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Opinião: “Seu emprego e os robôs do futuro”

Por POR JOSÉ PIO

A educação e os temas que lhe são pertinentes têm povoado as notícias e as discussões sobre o futuro do Brasil. O mau desempenho dos estudantes brasileiros nos testes internacionais tem sido constante, justamente quando se sabe que, para o país superar a pobreza e sair do clube das nações subdesenvolvidas, a escolaridade média e o grau de qualificação profissional precisam melhorar muito. Essa situação tem posto em xeque o sistema educacional e levantado o problema de por que o aprendizado tem sido tão baixo tanto na educação básica (ensino fundamental e ensino médio) quanto na educação superior (profissionalizante).

O quadro se apresenta cada vez mais grave, a partir da constatação de que hoje há no país um gigantesco desperdício de força de trabalho, retratado nos seguintes dados: 12,7 milhões de desempregados, 4,8 milhões de subempregados (aqueles que trabalham jornadas médias inferiores a oito horas diárias) e 5 milhões de desalentados (os que perderam o emprego, não conseguiram outro e desistiram de procurar). A soma desses três grupos dá 22,5 milhões de pessoas desocupadas ou subocupadas, equivalentes a um quinto dos 104 milhões de brasileiros em condições de trabalhar.

/Foto: Reprodução

Esse um quinto dos brasileiros fora do processo produtivo formal representa uma gigantesca massa de força de trabalho que, embora consumindo, não está contribuindo para aumentar o produto brasileiro. A coisa, porém, é mais grave. Mesmo que a recessão seja superada e a economia se recupere, o crescimento do produto total do país pode não ser suficiente para absorver todo esse enorme contingente de trabalhadores ociosos e, no curto prazo, efetivamente não será. As razões são várias.

O futuro exigirá que os empregos sejam ocupados pelos trabalhadores do conhecimento.

Por volta de 1800, a humanidade fez a primeira revolução tecnológica moderna, com a invenção da máquina a vapor, do trem de ferro, da estrada de ferro e do navio a vapor. A produtividade/hora do trabalho explodiu, o padrão de vida melhorou e, em 1830, a humanidade chegou a 1 bilhão de habitantes. Entre 1870 e 1900, a segunda revolução tecnológica assombrou o mundo com a invenção do motor a combustão (esse dos automóveis, caminhões e ônibus), a indústria do petróleo e com a mais importante invenção de todos os tempos: a eletricidade. Em 1930, a população dobrou e atingiu a 2 bilhões.

Entre 1960 e 2010, a terceira revolução tecnológica nos dá o computador, a internet, a telefonia celular e milhares de máquinas. A vida melhora e a humanidade entra no terceiro milênio com 6,3 bilhões de pessoas. Hoje, somos 7,4 bilhões. Em 2050, seremos 9,4 bilhões. Atualmente, o mundo está na quarta revolução tecnológica, entre 2015-2040. O homem tem duas habilidades: a habilidade física e a habilidade cognitiva. A habilidade física é, como o próprio nome diz, derivada dos braços e da força física. A habilidade cognitiva é a capacidade de pensar, analisar, dominar a natureza, inventar, sentir, comunicar, trocar e ter emoções, e ela deriva da mente, do cérebro, da consciência e da inteligência.

Em todas as revoluções tecnológicas anteriores, as máquinas competiram com o homem nas habilidades físicas, a exemplo dos robôs que substituíram o operário nas fábricas. Agora, na quarta revolução tecnológica, a explosão de conhecimento e de técnicas na inteligência artificial, na biotecnologia e na disrupção tecnológica está levando ao surgimento do robô sapiens, capaz de substituir o homem nas habilidades cognitivas. A inteligência artificial criará máquinas capazes de executar funções cognitivas e reproduzir emoções humanas.

Uma das consequências, como diz o escritor Yuval Harari, é que o mundo poderá criar uma “enorme classe sem utilidade”. Certamente, a humanidade inventará novos produtos, novos processos, novas necessidades, novas tarefas e novos empregos. Uma coisa é certa: o futuro exigirá que os empregos sejam ocupados pelos trabalhadores do conhecimento, e diploma poderá servir para concorrer a cargo público, mas não bastará para ter um emprego na economia moderna.

O nível de educação e o grau de qualificação profissional é que dirão se você estará apto ou não para desempenhar as novas funções. Domínio da língua, habilidade de leitura e escrita, domínio da matemática, raciocínio lógico e pensamento analítico serão atributos exigidos não em nível elementar, mas em nível razoavelmente avançado. O sistema educacional será julgado pela capacidade de dotar os estudantes desses atributos, não por quantos diplomas distribui. A aprendizagem de alta qualidade terá de ocorrer desde os primeiros anos do ensino fundamental, pois, na fase de profissionalização, em escola técnica ou na universidade, é quase impossível corrigir as deficiências de aprendizagem nos anos de educação básica. Aí está o desafio.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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