Vaginismo: quando seu corpo diz ‘não’ para o sexo

“Você não consegue controlar o que seu corpo está fazendo.” A lembrança que Isley Lynn tem de sua primeira experiência sexual, quando adolescente, não é boa.

“Eu me senti muito mal. Sentia que havia algum problema comigo. Que era minha culpa.”

Muitos de nós podem se recordar de timidez ou de falta de jeito na primeira relação sexual. Mas a reação de Isley é resultado de uma condição física sobre a qual pouco se fala.

Agora com 30 anos, ela tem vaginismo e escreveu uma peça de teatro chamada Despelando um Gato sobre suas experiências.

Isley Lynn foi diagnosticada com vaginismo no final da adolescência. Ela tinha dificuldade para usar absorvente íntimo e para ter prazer durante o sexo. — Foto: The other Richard/ BBC

Isley Lynn foi diagnosticada com vaginismo no final da adolescência. Ela tinha dificuldade para usar absorvente íntimo e para ter prazer durante o sexo/Foto: The other Richard/ BBC

O NHS, o serviço de saúde pública do Reino Unido, define o vaginismo como uma reação automática do corpo de medo diante da possibilidade de uma penetração vaginal.

Os músculos da vagina se contraem e a mulher não tem controle sobre isso. Algumas pessoas encontram dificuldade para inserir um absorvente íntimo, fazer sexo ou sentem uma dor de ferroada ou queimação.

“Eu tentei usar o meu absorvente quando tinha 10 anos de idade. Foi horrível. Eu senti como se não houvesse um buraco, como se tivesse uma parede no lugar onde deveria ter um orifício”, conta Isley.

“Eu percebi que algo estava realmente errado depois do meu primeiro namorado.”

O vaginismo trouxe uma carga emocional para os relacionamentos de Isley. “Eu me lembro de sentir medo que os meus parceiros pensassem que eu não gostasse deles ou que eu não me sentia atraída por eles”, diz.

A roteirista de teatro foi diagnosticada com vaginismo no final da adolescência e tratada com dilatadores vaginais que, progressivamente, aumentam de tamanho, para relaxar os músculos. Ela também fez fisioterapia.

Isley diz que depois de um tempo percebeu que os tratamentos não estavam funcionando e que se “curar” não era a solução para a sua felicidade a longo prazo.

“Foi uma terapeuta que me perguntou o quanto eu realmente queria ser ‘normalizada’. É esse diálogo que você vê na cena final da minha peça de teatro. Pedem que a personagem defina o que ela quer da sua vida sexual”, diz a roteirista.

“Ela percebe que não precisa ter uma vida sexual como a de todo mundo para curtir. Percebe que você deve escrever o seu próprio roteiro na vida e fazer o que te faz feliz.”

É difícil estimar quantas mulheres no Reino Unido têm vaginismo, embora uma pesquisa recente aponte que quase uma em cada 10 britânicas consideram sexo doloroso.

Isso pode ser causado por diferentes razões, inclusive o vaginismo.

“Vaginismo é diferente de apenas dor durante o sexo, porque é uma reação automática do corpo que provoca isso”, explica a médica Vanessa Mackay, obstetra e ginecologista no Queen Elizabeth University Hospital, em Glasgow, na Escócia.

“É difícil calcular quantas mulheres têm essa condição, porque a maioria das que estão sofrendo algum problema sexual não fala sobre o assunto”, acrescenta Mackay.

Além de abordar o lado físico da questão, os tratamentos devem focar no lado psicológico – tratar o medo da penetração.

Aconselhamento com sexólogos é frequentemente usado, diz Mackay. “É uma espécie de terapia de conversa, para ajudar a pessoa a compreender e mudar os sentimentos em relação ao próprio corpo.”

“Técnicas de relaxamento ajudam a soltar os músculos vaginais. Exercícios pélvicos no chão também podem ser usados para tratar o vaginismo.”

A médica menciona ainda o uso dos dilatadores vaginais como parte do tratamento. “Eles têm o formato de absorventes íntimos e têm diferentes larguras e tamanhos, para fazer com que você se acostume a ter algo dentro da vagina.”

Teresa, de 23 anos, também tem vaginismo e diz que, após ser diagnosticada, foi apresentada a uma variedade de tratamentos diferentes.

“Um terapeuta sugeriu que eu tentasse hipnose. Mas não funcionou para mim. Eu sou um pouco cética, então a todo momento eu pensava: ‘Isso não está funcionando para mim'”, diz Teresa.

Ela acrescenta: “A única coisa que funcionou foram os dilatadores vaginais, que você usa para ensinar a si mesma a relaxar.”

A jovem conta que sua qualidade de vida melhorou após o tratamento. “A vida agora está muito boa. Eu não me preocupo mais com isso diariamente. No começo, foi difícil, mas quando você encontra a sua solução para lidar com o problema, as coisas ficam mais fáceis.”

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