O ex-traficante Francisco Ferreira da Conceição, 44 anos, o Ferreirinha, está há menos de um ano convertido ao cristianismo, mas já conseguiu tirar mais de 80 pessoas do crime. Ele era uma lenda do submundo, a julgar pela carreira de “sucesso’ que obteve em cerca de 28 anos. Começou como “aviãozinho” no bairro João Eduardo, para onde a família migrou depois de morar em Boca do Acre, no Amazonas. Ainda adolescente, ele se tornou respeitado entre criminosos pela ousadia misturada com coragem e muita sorte, o que ele hoje chama de providência divina. De “boqueiro” pobre ele se transformou no barão do tráfico numa das regiões mais populosas de Rio Branco, a Baixada da Sobral.
Ferreirinha, como era mais conhecido no submundo, nasceu em Sena Madureira, numa família de agricultores. Quando ele ainda era muito novo seus pais decidiram fazer uma aventura em Boca do Acre. Não deu certo e eles migraram para Rio Branco, exatamente para o bairro João Eduardo, na década de 1980. Aquela comunidade foi eleita à época a “capital” do tráfico. De uma família de oito irmãos, ele foi o melhor sucedido financeiramente, graças as facilidades do crime. Na mesma proporção, no entanto, adquiriu inimigos e precisou usar de violência para estender seu domínio. Em uma década e meia já era o “dono” de metade do primeiro distrito da capital.
Alternando temporadas na cadeia e em casa, Ferreirinha precisou viver uma situação em que sentiu medo de morrer, o que nunca ocorrera antes. Numa dessas saídas da penitenciária um inimigo seu o emboscou e só não chegou o fim graças ao catolé da arma do adversário. “A arma dele bateu catolé diversas vezes”, conta. Pior: Ferreirinha estava com o filho caçula nos braços. Foi ai que veio a lembrança de Jesus Cristo. O homem se converteu e sem demora passou a fazer missões, pregando o evangelho por toda a parte de Rio Branco. Em menos de um ano pelo 80 pessoas ligadas ao crime já aceitaram Jesus através de sua mensagem.
Para alcançar os ex-colegas de crime Ferreirinha tem contado com a parceria de missionários da igreja Assembleia de Deus ministério Belém, liderada no Acre pelo pastor Luiz Gonzaga. O empresário Regimar da Radar é um desses parceiros. Para fazer a mensagem chegar nos criminosos o ex-comandante do tráfico usa da coragem e vai até as “bocas”. Quando chega lá, diz ele, “chamo os manos e digo: gente já chega. Vamos pra Jesus”, e a maioria tem aceitado o convite. Ferreirinha espera adquirir ainda mais experiência no evangelho para conquistar mais pessoas naquele mundo de onde veio. “Deus me livrou até hoje exatamente para isso”, diz, se achando predestinado. Hoje o ex-traficante não tem mais nenhum dos bens que adquiriu com o dinheiro solapado no crime. Mora de favor, inclusive, mas garante: “Não tem preço estar com Jesus. É melhor com Ele liso, mas ter esperança de salvação e viver em paz, do que rico e aperreado, sem dormir, e ainda arriscado ir para o inferno”, conclui.