Quando falamos em educação, o que vem na mente da maiorias pessoas é uma ideia genérica e quase vaga de algo que é importante, mas que não discute soluções rápidas ou possíveis em um curto prazo de tempo. É evidente que falar de educação deve pressupor o estabelecimento, por parte dos governos, de projetos estruturados de desenvolvimento social, que no mais positivo olhar, conseguirão dar conta de mudar o cenário somente em alguns bons 10 ou 20 anos… Mas será que é necessário esperar tanto tempo assim para colher tais frutos?
Nesse contexto, é importante reconhecer que, independente das ideologias partidárias que se revezam no poder, a educação brasileira conseguiu enormes avanços, no que tange principalmente ao acesso das crianças à escola. Atualmente temos que mais de 98% dos brasileiros entre 6 e 14 anos estão matriculados (segundo dados do Censo Escolar de 2015). Mas com o avanço das interações sociais, outros desafios vão surgindo e novas barreiras educacionais vão precisando ser enfrentadas. Quando? Agora. Isso, agora mesmo: Hoje!
Os desafios da educação no Acre/Foto: reprodução- ilustrativa
Fato é que acabamos de sair de um período conturbado de campanhas políticas, que nem de longe priorizaram o debate sobre educação e todos nós sabemos porquê: Porque educação não dá voto e não gera laços imediatos de simpatia e populismo. E porque tentar ajeitar a educação dá muito trabalho. Contudo, para além dos governantes e das eventuais propostas políticas, é fundamental que nós entremos no jogo da discussão, já que todo esse papo reflete diretamente nas nossas vidas. Dessa forma, já seria muito efetivo um debate que nos ensinasse a reclamar da educação de péssima qualidade que temos, quando não conseguimos ascender profissionalmente ou mesmo quando percebemos a pobreza e a marginalização ao nosso redor.
Sob esse viés, na análise do contexto acreano, temos que ter em mente o nosso dever de fiscalizar e cobrar ações efetivas por parte do governo eleito – fato plenamente possível em um sistema democrático que admite controle social e comunitário. Assim, trabalhando como uma formiguinha, será possível exercer cidadania e transformar a educação aos poucos, mas coletivamente todo dia: Cobrando do deputado o projeto de Lei que aumente o piso salarial do professor, fiscalizando as diretrizes curriculares que estão sendo aprovadas sem que percebamos e exigindo do governador que dê total atenção a uma educação voltada para o respeito às diferenças.
Por isso temos que parar imediatamente de achar que a educação só vai ser resolvida daqui há 20 anos. Os buracos mapeados são enormes e se vinculam a um cenário que envolve infraestrutura, transporte público e até saneamento básico, visto que o Henrique, aluno de 12 anos da escola pública da zona rural de Xapuri, não consegue entender bem o que é uma fração matemática quando está estudando na mesa da cozinha, por causa do cheiro ruim da fossa séptica que seu pai construiu no fundo do quintal. E olha que ainda tem gente achando que o principal problema da educação é uma suposta doutrinação ideológica – pois se houver esta doutrinação, que ela nos guie no caminho do desenvolvimento, da cidadania e do conhecimento.
Cada um deve reconhecer em si mesmo a bravura de uma gente que pode ser ativa politicamente e que tem total capacidade de transformar seu presente e assim, também seu futuro. Esse é o único caminho para que o “gigante desperte” sem ser somente para se distrair com o celular e a televisão.
*Paulo Victor Poncio de Oliveira é técnico em educação da Universidade Federal do Acre, ativista do Movimento Mapa Educação e mestre em Educação
