A defesa de Evellyn Brisola Perusso, de 19 anos, reagiu com “espanto” à notícia de que sua cliente foi denunciada pelo Ministério Público do Paraná no caso do jogador Daniel Corrêa, morto em outubro. Amiga de Allana Brittes, Evellyn “ficou” com Daniel antes do crime e, segundo a promotoria, ajudou os suspeitos a limpar o sangue do jogador, o que configuraria crime de fraude processual.
O MP formalizou denúncia contra outras seis pessoas, incluindo Edison Brittes, o Juninho, que confessou ter matado Daniel.
Mãe de uma criança pequena, Evellyn foi denunciada também por: falso testemunho, porque teria mentido em seu depoimento à polícia; denunciação caluniosa, porque a mentira teria gerado abertura de processo contra outra pessoa; e corrupção de menores, porque teria induzido uma das convidadas da festa, menor de idade, a praticar um delito.
A reportagem teve acesso à denúncia do Ministério Público contra as sete pessoas. Sobre Evellyn, a promotoria afirma que ela praticou fraude processual ao estar ciente de que estava cometendo crime limpando os vestígios de sangue de Daniel na casa da família Brittes.
Diz o MP: “após a consumação do homicídio da vítima Daniel Correa Freitas e ocultação do cadáver, inovaram, artificiosamente o estado do local em que se iniciaram os atos que levaram à morte da vítima, ao retirarem os vestígios visíveis de sangue dos cômodos e da calçada externa da casa, com a inequívoca intenção de induzirem em erro os investigadores e peritos que atuariam no procedimento investigatório criminal”.
De acordo com Luis Roberto Zagonel, advogado de defesa, Evellyn é inocente de todas as imputações. “Nos causou espanto ela ter sido denunciada porque o próprio delegado entendeu que a Evellyn é testemunha dos fatos”, disse o criminalista, se referindo ao inquérito policial no qual Evellyn não foi indiciada por qualquer crime. “Ela foi coagida a estar na residência e coagida a limpar o sangue. Tanto ela foi coagida que as pessoas foram indiciadas por coação a testemunhas, incluindo ela.”
Segundo informações do inquérito policial, que se baseou no relato dos convidados da festa de Allana Brittes, Evellyn estaria no grupo que limpou o sangue de Daniel da casa em que ele foi espancado. Em seu depoimento, ela implicou outro convidado no crime que vitimou Daniel: o jovem Eduardo Purkote, que, segundo ela, participou da surra e foi buscar a faca com a qual Edison Brittes teria assassinado o atleta.
Embora Evellyn não tenha aparecido no rol dos suspeitos ao fim do inquérito, o promotor João Nilton Salles se convenceu de que ela mentiu ao implicar Purkote no crime.
O MP cita o depoimento sobre Purkote para denunciar Evellyn por denúncia caluniosa: “A denunciada dolosamente fez afirmação falsa como testemunha dos autos de inquérito policial, quando, perante, a autoridade policial, em depoimento, imputou a Eduardo Purkote Chiuratto coautoria no crime de homicídio da vítima Daniel, sabedora da sua inocência, o que deu causa a instauração de investigação policial em face de Eduardo, que culminou na decretação de sua prisão temporária, tudo isso com objetivo de produzir efeito em processo penal”.
Entre outros, o depoimento de Evellyn foi usado para que a polícia pedisse dois dias depois a prisão de Purkote. Ele chegou a ficar 12 dias preso, mas foi liberado na última segunda-feira (26).
O advogado Zagonel se disse confiante em conseguir a absolvição de Evellyn. “Provaremos a inocência sobre as imputações”, afirmou, completando que sua cliente não está “tranquila”. “Há no inquérito policial um Boletim de Ocorrência feito pela mãe da Evellyn porque ela estava sendo ameaçada nas redes sociais por toda essa situação. Ela presenciou uma cena aterrorizante, ela falou o que sabe polícia, mesmo temendo as consequências. É espantosa essa denúncia.”
O que Evellyn disse em seu depoimento
Em um depoimento prestado no dia 12 de novembro, Evellyn disse que já conhecia Allana e seus pais há cerca de um ano e dois meses, mas era a primeira vez que saía com eles. Segundo ela, Allana lhe apresentou Daniel naquela noite e os dois trocaram beijos ainda no camarote em que a família comemorou o aniversário da garota.
Evellyn disse que Daniel não foi convidado ao “after party”, mas se infiltrou em um dos Ubers que levaram os amigos para a casa dos Brittes. Na casa, Evellyn e Daniel fumaram narguilé, mas não voltaram a “ficar” porque Evellyn “já não queria mais”, inclusive “sendo grossa com ele”.
A suspeita diz que estava dormindo quando o jogador começou a ser agredido. Afirma o relato do interrogatório: “Na área externa Daniel foi agredido por um dos irmãos Purkote, sendo contido pela declarante [Evellyn] e pelo outro irmão. Informa que esse Purkote que agrediu Daniel na área externa com um chute era o de cabelo meio arrepiado, não sabendo precisar pois eles são gêmeos.”
Em outro trecho, a amiga de Allana afirma que Purkote também pegou uma faca e a entregou a Edison Brittes:
“Um dos Purkote foi à cozinha e saiu com uma faca na mão, e Allana perguntou o que ele ia fazer com aquela faca, sendo que ele saiu rápido com a faca e não falou nada.” A faca nunca foi encontrada. Evellyn disse também que um dos irmãos Purkote quebrou o celular de Daniel. “Um dos irmãos Purkote jogou o aparelho celular no chão, o quebrando, sendo que este aparelho ficou destruído”, informa o texto de seu interrogatório.