso de medicações que ela recebeu e tomou na gravidez, o bebê nasceu imunodeprimido e com as condições respiratórias ruins, por isso foi pra UTI”, explicou o médico obstetra Carlos Augusto Alencar Junior, gerente de atenção à saúde do hospital.

Amanda Cristina Alves da Silva com a equipe do hospital/Foto: Reprodução

Victor Hugo permaneceu sob cuidados intensivos por seis dias e depois foi transferido a uma unidade semi-intensiva. Enquanto isso, Amanda permanecia na UTI de adultos sem qualquer sinal de resposta. Os médicos tentavam diminuir a sedação, mas logo precisavam voltar com os medicamentos. “Amanda abria os olhos, mas não respondia aos comandos. A gente a chamava pelo nome e ela não acompanhava com o olhar. A gente aplicava estímulos de dor e ela não reagia. Os exames mostravam atividade cerebral, mas ela não respondia a nada, nem mesmo à voz dos familiares. Não mexia braços, pernas, nada”, explicou Alencar Junior.

A ideia de mostrar o bebê

Diante da ausência de respostas, Amanda seria mandada para assistência domiciliar, com todo suporte necessário. Mas, antes que isso acontecesse, Fabíola Sá, enfermeira da UTI, sugeriu à equipe que tentassem um último recurso: colocar o bebê em contato com a mãe. Num primeiro momento, a ideia causou estranheza, afinal, não é comum um recém-nascido ir até o ambiente de uma UTI de adultos. Mas a equipe multidisciplinar resolveu levar a ideia adiante e perguntar aos responsáveis dos riscos.

“Perguntamos para um infectologista se havia risco para o bebê, e ele disse que não, pois a mãe não estava com nenhuma infecção naquele momento. Também falamos com um neurologista, pois não havia nada que justificasse aquele quadro dela. Por fim, sabendo que não haveria riscos nem para ela nem para o bebê, decidimos levar Victor Hugo para ela”, conta Fabíola.

Amanda continuava imóvel no leito da UTI até que uma enfermeira colocou o bebê em seu peito. Fabíola pegou os braços de Amanda e abraçou o bebê, como se o estivesse acolhendo. A reação de Amanda surpreendeu toda a equipe: os batimentos cardíacos aceleraram e a jovem mãe chorou, como se tentasse agradecer o que estava acontecendo. Mais impressionante, segundo Fabíola, foi ver leite brotar espontaneamente do bico do seio de Amanda sem ele ser estimulado, sendo que o parto havia acontecido 23 dias antes.

“A equipe inteira chorou junto. A resposta dela foi imediata. Assim que sentiu o toque, a pele do bebê, ela começou a chorar. Não deixamos o bebê mamar por conta dos medicamentos que Amanda estava recebendo, mas ele ficou mexendo a boquinha e lambendo o lábio”, lembra Fabíola.

No dia seguinte ao estímulo a equipe já observou melhoras em Amanda. A jovem mãe passou a responder aos poucos às ações e progressivamente voltou a mexer os membros, passou a sentar na cama. Vinte dias depois recebeu alta hospitalar junto com Victor Hugo sem nenhuma sequela.

O caso chamou tanta atenção que vai virar caso de um estudo qualitativo dentro da Maternidade-Escola. “Não temos uma resposta científica para o que ocorreu e não esperávamos uma recuperação tão rápida da Amanda. Vamos estudar a importância desse atendimento humanizado e a importância do contato pele a pele entre mãe e filho”, afirmou Fabíola.

Apesar de não se lembrar de absolutamente nada até o momento em que sentiu Victor Hugo no seu peito, Amanda agradece a Deus pelo que ela acredita ser um milagre. “Vendo o meu caso, meu pai e meu marido achavam que eu não iria sobreviver. Quando senti o cheiro do meu filho senti uma emoção que não tenho palavras para explicar. Queria falar, mas não conseguia”, diz.

De volta à rotina caseira, Amanda cuida dos três filhos Victória Cristina, de 4 anos, Christopher Braian, de 2 anos, e Victor Hugo, hoje com sete meses, enquanto o marido trabalha vendendo frutas. Por conta das frequentes crises de epilepsia, Amanda não pode trabalhar — ela compõe a renda familiar com o dinheiro do Bolsa Família que os três filhos recebem. “Sou a prova de um milagre.”

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